sábado, 28 de dezembro de 2019

INTERPRETAÇÃO DE VOZES

Há sempre um leve sorriso pela desgrça das pessoas que invejamos. (Framziska Baumgarten (1889 – 1970)


Um cego que vivia junto ao templo de “Bankei”, um mestre de Zen, na China, disse a um amigo:
“Desde quando fiquei cego, não posso mais observar o rosto das pessoas e, então, devo procurar entender o caráter delas pelo tom de suas vozes.
No mais das vezes, quando ouço alguém se congratulando com outros pela sua felicidade ou pelo seu sucesso, percebo também uma secreta ponta de inveja.
Por outro lado, quando alguém está expressando o seu pesar pela desgraça dos outros, percebo também uma ponta de prazer ou de satisfação, como se estivesse, na realidade, um pouco contente.
A voz de Bankei, entretanto, desde a primeira vez que a ouvi, foi sempre sincera. Quando ele expressava a felicidade, nunca senti nada que não fosse a felicidade, e quando exprimia dor, essa dor era o único sentimento que eu percebia.”

Tradução e adaptação 
101 storie Zen 
Niogen Senzaki e Paul Reps 
Adelphi Edizioni 
1973 – Milano – Itália

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

EU SOU UMA IGREJINHA


Belo Horizonte, a Capital V 

Igreja da Pampulha - São Fracnisco de Assis


Depoimento da Igreja São Francisco de Assis

Eu sou uma igrejinha. Fui rejeitada tão logo nasci. Sou igrejinha, mas não sou capela. Digo sem petulância: sou esteticamente inovadora, digna representante da vanguarda modernista. Paguei caro por isso. Digo mais: sou bonita. Posso dizer meu nome?
Eu sou a Igrejinha da Pampulha, a Igrejinha de São Francisco de Assis da cidade de Belo Horizonte. Revelo meus traços biográficos, pois me considero hoje, integrante da Mitra Arquidiocesana da cidade.
Fui concebida pelo então prefeito, Juscelino Kubitschek de Oliveira, na década de 1940, e projetada por um tal de Oscar Niemeyer, jovem e ousado arquiteto que ninguém conhecia na época.
Pois esse arquiteto, com sua gangue de profissionais, fez surgir um arrojado projeto arquitetônico para ser implantado na região da Pampulha. Éramos quatro irmãos que viriam a nascer na região. Meu irmão mais velho, o Cassino, foi festejado logo ao nascer e jogava dinheiro a rodo nas suas roletas. Em seguida, surgiu o Iate Golfe Clube que foi logo apossado pela alta sociedade. Em terceiro lugar, veio a Casa do Baile, majestosa e irreverente. Finalmente, eu, a caçula. Pequena e humilde, mas arrojada, me instalei frente à grande represa de 18 km de perímetro. Grande e silenciosa é essa lagoa. Toda lagoa é silenciosa. Não como os rios que são cavalos em fúria, disparados para o mar. Fiquei em paz com essa lagoa.
Ainda informo que um jovem artista plástico, de nome Cândido Portinari,  veio e me cobriu com azulejos de cor azul e branca, cheios de aves e peixinhos do mar. Lancei moda, claro. Entretanto, no meu interior, ele pegou seu pincel e foi me decorando. Pintou um mural atrás do altar em homenagem ao meu patrono, um tal de São Francisco de Assis, santo pobretão, protetor de gente pobre e de animais. Fiquei nessa de ser protegida por santo pobre. Minha sina. Ainda por cima, ele desenhou um santo de olhos muito arregalados, mãos rudes, num tom marrom, meio apagado. Ainda, em vez dos lobos de São Francisco, resolveu desenhar um cachorro amarelo, sentado, em transe de escuta total, admirando a figura do santo. Foi minha sina.
O prefeito, todo contente comigo, convidou o arcebispo da cidade para combinar o meu batismo.
Mural de Portinari na parte posterior externa 

Estava me esquecendo de contar que o tal de Portinari ainda pintou os quadros da Via Sacra, quer dizer, o caminho de Jesus até a sua crucificação, e todos esses quadros dentro do modelo modernista avançado. Também o prefeito encomendou ao escultor Ceschiatti o batistério em bronze pra mim. Se não houvesse batistério, como é que eu poderia ser batizada?
Pois assim foi. O arcebispo gostou de tudo que via à minha volta. Sorria e o prefeito ficava cada vez mais empolgado comigo. Ele gostava muito de mim e sempre me prestigiou demais. Entretanto, quando o arcebispo entrou no interior, foi logo sentindo um baque emocional. O rosto dele crispou. Seu sorriso apagou quando viu a cara e os braços de São Francisco. Não foi só. Concentrou sua visão no tal cachorro amarelo, no fundo do altar, no grande painel maravilhoso. Quase caiu pra trás. Repudiou tudo e disse palavras horrorosas para o prefeito. Despediu grosseiramente e tirou o time de campo. Agora, quem estava desolado era o meu querido protetor, o prefeito.
Com isso, não fui batizada. Fiquei 17 anos condenada. O arcebispo foi claro e categórico: “Nunca, nada, nessa caixa do Juscelino.” Foi um gol contra!
Foi o meu desastre.
Agora digo que o prefeito esperou esses 17 anos silenciosamente. Quando faltava um ano para terminar o seu mandato como presidente da República, articulou-se como o novo arcebispo, dom João de Resende Costa, para me salvar das garras da condenação e alcançar o meu batismo efetivo, dentro da santa madre Igreja. Dom João foi claro. Vou consultar e dou resposta. Tudo certo.
O presidente tinha prometido a minha doação à Mitra Arquidiocesana. Seria a minha salvação, a minha glória. Eu estava ficando velha, sem fazer nada nesta vida. Marcaram o dia do meu batismo com inauguração solene, marcada para o dia 11 de abril de 1959. Eu me enfeitei toda, arrogante e maravilhada, como sempre. Essa doação foi aprovada pela Câmara de Belo Horizonte, mediante proposta do vereador Celso Melo de Azevedo, por unanimidade. O atual prefeito, Amintas de Barros, sancionou a lei de doação, imediatamente. Agora, senti firmeza.
Chegou a hora do meu batismo. A população de Belo Horizonte compareceu e fez-se uma multidão ao redor de mim. Perdi o fôlego. Eu sou pequena, e a entrada teve que ser restringida a autoridades civis, religiosas e militares. Todas as bancadas estavam cheias de gente de alto gabarito.
O presidente estava no primeiro banco. Dom João de Resende Costa iria celebrar uma missa no meu altar, pela primeira vez da minha vida. Coral e cantores escolhidos.
Sim... Tudo elegantemente dimensionado.  Algumas palavras de entusiasmo do presidente e dom João iniciou a celebração da missa. Silêncio, concentração, meditação, louvor a Deus, a Jesus, ao meu patrono São Francisco de Assis. Tudo certinho e emocionante.
Eis senão quando, no momento mais efusivo da santa missa, entra pela nave principal um cachorro, vindo não se sabe de onde. Penetrou na igreja e, atravessando a pequena nave, foi postar-se bem em frente ao altar, justamente onde estava o presidente, ladeado pelas altas autoridades do estado.
Era um velho cachorro amarelo, vira-lata, com uma ferida no dorso. Cachorro de rua mesmo. Sem dono, perdido. Esse cachorro ficou imóvel, ao lado do meu protetor, Juscelino. Ergueu a cabeça, observando o ambiente. Em seguida, extasiado pela música do órgão, assentou-se no chão, com a cabeça sobre as patas dianteiras. Deve ter achado tudo muito bonito e bem organizado. Assim ficou quieto durante algum tempo. Mesmo nessa posição, percebia-se que tinha os olhos postos no seu irmão de raça, que se destacava na parede, ao lado da imagem de São Francisco de Assis. Eu fiquei pasma. Como isso poderia acontecer nesse momento tão solene? Quebrar o brilho da minha consagração? Salve-me, São Francisco!!! Nessa hora, pedi proteção ao meu patrono.
Tudo isso constituiu uma cena patética, emocionante. O pobre animal, perdido no meio da multidão, observava com interesse a figura do seu semelhante, pintado por Portinari.

