domingo, 12 de julho de 2015

PARADIGMA


Até os dogmas caem, como impérios caíram. Paradigmas, do casamento ao divórcio, modelos, normas, regras, convenções, princípios e valores, mais hoje, mais amanhã, estarão quebrados ou substituídos, sem piedade. 



Entre os gregos é o fluxo do pensamento. O pensamento voa. E tudo gira ao redor disso mesmo, ainda hoje, com as variações das próprias tendências do pensamento. Por onde gira o pensamento? E o pensamento tem cadeira giratória cativa ao vento. A cada hora sopra para um lado diferente. E o ser humano tem que se adaptar a isso, no que se diz: quebrar paradigmas o dia inteiro.É duro quebrar um paradigmas. São os moldes adquiridos e confirmados, a serem destronados de um momento para outro, ardentemente admitidos como ideais, devem ser substituídos, em favor da continuidade da vida, da ciência, das relações sociais. É o fluxo do pensamento.A natureza nunca pediu licença a ninguém. A morte de um ente querido provoca imediatamente uma transformação total numa família. Quebram-se todos os paradigmas. Reorganização total. 
A década de sessenta está caracterizada como a que proporcionou a maior violência na quebra de paradigmas sem a menor consideração com os costumes vigentes. A pílula anticoncepcional, por exemplo, trouxe mudanças radicais na vida das mulheres e nas contingências circunstanciais. Paradigma é fluxo de pensamento, padrão, modelo, molde, conceito, referência, limite, exemplo, pressuposto, matriz.Como sair de um círculo de giz que limita, impede ou orienta e define costumes arraigados, aceitos e compartilhados?  Tudo muda. Até os paradigmas devem mudar. Serão criados e substituídos rapidamente. Por quanto tempo vão permanecer? Cada vez serão mais frágeis. O paradigma criado hoje pode desaparecer amanhã. As pesquisas científicas não teriam sentido se não visassem mudanças, alterações, melhoramentos, economia, etc, na busca de soluções para situações, mesmo consideradas aceitas e radicalizadas, como afirma Thomas Kuhn (1922-1996). Buscam quebrar paradigmas. Na linguística, Ferdinand Saussure (1857 – 1913) incorpora paradigmas na semântica das palavras, na relativa interpretação da palavra com a relação com o objeto. Os pressupostas, as crenças, a escala de valores, a técnica, os conceitos compartilhados ou consagrados podem cair por terra, desaparecer ou serem substituídos.
Os estilos da moda, o vestuário em constante alteração, os cortes de cabelo, as tatuagens, o comportamento diário das pessoas, as moradias em apartamentos, os meios de transportes, a tecnologia. Essa mesma tecnologia que cria hábitos e paradigmas tende a quebrar modelos a cada dia. Os usuários estão ávidos por novidades, para jogar o que é velho para o lixo. Não deixa de ser um paradigma que caracteriza uma época. Nada é para sempre. O padrão de continuidade é a constante alteração, a substituição pelo mais novo, mais moderno, mais avançado, chamado de última geração. Existem rupturas de modelos constantemente e não existe apego ou formação de paradigmas. Os tabus caem um a um, dentro da época própria. São verdades incontestáveis que formam o inconsciente dos seres humanos, como uma barreira de cimento que rebate toda ideia contrária, com veemência. Quebrar esses paradigmas é romper laços, normas, regras, modelos configurados na sociedade. E a maneira de pensar, consolidada pelas neuroses e resistências? Essas formas de pensar e agir são modelos vindos desde o leite materno e ficam arraigadas em infinito roteiro de vida. Quebrar esses paradigmas é destruir vidas. As ferramentas precisam ser muito apropriadas para cortes e sofrimento. Geralmente há resquícios que ficam escondidos em cavidades subterrâneas e podem ressurgir pouco a pouco, novamente. Mil medos obstruem o novo, em direção à própria felicidade e à liberdade. Se o amor não fosse tão forte não haveria um casamento, com mudança de paradigma imediata para os noivos, com nova vida em comum, sem limite de tempo.
Se a incompreensão não fosse tão forte, não haveria o divórcio, na quebra de paradigma. E uma pessoa ainda diz: implicam com o meu modo alternativo de ser, meu estilo de vida, acompanhando as modernidades!
Pois é... Quanto mais paradigmas o ser humano criar, mais neurose vai cair sobre a cabeça dele. Regras, normas, conceitos criados e cultivados formam neuroses imbatíveis que um dia serão quebradas. Muitas vezes, uma verdade cristalina não é suficiente para destruir um paradigma. Criado o termômetro interno do “certo e errado”, o ser humano segue seu rumo, sua diretriz. Mas um dia a casa cai. Quanto mais regrinhas e normas de vida, mais neurose. 
Finalmente, as comunidades políticas ou religiosas tendem também em ter seus paradigmas quebrados a cada dia. Ajustamentos e dogmas podem não resistir e serão deletados. E, se políticos, governo e religião não alterarem procedimentos e não mudarem, o cliente, o paciente, o crente muda. Surgem novas formas, novos paradigmas adaptáveis à época, atendendo preferências de correligionários ou fiéis. Quebram-se até os modelos de fidelidade. Até os dogmas caem, como impérios já caíram. Quem não muda desaparece.
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