terça-feira, 22 de outubro de 2019

IMPLANTAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA EM BELO HORIZONTE

O principal propulsor da ideia de implantação da Faculdade de Medicina em Belo Horizonte, a nova Capital do estado de Minas Gerais, foi o dr. Cícero Ferreira. É considerado o primeiro médico que atuou profissionalmente na nova Capital, mesmo antes de sua inauguração oficial em 1897.


Denominações: Faculdade de Medicina de Belo Horizonte (1911); Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais (1927); Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (1965) 

Nesse período de construção da nova Capital de Minas Gerais, dr. Cícero Ferreira assumiu vários cargos isoladamente, enfrentando problemas sanitários, na Prefeitura de Belo Horizonte, com população de operários imigrantes, italianos, portugueses e espanhóis principalmente. Também operários, sem a devida qualificação, chegavam à Capital todos os dias, aumentando desproporcionadamente a população que vivia sem as condições adequadas de higiene e saúde pública.
Não havia registros de óbitos e o enterro de pessoas mortas era em qualquer lugar. Preferencialmente num local que hoje ocupa o Banco do Brasil, rua Rio de Janeiro com rua Tupis. Covas rasas e mal-cuidadas.
A fagulha da criação da Faculdade de Medicina foi lançada em 1902, quando se criou uma Sociedade de Medicina, Cirurgia e Farmácia. Foi levantada essa bandeira, quando o médico e senador, dr. José Pedro Drummond, juntamente com dr. Silviano Brandão (1828 – 1902) deram apoio a essa iniciativa. Dr. Silviano Brandão tomaria posse como Vice-Presidente da República. Com tais recomendações, dr. Cícero Ferreira, aliado a outras personalidades, tomou a frente desse projeto. Entretanto, dr. Silviano Brandão veio a falecer antes mesmo de sua posse. Essa sociedade, acolhida com tanta efervescência, foi lentamente perdendo força, até que foi extinta algum tempo depois.
Em 1906, assume a Presidência da República o mineiro, Afonso Augusto Moreira Pena (1847 – 1909), quando foi autorizada a criação da Faculdade de Odontologia em 1907. Tal iniciativa recriou uma expectativa da criação também da Faculdade de Medicina.
Entretanto, houve muitos opositores à criação da Faculdade de Medicina, principalmente, pelo próprio diretor da recém-criada, faculdade de Odontologia, Fernando de Carvalho Soares Brandão e pelo jurista, ex-ministro do Presidente Prudente de Morais e ex-presidente do Estado do Rio de Janeiro. Este último veio armado de fortes argumentos contra essa implantação, considerando uma execrável ideia a criação de uma faculdade de Medicina em Belo Horizonte. (Diário de Notícias, 23 março de 2011). Para o debate pela mídia, era forte a presença de Aurélio Pires.
Na ocasião, havia no país 5 faculdades de engenharia, 8 de direito, 3 de medicina. (RJ, Bahia e Porto Alegre). Esta última tinha sido inaugurada em 1898. Durante 18 anos de vida republicana, apenas uma faculdade de medicina tinha sido implantada no país. A fundamentação básica dessa criação foi o projeto elaborado pelo dr Cícero Ferreira, “Vantagens e inconveniências da implantação de uma Faculdade de Medicina em Belo Horizonte”, encaminhando-o a uma comissão de médicos da capital, dr. Cornélio Vaz de Melo, dr. Hugo Werneck e dr. Zoroastro Alvarenga. O parecer dessa comissão foi imediato. Não existem inconveniências e sim uma necessidade urgente. Daí pra frente, novos colaboradores se reuniram em apoio à criação da faculdade. Cícero Ferreira foi eleito o primeiro diretor encarregado de elaborar os estatutos e as providências decorrentes.
Em 1911, na ocasião da inauguração da Faculdade, havia em BH 38.000 habitantes e 40 médicos. 91 pequenas indústrias, instaladas na região da rua da Bahia até Cristóvão Colombo e no Barro Preto, até av. Barbacena e na Praça da Estação. Os bondes elétricos, com várias linhas, inaugurados em 7 de setembro de 1902, faziam conexão em frente ao Bar do Ponto, (av. Afonso Pena com rua Tupis, onde fica o hotel Othon Palace), e atraiam os passageiros em aglomerações naquele local. Além disso, ali acontecia a vida cultural, com o teatro Soucasseaux em plena atividade, Ao lado o teatro de Variedades e o teatrinho Paris. Era a efervescência cultural da nova Capital. Ainda o famoso relógio público. A população exigia o acompanhar da tecnologia. Com pouco tempo, instalaram-se 30 linhas de bondes.
Onde funcionaria a Faculdade de Medicina inicialmente? No edifício Thibau, que ainda está lá, firme, na rua Espírito Santo com av. Afonso Pena, ao lado da igreja São José

O Corpo Docente da Faculdade era composto de:
  • Cornélio Vaz de Melo, Anatomia Médica e Cirurgia 
  • Eduardo Borges Ribeiro da Costa, Clínica Cirúrgica
  • Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues, Medicina Legal
  • Olyntho Deodato dos Reis Meireles, Farmacologia
  • Honorato Alves, Oftalmologia e Otorrinolaringologista
  • Hugo Furquim Werneck, Ginecologia e Obstetrícia
  • Zoroastro Rodrigues Alvarenga, Higiene 
  • Antônio Aleixo, Clínica Dermatológica e Sifilográfíca
  • Samuel Libânio, Clínica Médica, 2ª.Cadeira 
  • Ezequiel Caetano Dias, Microbiologia 
  • Alfredo Balena, Clínica Médica 
  • Otávio Machado, Clínica Pediátrica e Cirúrgica, Ortopedia e Higiene Infantil
  • Aurélio Pires, com justificada ausência.
A Faculdade iniciou o funcionamento efetivo em fevereiro de 1912, pagando aluguel de 300 mil reis mensais, com 113 alunos sendo 104 de Medicina, 6 de Farmácia, e 3 de Odontologia. A aula inaugural foi proferida pelo dr. Zoroastro Rodrigues de Alvarenga, no dia 8 de abril.
O presidente do estado, Julio Bueno Brandão (1858 – 1931) fez a doação de uma área de 24.972m², destinada à construção do prédio da nova Faculdade, desmembrada do Parque Municipal, dando frente para a antiga avenida, Mantiqueira. Foi registrada no cartório Tabelião Ferraz, em 7 de abril de 1913. A pedra fundamental foi batida pelo professor dr. Miguel Couto, que esteve presente em todo o cerimonial de inauguração, no dia 20 de julho de 1911. A construção do prédio foi orçado em 2 contos e oitocentos mil reis, sob a responsabilidade do arquiteto, Francisco Izidro Monteiro, cujo projeto foi inspirado na escola de medicina de Paris.
A ata da 1ª. Reunião dos membros fundadores da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte foi datada aos 26 de março de 1911.
Para as solenidades, estavam presentes, além do Presidente do Estado, Júlio Bueno Brandão, o prefeito de Capital, dr. Olyntho Meireles, presentes o médico, dr. Miguel Couto e o pesquisador, médico, dr. Carlos Chagas, além personalidades da população da capital.

Fonte
Lara, Mário. Cícero Ferreira - O legado – vida e obra do grande empreendedor. Imperial Novo Milênio, Rj, 2017

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