Painel do altar mor - pintado por Portinari

Ele, esse cachorro velho e amarelo se identificava com o outro, da mesma cor, da mesma conformação física, dos mesmos olhos grandes e compassivos. O cão do painel não era diferente dos demais cães. Dava a impressão de que flutuava, já que seus pés não tocavam o chão. O cachorro visitante assistia a parte da cerimônia religiosa e, quando achou melhor, foi saindo silenciosamente, como tinha entrado. Nenhum ruído. O silêncio era total. Como um nobre, ele foi se afastando, até a porta de saída.
O ex-prefeito de Belo Horizonte sentiu a cena e reviveu momentos de dificuldades na sua vida administrativa. “Pobre igrejinha!” Teria ele dito. “Meu pensamento sempre esteve aqui.” Por que isso teria acontecido? Por que esse cachorro foi postar-se logo ao lado do Presidente?     
Fiquei imaginando como os olhos de Juscelino foram buscar tantas lágrimas ao recordar o primeiro contato com o arcebispo. Agora, havia uma mensagem misteriosa, presenciada por todos. Juscelino, muito emocionado, agradeceu a São Francisco de Assis. Lembrou-se, ainda, do templo desse mesmo santo em Diamantina, onde seu pai foi enterrado. Memórias que voltaram à sua mente. Mensagem de carinho, de conforto e de perdão.  
Eu, no meu canto, gritava de alegria porque estava agora, e para sempre, a serviço das almas de todos os que me procurarem. Depois de 17 anos, chegou o meu dia festivo.
Lembro-me de que meu patrono sempre foi um pobretão, protetor também dos animais e lembro-me ainda de que esse velho cachorro vira-lata também devia ser devoto de São Francisco. Ele teria vindo como emissário de agradecimento e de amizade, para pedir proteção. Ou deve ter vindo em missão!!!

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

AS IGREJAS CATÓLICAS

Belo Horizonte, a Capital IV 

Os templos da religião católica, erigidos na Cidade de Minas, em estilos diversificados foram inaugurados na década de 20. Foi a década do renascimento da fé católica na Capital, mesmo sem os cuidados arquitetônicos da CCNC. (Comissão de Construção da Nova Capital) .


A nova Capital, Belo Horizonte, manteve a sua tradição de religiosidade, trazida de Ouro Preto. Nessa antiga capital foram erigidos vários templos da religião católica, em estilo barroco em todo o seu esplendor. Na antiga vila de Curral del-Rei existiam templos religiosos de construção precária e não condizentes com a nobreza arquitetônica imposta pela CCNC (Comissão de Construção da Nova Capital). Foi tomada a decisão condenatória: demolir todos os templos existentes. Isso foi feito de modo adequado, mas algumas vezes sofrendo reação popular.

Igreja da Boa viagem 
Antiga Matriz da Boa Viagem do Arraial do Curral del Rey - Largo da Matriz em 1894. Fonte: APCBH Acervo CCNC

A matriz da Boa Viagem, ou melhor, Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem de Curral del-Rei, foi construída pela população, por etapas, mas com muita devoção e carinho. Era antes uma capela de taipa, de capim, tosca. Com o tempo, foi passando por reformas improvisadas, sem um plano disponível, mas obedecendo às necessidades imediatas de adaptações constantes.  Tornou-se um templo de maiores dimensões, frequentemente utilizado para atos religiosos, satisfazendo às demandas da população que crescia e se envolvia em atividades do comércio e da agropecuária. 
Isso mesmo! A antiga capela de Nossa Senhora da Boa Viagem trazia consigo uma história bem fundamentada de um piloto da nau de Dom João V (1689 – 1750) que naufragou nas cercanias da ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 1709. Era o piloto da nau o senhor Francisco Homem del-Rei, que conseguiu retirar o nicho com uma imagem de Nossa Senhora da Boa Morte e guardou-a, trazendo-a sempre consigo. 
Mais tarde, chegando ao povoado de Curral del-Rei, iniciou a construção de uma capela para abrigá-la, tendo essa imagem como guia e padroeira. Tanto tempo passou, tendo a decisão de tornar essa capela em confortável templo de orações. Trabalho continuado e persistente. Assim, a matriz teve a provável conclusão, apontada para os anos de 1775/1776. Já não era uma simples capela, mas a matriz da freguesia de Curral del-Rei. Teve pois a sua missão de abrigar as almas religiosas por mais de um século. 
Agora, chegou a Comissão Construtora da Nova Capital com o objetivo definido quanto à estrutura arquitetônica da Cidade de Minas que não admitia a permanência de edificações em estilo colonial nem barroco. Assim, a matriz foi condenada à demolição, juntamente com todas as outras edificações religiosas existentes. De onde partiu essa decisão? Na primeira tentativa de demolição, as demais edificações religiosas católicas tombaram e a matriz da Nossa Senhora da Boa Viagem permaneceu por mais alguns anos, mediante a intervenção popular e a diocese de Mariana. 
Mesmo assim, estava condenada e a sua parte frontal foi demolida em 1911. Para substituí-la, foi iniciada a construção de uma catedral, estilo neogótico, em 1912. Ainda inacabada, em 1923, ela foi inaugurada, disponibilizando-se para atos religiosos, substituindo a velha matriz. 
Era pensamento firmado da Comissão Construtora da Nova Capital não deixar vestígios de Curral del-Rei, numa obstinação compulsiva contra o estilo colonial barroco. De quem partiu essa decisão? Com isso, nada ficou desse povoado, iniciado por João Leite da Silva Ortiz. Restou apenas a fazenda do Leitão, ou fazenda do Cercado. Cruel reminiscência, ou esquecimento, para as decisões da CCNC. Poderiam ainda não se perdoar por esse esquecimento, por esse lapso, deixando de pé essa gloriosa edificação memorial. Hoje tornou-se o monumental Museu Histórico Abílio Barreto, com centenas de documentos que confirmam o passado do velho povoado. Esta fazenda do Cercado, hoje museu, é uma edificação que fala por si mesma, assombrando as demais edificações em estilo moderno que a rodeiam. Pressente-se que o espaço interno desse museu deva ficar livre e desimpedido para permitir a passagem dos visitantes no roteiro interno das edificações coloniais. O varandão, as salas, os corredores devem estar livres de outros objetos que não pertençam à época. O museu fala por si. 
Outros templos erigidos na Cidade de Minas, em estilos diversificados foram inaugurados na década de 20. Foi a década do renascimento da fé católica na Capital, mesmo sem os cuidados arquitetônicos da CCNC. 

Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, em estilo neogótico, foi inaugurada em 1923. 

Igreja São José, iniciada em 1902, foi inaugurada em 1913, estilo neomanoelino, padres redentoristas holandeses. 

Basílica de Lourdes, inaugurada em 1923, mesmo inacabada. 

Igreja de São Sebastião, inaugurada em 1923. 

Igreja Nossa Senhora das Dores, bairro da Floresta, inaugurada em 1927. 

Igreja de Santa Teresa e Santa Teresinha, no bairro de Santa Teresa, foi inaugurada em 1930.

Igreja de são Francisco das Chagas, no bairro Carlos Prates, foi inaugurada em 1936.

Igreja de Santa Efigênia dos Militares foi inaugurada em 1923. 

Igreja de Santo Antônio, inaugurada em 1936. 

Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na av. Carandaí, 1010, foi inaugurada em 1925. 

Foram mantidos os critérios firmemente impostos, tanto que os templos religiosos surgidos mantiveram-se longe do estilo barroco. Os templos religiosos católicos de Belo Horizonte acompanharam os ideais republicanos da época.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

VIADUTO SANTA TERESA


Belo Horizonte, a Capital, III


O Viaduto Santa Teresa, projetado e construído pelo engenheiro, Emílio Baumgart, em 1929, é obra arquitetônica de arte que vai romper os séculos pela sua beleza e pela sua rigidez estrutural. Belo Horizonte tornou-se uma capital que não cultiva velharias. Não foi construída nenhuma obra que se aproximasse do estilo barroco ou colonial, que eram do gosto da época. Belo Horizonte não tem velharias, não tem cheiro de mofo e nem tem teias de aranha. Mesmo com a economia em dificuldades pela construção de uma nova Capital, e com as despesas da transferência de todos os funcionários públicos de Ouro Preto, antiga capital, mesmo assim, foram sendo realizadas obras fundamentais. E esta cidade-capital iria exigir muito mais em finanças e obstinação, para a concretização de um plano arrojado e excessivamente ousado para a época. As pessoas têm que entender que não foi fácil construir esta cidade-capital, Belo Horizonte, num período estipulado em quatro anos.

Pois nesse ano de 1929, o então presidente do estado, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada (1870 – 1946) inaugurou um viaduto monumental, na cidade de Belo Horizonte, denominado VIADUTO DOS VIAJANTES e posteriormente, VIADUTO SANTA TERESA. Cristiano Machado (1893 – 1953) era o prefeito nessa época. Não se trata apenas de um simples viaduto urbano. Trata-se, como disse antes, de um monumento arquitetônico de arte, adequado aos interesses da população. Imaginar que esta nova cidade, com apenas 32 anos de fundação, já construiu, com recursos do estado, uma obra desse porte. Ele passa por cima do rio Arrudas, da Avenida do Contorno e das linhas da estrada de ferro da Central do Brasil (EFCB), de uma só vez, além de fazer a ligação do centro da cidade com os bairros Santa Teresa e Floresta, muito habitados.Tem a extensão de 400 metros de comprimento, com dois arcos laterais de 14 metros de altura. Tudo em cimento armado. Torna-se, pois, o maior vão de cimento armado da América Latina, para essa época. Tecnicamente perfeito. Elegante, majestoso, imponente. Além do seu valor utilitário, representa um marco para a autoestima dos novos moradores da cidade. 

Emílio Henrique Baumgart, (1889 – 1943), natural de Blumenau (SC)
Filho do imigrante alemão Gustav Baumgart e de Mathilde Odebrecht, também filha de imigrante alemão. Pois o engenheiro projetista, devidamente graduado, montou no Rio de Janeiro, no ano de 1925, o primeiro escritório de engenharia, especializado em estruturas de concreto armado do Brasil. E teve sucesso como inovador e como competente profissional. Pois esse Viaduto Santa Teresa, projetado e construído por ele, é obra de arte que vai romper os séculos pela sua beleza e pela sua rigidez estrutural.

Viaduto Santa Tereza - 1930

Num passeio por ele, à tardinha, olhando lá de cima, vêm-se a praça da estação, a Serraria Souza Pinto, a Avenida dos Andradas, o Parque Municipal, a Avenida Assis Chateaubriand. Perde-se a memória em imagens do tempo, nas lembranças mais profundas. Nele se fazia o footing (passeio) nas belas tardes fagueiras. As moças desciam do bairro da Floresta e de Santa Teresa para um passeio, um desfile de ida e volta, ao longo do viaduto, vendo os rapazes que se punham a admirar cada uma delas. O sol ia se pondo, as luzes elétricas se acendiam e a modernidade chegava num estalar de dedos. Tempos gloriosos vividos nessa jovem cidade, inaugurada em 12 de dezembro de 1897, bela e realmente moderna. Penso até que o seu projetista Aarão Reis (1853 – 1936) teve algum mérito ao decidir a demolição, sem dó nem piedade, das choupanas de Curral del-Rei, como ele dizia, para fazer surgir das cinzas uma cidade realmente moderna e majestosa. Este aspecto caracteriza bem a capital, Belo Horizonte. Nenhuma obra nela foi construída que se aproximasse do estilo barroco ou colonial, que eram do gosto da época. Belo Horizonte não tem velharias, não tem cheiro de mofo e nem tem teias de aranha.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

OS GRUPOS ESCOLARES


BELO HORIZONTE, A CAPITAL II

Com essa iniciativa, foi dada a partida para a oficialização do ensino público no estado. E o que representou tal iniciativa para a época? Uma revolução educacional!


João Pinheiro da Silva (1860 – 1908) 

Foi o primeiro presidente do estado de Minas Gerais, eleito pelo povo, em 1906, após o governo instalar-se na nova Capital, Belo Horizonte, e no Palácio da Liberdade. Ele substituiu o doutor Crispim Jacques Bias Fortes, (1847 – 1917), o governador-presidente que efetuou a mudança da Capital. João Pinheiro levantou a bandeira da educação, como meta de seu governo. A educação era um dos ideais e princípios republicanos. Na sua obstinação, criou os GRUPOS ESCOLARES, um modelo de ensino fundamental, com proposta para ser realizada num curso em quatro anos letivos. Com essa iniciativa, deu a partida inicial para a oficialização do ensino público no estado. E o que representou tal iniciativa para a época? Uma revolução educacional. Esta meta vingou. Os seus Grupos Escolares se espalharam pelos municípios do estado. João Pinheiro da Silva é considerado, pois, como o governador que introduziu o ensino público em Minas Gerais, ao instituir esses Grupos Escolares. Com isso, implantou o modelo de responsabilidade do Estado pela educação. O primeiro estabelecimento – GRUPO ESCOLAR – foi implantado na cidade de Diamantina, no ano de 1906. (Decreto n. 2.091, de 20 de setembro de 1907). ) Dona Júlia Kubitschek, mãe do ex-presidente, Juscelino, era uma das professoras do município e seu filho, na época, tinha quatro anos de idade. João Pinheiro teve o cuidado de projetar até os modelos dos bancos das escolas, as carteiras, como eram chamadas.
O governador-presidente teve morte repentina no Palácio da Liberdade, em 25 de outubro de 1908, vítima de câncer linfático, aos 48 anos de idade, consequentemente, não concluiu o seu mandato. Ficou o Palácio da Liberdade com o sentimento de perda total. O povo do estado de Minas Gerais ficou órfão, juntamente com a sua família, seus 12 filhos. Todos ficaram órfãos, também, da sua ousadia administrativa, da sua visão do grande futuro do estado e, sobretudo, da sua fraternidade republicana. Deixou amigos como herança para a sua família, que cotizaram para adquirir uma casa para a viúva e os filhos. Um deles, Israel Pinheiro, estudou de favor, e tornou-se mais tarde, em governador do estado de Minas Gerais.

O primeiro grupo escolar de Diamantina iniciou seus trabalhos em um prédio adaptado, situado à praça Conselheiro Matta, n. 11, onde funcionou a Escola Normal Oficial até 1906 e atualmente sedia a Câmara Municipal de Diamantina.



terça-feira, 5 de novembro de 2019

BELO HORIZONTE, A CAPITAL

“Olhando para vocês, vi um belo horizonte!” - exclamou o papa João Paulo II, (1920 – 2005), no dia 1º. de junho de 1980, na praça Israel Pinheiro, Belo Horizonte, por ocasião da celebração de missa campal para cerca de um milhão de pessoas. A partir desse dia, o povo adotou esse local com o cognome de Praça do Papa, tal a emoção que essa manifestação espontânea e justa emoldurou a autoestima dos belo-horizontinos. Em retribuição imediata, o povo, em coro improvisado, respondeu: “Rei! Rei! Rei! – o Papa é nosso Rei!” E assim, nesse ato memorável, configurou-se um amor à primeira vista. 



Vista aérea de Belo Horizonte - ao fundo Serra do Curral- 2019


Lembrei-me de comentar sobre o primeiro habitante civil destas plagas: JOÃO LEITE DA SILVA ORTIZ. 

Ele chegou a esta região em 1701, vindo não sei de qual região do estado de São Paulo, para fazer não sei o quê. Claro está que ele procurava ouro. O certo é que esse bandeirante aconchegou-se às serras das Congonhas, hoje, serra do Curral e aqui permaneceu durante quase trinta anos.  Os bandeirantes são andarilhos por excelência, mas João Leite da Silva Ortiz achou graça neste local e resolveu permanecer e explorar a região. Assim, seus amigos e companheiros de bandeira procuraram produzir alguma coisa de subsistência, dentro dos padrões mais primitivos de sobrevivência: plantar, colher e comer. Não encontrou ouro na região e resolveu aprofundar sua expedição para o interior do estado de Goiás. Mais tarde, chegou a notícia que ele tinha falecido em 1730, na cidade do Recife. 
Imagine-se que há trezentos anos, neste local, foi iniciada a construção do povoado de Curral del-Rei, que progrediu rudimentarmente também na criação de gado, vindo da Bahia, na plantação de cereais e, posteriormente, até de algodão. Em Contagem das Abóboras, nas proximidades de Curral del-Rei, havia o posto de fiscalização para cobrança de impostos e registro do gado, de modo que corria muito dinheiro na praça. 
Edificaram-se casas muito simples, mas adequadas para as condições sociais e econômicas dos seus moradores da época. Posteriormente, Aarão Reis, 1853 – 1936) o projetista e primeiro construtor da Nova Capital, chamou essas construções de “choupanas”. Mas o povoado tinha crescido e desenvolvido. Foram instaladas fábricas de tecidos em Sabará. Até mesmo iniciativas de fundição de ferro e bronze. A usina ficava nas imediações da lagoa Maria Dias, atualmente entre a Avenida Paraná e Rua dos Carijós. 
Mas, em continuidade, construiu a Fazenda do Cercado. Era a sua sede administrativa, sua residência. Ela ficou. Informo que essa bela fazenda é o único vestígio arquitetônico da passagem dele por esta região. Encontra-se primorosamente conservada e transformada como museu. Hoje, Museu Histórico Abílio Barreto. É um retrato vivo da história da Cidade de Minas, ou melhor, do povoado de Curral del-Rei. Esse museu é uma relíquia que aos tempos confirmará a nossa origem. 

Mudar por mudar - sempre para subir mais um degrau no aperfeiçoamento humano. O que move a humanidade é o inconformismo. 

Foi o presidente Afonso Pena (1847 – 1909), então presidente Conselho do estado, que decidiu que seria construída uma nova capital, pois Ouro Preto, que era a capital, não tinha mais condições de suportar as dimensões de capital do estado. Daí por diante, o sol nunca brilhou tão intensamente na ardente mensagem de coragem para o povo mineiro. Não havia mais passagem de volta. Assim, Augusto de Lima (1859 – 1936) já tinha sugerido o local, em 1891. 
A primeira mensagem foi enviada ao Congresso Estadual em 17 de abril de 1891, propondo a mudança. Os ouro-pretanos achavam impossível esse empreendimento. 
Mas, onde seria mesmo plantada essa nova capital? Havia várias indicações bem fortes para definição do local, principalmente a várzea do Marçal, vizinha a São João Del-Rei.  A região do vale do rio das Velhas, na decisão final, venceu e foi publicada a mensagem do Congresso Legislativo a Lei de mudança da capital. 
Uma decisão política, mas, antes de tudo, centrada em estudos técnicos para a plena viabilidade. E esta região, no povoado denominado Curral del-Rei, por apenas uma pequena margem de vantagens técnicas, foi considerada a região escolhida pelo destino para ser a Belo Horizonte. 
Nessa época, não havia tratores e, consequentemente, os trabalhadores tiveram que empregar esforços mais do que dobrados. Houve grande movimentação de terra, abrindo ruas, avenidas e praças. Havia trabalhadores estrangeiros especializados na construção dos palácios administrativos. Outra coisa a comentar seria a atuação dos opositores à mudança da capital de Ouro Preto para outro lugar qualquer que fosse, mesmo ainda não definido. Para toda ideia que surja e que implique em mudança, existem opositores, sempre bem armados de argumentos fortes. Os ouro-pretanos se armaram de argumentos, reunindo forças contrárias à mudança, forças políticas desafiadoras. Arregaçaram-se as mangas da camisa e saíram em defesa da permanência da capital em Ouro Preto, cidade muito amada. 
Na verdade, um dos fortes argumentos criados pela oposição era a constatação de que grande número dos moradores do povoado de Curral del-Rei, local escolhido para a construção da capital, sofria de bócio. Seria o clima, ou a água da região? Não havia estudos comprobatórios. Pois não é que havia mesmo na região alguma coisa que parecia uma epidemia de papudos, isto é, de pessoas que tinham um tipo de deformação física denominada de bócio?  Diziam que era causado pelo clima. Talvez que o ar ou a água da região contaminava os moradores, e coisa e tal. 
Por outro lado, havia outras regiões, além desta do Vale do rio das Velhas, que pleiteavam a instalação da nova capital. Formaram-se os grupos que defendiam essas regiões. Eram grupos de mudancistas. Pleiteavam mudanças para a sua região. Uma dessas facções de mudancistas, uma delas, a mais forte, era a região próxima a São João del-Rei, que relembrava o imaginário dos inconfidentes.  Assim, nas decisões finais, tendo como grande defensor Augusto de Lima, Curral del-Rei venceu por dois votos apenas, considerando-se a sua localização como um ponto equidistante de todas as regiões do estado. Não seria totalmente equidistante, mas o ponto geográfico que facilitaria a comunicação com todas as regiões do estado. Argumento muito forte.
Afonso Pena (1847 – 1909) não perdeu tempo. Criou logo a Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC) pela Lei n.3, art. 2º., adicional à Constituição do estado, em 7 de dezembro de 1893.  Confiou a coordenação da construção ao engenheiro Aarão Reis (1853 – 1936). Prazo para a construção da nova capital? Quatro anos.  Quando essa Comissão Construtora da Nova Capital arranchou no povoado de Curral del-Rei, encontrou uma região com moradores tradicionais por assim dizer, habitada desde 1701. Propriedades urbanas e rurais. Havia na época, no povoado, 172 casas residenciais, 4.000 habitantes, 8 ruas, 16 pontos comerciais, 31 fazendas, 1 farmácia, 2 pontos de escolas, 2 largos ou praças. Vários engenhos. Era um povoado já com mais de cem anos de existência.  Houve a decisão do chefe da Comissão Construtora: destruir tudo para começar tudo de novo. Porquê? Eis a questão. Ideais republicanos de construir uma capital dentro dos padrões estéticos da modernidade. Mas, prejuízos generalizados. A quem recorrer? Acontece que grande extensão de terras da região já pertencia ao estado. Os moradores passaram, então, a serem admitidos como operários da Comissão Construtora, numa forma de suavizar prejuízos. 
Na ocasião, chegou a 6.000 operários na construção da Nova Capital. E grandes problemas para a gerência das obras. Conflitos. Derrubar até os templos religiosos tradicionais da vila. Aarão Reis não resistiu até o final da obra e pediu exoneração. Foi substituído pelo engenheiro Francisco Bicalho que gerenciou a obra até o dia de sua inauguração, dentro do prazo estabelecido.  Imagine, como era o regime de trabalho da época, após a abolição da escravatura. Alimentação para esses trabalhadores, habitação, saúde, nesse planalto vazio de recursos? Com muito sofrimento humano, sofrimento incalculável, como sempre, nesse curto espaço de tempo, a cidade floresceu. Veja que Brasília foi construída em três anos e oito meses. 

Meu pensamento vagueia pelos idos de 1890
Imagine que os engenheiros e arquitetos projetaram esses palácios monumentais, com toda a papelada em plantas com detalhes técnicos, dentro dos padrões de uma arquitetura avançada, num estilo condizente com a filosofia e gosto da época, estilo neoclássico, meio art-nouveau. E tinham ainda que projetar as plantas das conexões hidráulicas e elétricas. Novidade para o mundo moderno. Água encanada. Eletricidade. Criar e equalizar um estilo arquitetônico em contraste total ao colonial e barroco. Nada que traduzisse influência de Ouro Preto. Tudo novo e moderno. Entusiasmo e petulância. 
A nova república, instalada em 1889, impunha avanço tecnológico para elevar a qualidade de vida, sempre procurando um grau a mais, um degrau avançado no desenvolvimento humano, da ordem e do progresso. Uma república, uma recente república, numa visão positivista, inspirada e configurada nos ideais dos governantes da época, atraídos pela filosofia de Augusto Comte (1798 – 1857). Afonso Pena era presidente do estado, entre o período de 1892 a 1894. Lembramos que Afonso Pena foi o primeiro governador/presidente do estado eleito por voto direto. 
Imprimia-se agilidade memorável nas decisões e na efetivação dessas decisões. Empolgação total. Assim, para confrontar essas mudanças, vou fazer algumas referências à capacidade de adaptação do povo mineiro. Tantas mudanças ocorreram muito rapidamente, que não havia tempo nem para pensar duas vezes. Logo depois da saída de Afonso Pena do governo do estado, foi substituído por Crispim Jacques Bias Fortes (1847 – 1917). E o presidente Bias Fortes administrou o impossível, na opinião dos céticos. Uma cidade saída do papel e em quatro anos resplandecia ao alvorecer do século XX. Como isso foi conseguido? Mudanças, já.  Doutor João Pinheiro, não achava que tal iniciativa era grande demais para um estado, sozinho, enfrentar e chegar vitorioso no novo século. Não se tinha apego a tradições inúteis. O século XX estava batendo às portas. Mudanças! A Cidade de Minas, a Capital do estado de Minas Gerais foi solenemente inaugurada em 12 de dezembro do ano de 1897. Brilhantes festividades. Hoje, infelizmente, não se comemora a sua data de inauguração.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

IMPLANTAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA EM BELO HORIZONTE

O principal propulsor da ideia de implantação da Faculdade de Medicina em Belo Horizonte, a nova Capital do estado de Minas Gerais, foi o dr. Cícero Ferreira. É considerado o primeiro médico que atuou profissionalmente na nova Capital, mesmo antes de sua inauguração oficial em 1897.


Denominações: Faculdade de Medicina de Belo Horizonte (1911); Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais (1927); Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (1965) 

Nesse período de construção da nova Capital de Minas Gerais, dr. Cícero Ferreira assumiu vários cargos isoladamente, enfrentando problemas sanitários, na Prefeitura de Belo Horizonte, com população de operários imigrantes, italianos, portugueses e espanhóis principalmente. Também operários, sem a devida qualificação, chegavam à Capital todos os dias, aumentando desproporcionadamente a população que vivia sem as condições adequadas de higiene e saúde pública.
Não havia registros de óbitos e o enterro de pessoas mortas era em qualquer lugar. Preferencialmente num local que hoje ocupa o Banco do Brasil, rua Rio de Janeiro com rua Tupis. Covas rasas e mal-cuidadas.
A fagulha da criação da Faculdade de Medicina foi lançada em 1902, quando se criou uma Sociedade de Medicina, Cirurgia e Farmácia. Foi levantada essa bandeira, quando o médico e senador, dr. José Pedro Drummond, juntamente com dr. Silviano Brandão (1828 – 1902) deram apoio a essa iniciativa. Dr. Silviano Brandão tomaria posse como Vice-Presidente da República. Com tais recomendações, dr. Cícero Ferreira, aliado a outras personalidades, tomou a frente desse projeto. Entretanto, dr. Silviano Brandão veio a falecer antes mesmo de sua posse. Essa sociedade, acolhida com tanta efervescência, foi lentamente perdendo força, até que foi extinta algum tempo depois.
Em 1906, assume a Presidência da República o mineiro, Afonso Augusto Moreira Pena (1847 – 1909), quando foi autorizada a criação da Faculdade de Odontologia em 1907. Tal iniciativa recriou uma expectativa da criação também da Faculdade de Medicina.
Entretanto, houve muitos opositores à criação da Faculdade de Medicina, principalmente, pelo próprio diretor da recém-criada, faculdade de Odontologia, Fernando de Carvalho Soares Brandão e pelo jurista, ex-ministro do Presidente Prudente de Morais e ex-presidente do Estado do Rio de Janeiro. Este último veio armado de fortes argumentos contra essa implantação, considerando uma execrável ideia a criação de uma faculdade de Medicina em Belo Horizonte. (Diário de Notícias, 23 março de 2011). Para o debate pela mídia, era forte a presença de Aurélio Pires.
Na ocasião, havia no país 5 faculdades de engenharia, 8 de direito, 3 de medicina. (RJ, Bahia e Porto Alegre). Esta última tinha sido inaugurada em 1898. Durante 18 anos de vida republicana, apenas uma faculdade de medicina tinha sido implantada no país. A fundamentação básica dessa criação foi o projeto elaborado pelo dr Cícero Ferreira, “Vantagens e inconveniências da implantação de uma Faculdade de Medicina em Belo Horizonte”, encaminhando-o a uma comissão de médicos da capital, dr. Cornélio Vaz de Melo, dr. Hugo Werneck e dr. Zoroastro Alvarenga. O parecer dessa comissão foi imediato. Não existem inconveniências e sim uma necessidade urgente. Daí pra frente, novos colaboradores se reuniram em apoio à criação da faculdade. Cícero Ferreira foi eleito o primeiro diretor encarregado de elaborar os estatutos e as providências decorrentes.
Em 1911, na ocasião da inauguração da Faculdade, havia em BH 38.000 habitantes e 40 médicos. 91 pequenas indústrias, instaladas na região da rua da Bahia até Cristóvão Colombo e no Barro Preto, até av. Barbacena e na Praça da Estação. Os bondes elétricos, com várias linhas, inaugurados em 7 de setembro de 1902, faziam conexão em frente ao Bar do Ponto, (av. Afonso Pena com rua Tupis, onde fica o hotel Othon Palace), e atraiam os passageiros em aglomerações naquele local. Além disso, ali acontecia a vida cultural, com o teatro Soucasseaux em plena atividade, Ao lado o teatro de Variedades e o teatrinho Paris. Era a efervescência cultural da nova Capital. Ainda o famoso relógio público. A população exigia o acompanhar da tecnologia. Com pouco tempo, instalaram-se 30 linhas de bondes.
Onde funcionaria a Faculdade de Medicina inicialmente? No edifício Thibau, que ainda está lá, firme, na rua Espírito Santo com av. Afonso Pena, ao lado da igreja São José

O Corpo Docente da Faculdade era composto de:
  • Cornélio Vaz de Melo, Anatomia Médica e Cirurgia 
  • Eduardo Borges Ribeiro da Costa, Clínica Cirúrgica
  • Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues, Medicina Legal
  • Olyntho Deodato dos Reis Meireles, Farmacologia
  • Honorato Alves, Oftalmologia e Otorrinolaringologista
  • Hugo Furquim Werneck, Ginecologia e Obstetrícia
  • Zoroastro Rodrigues Alvarenga, Higiene 
  • Antônio Aleixo, Clínica Dermatológica e Sifilográfíca
  • Samuel Libânio, Clínica Médica, 2ª.Cadeira 
  • Ezequiel Caetano Dias, Microbiologia 
  • Alfredo Balena, Clínica Médica 
  • Otávio Machado, Clínica Pediátrica e Cirúrgica, Ortopedia e Higiene Infantil
  • Aurélio Pires, com justificada ausência.
A Faculdade iniciou o funcionamento efetivo em fevereiro de 1912, pagando aluguel de 300 mil reis mensais, com 113 alunos sendo 104 de Medicina, 6 de Farmácia, e 3 de Odontologia. A aula inaugural foi proferida pelo dr. Zoroastro Rodrigues de Alvarenga, no dia 8 de abril.
O presidente do estado, Julio Bueno Brandão (1858 – 1931) fez a doação de uma área de 24.972m², destinada à construção do prédio da nova Faculdade, desmembrada do Parque Municipal, dando frente para a antiga avenida, Mantiqueira. Foi registrada no cartório Tabelião Ferraz, em 7 de abril de 1913. A pedra fundamental foi batida pelo professor dr. Miguel Couto, que esteve presente em todo o cerimonial de inauguração, no dia 20 de julho de 1911. A construção do prédio foi orçado em 2 contos e oitocentos mil reis, sob a responsabilidade do arquiteto, Francisco Izidro Monteiro, cujo projeto foi inspirado na escola de medicina de Paris.
A ata da 1ª. Reunião dos membros fundadores da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte foi datada aos 26 de março de 1911.
Para as solenidades, estavam presentes, além do Presidente do Estado, Júlio Bueno Brandão, o prefeito de Capital, dr. Olyntho Meireles, presentes o médico, dr. Miguel Couto e o pesquisador, médico, dr. Carlos Chagas, além personalidades da população da capital.

Fonte
Lara, Mário. Cícero Ferreira - O legado – vida e obra do grande empreendedor. Imperial Novo Milênio, Rj, 2017

sexta-feira, 19 de julho de 2019

ESPELHO, ESPELHO MEU!



"Viver é envelhecer, nada mais."
Simone de Beauvoir



ESPELHO, ESPELHO MEU!

Espelho, espelho meu! Que cara é essa?
Nunca me vi assim, tão feio assim
Pois sempre fui belo. Pobre de mim!
E tal pereba agora me remessa?

Dorian Gray apunhalou seu retrato
Enfurecidamente bipolar
Na maldita ânsia de delatar
Tudo que os prazeres lhe tenham dado!

O tempo porta a maldição da vida
E traz no seu bojo a melancolia,
Que incrimina a ventura consentida.

Só restam esses farrapos de agonia
Que o remédio pra essa vida falida
É desprezar a somatognosia.


sexta-feira, 28 de junho de 2019

É PRECISO PRENDER O LEITOR

O autor tem que se postar como delegado. Algemas virtuais e muito conforto nos cárceres. As chaves ficam com os carcereiros. Saídas só com habeas corpus. Buscá-lo em casa, sem aviso prévio, sempre que houver novo flagrante.





Autor – Bom dia, leitor! Poderia me esperar um minutinho?
Leitor – Bom dia, mas estou com pressa. Como estou de férias, vou pegar um sol no clube. Estou de saída.
Autor – Tenho um assunto importante para discutir com você. Houve um acidente com o cachorrinho do Miguel na rua Campo Sales.
L – E você chama isso de assunto importante? Vou ter que sair.
A – O cachorro era vira-lata, mas amigo íntimo do garoto de 10 anos. O Miguel fazia dele um irmão. E o cachorro era um fiel companheiro.
L – Essa história é antiga.
A – O garoto carregou o cachorro para dentro de casa e colocou-o com cuidado num balaio, forrado por uma toalha de banho. O cachorro apenas gemia baixinho e o Miguel soluçava.
L – Sem novidade! Estou perdendo meu tempo, meu sol.
A – O pai do Miguel estava no trabalho e não podia atender. A mãe tentou confortar. Miguel decidiu levar o cachorro a um hospital veterinário. Onde? Como? Miguel, apressado. Seu amigo podia morrer. Não sangrava, mas estava com ossos quebrados. Apenas gemia e tinha os olhos vidrados, sempre fixos no Miguel, como se estivesse pedindo socorro.
L – E esse vira-lata tinha nome?
A – Era o Chibom. E o Miguel tomou a decisão imediata. Levar o Chibom a uma clínica e salvá-lo. A mãe não permitiu que ele fizesse isso sozinho.
L – Garanto que esse vira-lata morreu!
A – É verdade. Miguel tinha dinheiro guardado, chamou um táxi e desapareceu, carregando o Chibom numa cesta. A mãe nem tinha percebido a fuga dele. O taxista se comoveu com os seus passageiros e encontrou uma clínica nas imediações. Miguel ficou sozinho na porta da clínica. Protocolo. Nome, CPF, endereço, etc, etc... Miguel explodiu: “enquanto respondo, o Chibom está sofrendo. É caso de urgência”. Finalmente, chegou o veterinário, examinou e foi logo dizendo: “não há nada a fazer. Está morto”. E o garoto: “Não pode! Tem que fazer alguma coisa!” “Se quiser, pode deixá-lo aqui, para cremação.” “Isso nunca. Chibom é meu amigo.”
L – Isso tudo é papo furado.
A – Nesse momento, chega o pai do Miguel. “tudo acabado, pai.” Miguel não chorava, mas suas lágrimas rolavam sem a sua autorização. E o pai: “Não tem importância, filho. Compro outro cachorro pra você”. “Não tem importância, pai? O Chibom é meu amigo e eu não vou trocá-lo por nada.” “OK. Tudo bem, deixe o cachorro na clínica e vamos para casa.” “Deixar o meu amigo morto na clínica? Isso, nunca. Quero levar para casa”. E o pai: “Levar cachorro morto pra casa? Isso fica difícil, filho!”. Miguel sentenciou: “Nunca abandono meu amigo. Sei que ele fazia tudo por mim. Quero ficar com ele. Não abandono meu amigo”.
L – E levaram o cachorro morto pra casa?
A – O pai não teve alternativa. Pegou o balaio com o cachorro para colocá-lo no carro. Miguel pulou na frente: “eu mesmo carrego.” Não aceitou ajuda do pai.
L – Vai me dizer que teve velório de cachorro?
A – Claro! Com velas e flores. À noite, luzes apagadas. Miguel deitou no chão, perto do Chibom e adormeceu. Chegaram colegas e a sala encheu. Foi quando uma amiga da mãe telefonou. “Alcione! Que aconteceu? Estamos esperando você para o meu aniversário e até agora! Esqueceu-se de mim?” Claro que não, Flora. Aconteceu um desastre. Estamos num velório aqui em casa.” “O quê? Que aconteceu, meu Deus. Me fale logo.” O Miguel está em prantos o dia inteiro e agora, armamos o velório com orações e luzes apagadas.” “Meu Deus! Estou estarrecida e não estou sabendo de nada. Vamos para sua casa agora. Nossas amigas vão também.”
L – Velório de cachorro vira-lata?
A - Quem diria, amigo leitor, quem tem amigo não morre sozinho.
L – Grato por esta fábula. Ainda dá tempo de eu ir a uma piscina hoje ainda. Estou livre?.




domingo, 23 de junho de 2019

SURPRESAS NO BATE-PAPO

A vida não é perfeita... é criativa... cheia de gambiarras... 
Nada acontece por acaso, nosso destino está de acordo com nossas escolhas e méritos.
O Destino sabe brincar com a gente, se encarrega de transformar toda ação em reação

(*)Chat ou sala de bate-papo é um serviço oferecido por inúmeros servidores pelo qual os usuários podem conversar com várias pessoas ao mesmo tempo. Para utilizá-lo não é necessário nenhum software especial. Os chats são utilizados para várias fins. Porem ninguém está seguro e livre de armadilhas no mundo moderno. Atualmente existem vários aplicativos para trocar mensagens, vídeos, fotos, documentos. Tudo fica disponível a todos.


Trecho do livro Em nome do filho

Cuidado com essas garotas no bate-papo. Elas entram na internet e dizem que fazem de tudo, mas, no fundo, no fundo, estão buscando dinheiro, ou chantagem. Depois, elas vão dizer quanto cobram por uma transa rápida, a domicílio. Aí, você entra bem! E você ainda é um jovem menor de idade. Que poderá ter acontecido, depois deste bate-papo?

No dia seguinte, Nicácio estava despreocupado no seu repouso, em casa, que só se lembrou da Sissi às 5 horas da tarde. Como ele estava sozinho, resolveu brincar um pouco e abriu o computador. Logo que entrou nesse bate-papo, ela, a famosa Sissi, já estava de plantão e entrou rachando:

“Tem mais de uma hora que eu estou te esperando. Estava trabalhando. E esse tal de trabalho é mais importante do que eu? Claro que sim. Grosseiro que vc é. Então vou sair. Não, espere que eu tenho outras coisas pra complementar o que vc precisa ouvir. Sim... pode falar. Não sei por que estou conversando ainda com vc. Fiquei esperando, procurando vc em todas as salas. Por que vc fez isso? Porque me comprometi de chegar à net às 4 horas. Lembra? Lembro. Então? Então o quê? Vc ainda tem coragem de perguntar? E se eu estivesse na rua te esperando? Ia arranjar um novo namorado pra conversar. Eu já tenho namorado. Então, tudo fica na mesma. Vc pensa assim? Posso fazer uma pergunta? Pode. Vc quer namorar comigo? Não. Vc é muito grosseiro. Não, sou franco. Só por que eu sou morena? Não é somente por isso, eu não moro nesta cidade, estou indo embora na segunda-feira. Está indo embora para o fim do mundo? Não, minha cidade fica aqui perto. Então? Que desculpa ainda quer dar? Eu trabalho demais na minha cidade e não tenho tempo. Vc é um gato muito bobinho. Trabalhar não mata ninguém. Mas eu estudo e trabalho com meu pai. Mentira. Verdade. Então vc já é um homenzinho? Responsável e trabalhador? Claro que sou. Eu não te falei que era menor de idade, pois já tenho 28 anos. Então eu fiquei mais ligada a vc. Não gosto de garoto que fica na rua, com fone no ouvido o dia inteiro. Trabalhar é minha vida. Gostei de vc, quer casar comigo? Eu não vou casar. Não vou casar com ninguém. Pensa que eu não sei que vc está procurando uma loura branquela? Só porque eu sou morena. Na verdade eu gosto de louras. Eu sou morena, mas sou bonita e gostosa. Não provei isso ainda, portanto, não sei. Não prova porque não quer. De longe, como é que eu vou provar? Vem à minha casa. Nunca. Nunca? Não sei onde é esse tal de bairro Planalto. E se soubesse? Se soubesse teria que pensar. Vc é um garoto sem iniciativa. Pode ser que seja. Eu sou mais ousada do que vc. Pode ser. As mulheres têm que ser ousadas. Melhor assim. Os homens ficam parados, indecisos. Alguns. Alguns, não. Todos. Eu também? Vc principalmente. Que andar vc mora? 15º. E qual o número do apartamento? 1516. Amanhã de tarde eu vou aí. Isso é loucura. Quando eu gosto de alguma coisa eu gosto mesmo e assumo. Eu não posso receber visitas. Por que não pode? O ap. não é meu. Mas vc está tomando conta. Está pensando que eu vou roubar alguma coisa de vc? Não, não é isso. Tem medo das minhas armadilhas? Não. Gosto da sua armadilha e dos seus laços e fitas, mas deixe para a outra vez que eu vier aqui. Não, amanhã ou nunca. Então, nunca. Enganador. Diz que gosta da minha armadilha e agora cai fora. Não, não é isso. Ou vc não gosta de mulher? Não, não é isso. Gosto das armadilhas das mulheres e sempre entrei de cara. Gosta de garotas? Claro que gosto. Já teve uma garota na cama? Pergunta indiscreta. Já? Responda. Claro que já. Não tenho dezesseis anos. Já disse que tenho 26. Tem 26 ou 28? Já disse. Já transou com garotas? Claro. Sim, por que esse espanto? Vc também não transou com seu namorado? Quem te disse isso? Vc me contou ontem. Eu contei? Contou e disse que seu namorado não tinha compromisso com vc. Sei que vc é fofoqueiro demais. Fica perguntando e anota tudo. Nada disso, presto atenção nas suas palavras. Vc está interessado em mim? Claro que estou. Se não estivesse não estaria conversando com vc esse tempo todo. Será que vc vai gostar de mim? Sei que vc é morena. Assim pode não estar nos meus planos. Vc é racista? Por que vc quer saber? Pergunto. Não respondo. Então é verdade. Não é verdade, não me importo com essas coisas, sou superior a essas questões, tenho a minha ideia da vida e quero continuar. Por isso, gosta de louras branquelas? Não sei por que, mas isso é questão de preferência apenas, não quer dizer nada. Então vc não transaria com uma negra? Depende. Depende de quê? Depende da hora e do lugar. Minha mãe é negra. Sim... e o que tem isso? Tem que eu não sou loura, que eu gostaria de ser pra poder namorar vc. Só pra isso? Não, tem outras coisas. Que coisas? Tenho vergonha da minha mãe. Então vc é que é racista. Minha mãe é muito inteligente. Então, não precisa ter vergonha. Ela trabalha muito. Onde ela trabalha? Ela é curadora do Palácio. Que palácio? Palácio da Liberdade, bobinho, aqui só tem um. E o que é curadora? Ela é a gerente-geral administrativa. Deve ganhar uma nota. Nada, vivo sempre precisando de coisas e ela, miserável, não me dá. Vc deve ser muito exigente. Sou pobre, pobre. É mais rica do que eu que não tenho nada. Não tem porque não quer, se quisesse ia me ter nos seus braços. Calma, menina, eu sou um touro na cama, vc vai se assustar comigo. Oba! Está melhorando. Vou aí, se a minha mãe for trabalhar cedo. Aqui eu não posso te receber, não tem nem cadeira, só tem cama. Melhor assim. Acho que a minha mãe não vai trabalhar amanhã, assim, depois de amanhã, sexta-feira eu vou te visitar. Não faça isso. Eu não posso ser responsabilizado por nada, como disse, eu sou um touro e fico bufando à toa. Isso mesmo. Vou sair. Meus amigos estão chegando. Que pena, amanhã, às quatro horas? Talvez. Talvez, não, com certeza, preciso de vc. Ok, adeus. Adeus, não, bjim, bjim. Bjão, bjão. Fui.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

21 DE ABRIL DE 1792 – TIRADENTES, O HERÓI

Capa do livro Tiradentes- Coleção 
Coletânea de Entrevistas Virtuais Minas Gerais Gente Que Fez a História do Brasil.
Joaquim José da Silva Xavier, ou simplesmente Tiradentes, o Mártir da Inconfidência Mineira
Lutou pela liberdade e contra exploração.


Tiradentes envolveu-se, juntamente com personalidades civis, militares e religiosas de Ouro Preto, no sentido de libertar o Brasil do jugo do colonizador português. Foi denunciado, preso durante três anos no Rio de Janeiro, julgado por uma corte de juízes portugueses e condenado a morte pela rainha D. Maria I de Portugal. Para tanto, seus companheiros foram condenados ao exílio perpétuo. Tiradentes foi enforcado em praça pública no Rio de Janeiro e esquartejado a machado, no local, em 5 partes que foram fincadas em postes altos nas estradas do estado de Minas Gerais. O dia do seu enforcamento, 21 de abril, é o feriado nacional. 

Mas, finalmente teve que confessar!
Eis uma versão imaginária de um depoimento de Tiradentes, frente a um juiz inquisidor, na busca de sua possível confissão como chefe da conspiração de Vila Rica:
“Não fale essa palavra confessar! Nada tinha a confessar. Poderia relatar as ocorrências, mas nunca em forma de confissão policial. Não cometi um deslize sequer que acusasse a minha consciência, o meu foro íntimo. Tudo em plena convicção em louvor à minha pátria. Mas o tribunal me pressionou mais uma vez. “Você é o cabeça do motim da capitania de Minas Gerais! Você é o louco da sedição! Você convocou e convenceu até estrangeiros! Você é um covarde, alferes traidor de sua Majestade! Todos os seus companheiros, padres, juristas, militares, mineradores, empresários são unânimes em confirmar que suas palavras inflamadas levaram todos à desgraça, ao infortúnio, ao sofrimento sem limites! Confesse, traidor!.” Prosseguiram mais acusando do que perguntando. Na minha vez, respondi: “Projetei, sim, o levante para criar uma pátria livre e rica! Sempre neguei, mas não foi por covardia. Não queria implicar meus amigos e companheiros justamente para preservar a integridade de cada um deles. Todos me ouviam, me incentivavam e me acompanhavam. Tudo neguei por eles! Pelos meus amigos! Digo, agora, diante destas circunstâncias, com a clareza das minhas convicções – sim, é verdade que eu premeditava esse levante. É minha a ideia. Planejei tudo sozinho! Tenho a fronte erguida para os meus ideais de uma pátria livre e independente do jugo português! E queiram os senhores juízes deste tribunal ou não, mais hoje, mais amanhã as sementes germinarão e o Brasil será uma das maiores nações livres do mundo! Livre do jugo de quem quer que seja! Esta é a minha convicção inabalável. Nunca uma confissão! Não ocultarei a mais leve coisa da verdade. Faltar a ela seria me desculpar, o que não o faço e nunca farei!” 

O povo brasileiro reverencia o alferes Tiradentes como, de fato e de direito, o PATRONO CÍVICO DA NAÇÃO BRASILEIRA, PATRONO DA POLÍCIA MILITAR E CIVIL DO BRASIL E PROTOMÁRTIR DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL.

quinta-feira, 28 de março de 2019

ANCORAGEM

Todas as vivências de uma pessoa são registradas no cérebro. As mais importantes ficam ancoradas e as demais ficam disponíveis num lixão mental, para eventual evocação. Nada é descartado definitivamente.


Ancoragem é termo náutico. Âncoras são instrumentos necessários às embarcações para paradas estratégicas. Daí a sua força como modelo a ser usado para significar também uma parada técnica nas ações do pensamento humano.
Nada mais comum é uma pessoa dizer: “estou ancorado nesta empresa há dez anos”. Uma metáfora perfeitamente inteligível. A abrangência desta metáfora vem produzindo efeitos diversificados no pensamento humano. 
Uma lembrança, qualquer que seja, pode ficar ancorada na mente de uma pessoa, por um motivo que somente ela vai saber por quê. Essa lembrança ancorada é revivida, acoplada a outro acontecimento. Assim, sempre que essa pessoa passa em determinado local, sua mente é assaltada por essa imagem ancorada. Esses momentos ancorados, essas lembranças são acessadas por uma quantidade de fatores inimagináveis. Um som, uma paisagem, uma fotografia, um vento, um sol ou uma noite estrelada, um perfume. Cada estímulo produz uma lembrança ancorada, isto é, relembrada com a emoção específica.
A ancoragem é uma das técnicas da PNL (Programação Neurolinguística), utilizada para criar ou modificar respostas associadas à um estímulo. Inconscientemente estamos expostos à ancoragem, por exemplo, quando ouvimos uma música e nos emocionamos, porque ela nos faz lembrar de alguém ou de uma situação importante. Quando ouvimos essa melodia, nossas emoções retornam no tempo e voltamos a sentir a mesma coisa do passado. Sentir um perfume ou aroma pode nos fazer lembrar algo distante e nos fazer voltar ao mesmo estado emocional dessa época.
Tal fato não diz que as vivências diárias são esquecidas. Aquelas que forem julgadas sem importância ou relevância são jogadas num lixão mental e aí ficam disponíveis para eventuais acessos. Nada pode ser considerado perdido da memória. Poucas pessoas podem se lembrar da cor de sua escova de dentes que usava no ano anterior. Isto significa que essa pessoa tinha uma escova de dentes mas a característica dela foi deletada. A voz de uma pessoa ao telefone pode ser identificada imediatamente. Ancorada e revivida num momento.
Uma aplicação psicológica da ancoragem pode ser criada para efeitos diversos. Por exemplo: marca-se um ponto qualquer do corpo para acessar uma lembrança desejada. Assim, todas as vezes que se tocar nesse ponto, vai se lembrar do que foi imaginado. Pessoas há que fazem um anel de papel de guardanapo enrolado, que coloca num dos dedos para se lembrar mais tarde de um acontecimento previsto, a compra de um presente para o aniversário de alguém. Outras, fazem uma pinta com a caneta sobre o dorso de uma das mãos para não se esquecerem de algo de deverão fazer na sua jornada. Outras, ainda, fazem tantas marcas de tinta que custam a se lembrar do que representam, mas estão consignadas.


Fatos desagradáveis acontecidos com as pessoas têm ancoragem garantida. Tal ancoragem torna-se um martírio e motivo de abatimento, de depressão ou de fobia. Luta-se para se livrar delas, por meio de técnicas de terapia breve, com efeitos imediatos. 


Referências
Apostilas do curso de Master em PNL do professor Walter di Biasi
Zeig, Joffrey K. Seminários didáticos com Milton H. Erickson. Livraria, editora, promotora de eventos. Campinas SP, 1995
Debates e discussões de participantes do curso sobre a ANCORAGEM     


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