segunda-feira, 15 de junho de 2020



NO BELVEDERE

Acredite que o meu bairro na cidade de Mingáglia, chamava Belvedere? Fim de rua, gente pobre, gente feia. Mas nem tudo está perdido. Para nós, naquela época, era um paraíso. O pobre nasce pobre sem saber e, mesmo assim,  também é feliz sem saber.

Eu tinha dito que no meu bairro ou favela não tinha nada de belvedere e nada para se ver e admirar, mas tinha sim. Eu me lembrei de uma das casas da vizinhança. Era um bordel, casa de prazer, de perdição, como diziam os moradores da região.
Até aí, tudo certo. Acontece que no nosso quintal havia uma mangueira e um abacateiro, localizados bem junto ao muro do bordel. Era uma casa simples, de três ou quatro quartos, e cheia de mulheres prostitutas.
Os meus dois irmãos mais velhos descobriram a mina e subiam nas árvores e ficavam lá tempo sem fim, admirando as mulheres em volta da piscina, tomando banho de sol.  De lá do alto, gritavam para os irmãos menores:
- Aqui é muito alto. Vocês são pequenos e não podem subir. É muito perigoso.
Eu e meu irmão da mesma idade ignoramos essa advertência, mas essa tentativa de proteção parecia meio fora de propósito. Nós éramos valentes e ousados. O que os dois mais velhos faziam, nós dois também tínhamos que fazer. Por isso, derrubamos essa advertência e subimos lá para as alturas. Surpresa geral. Maravilha de belvedere. As mulheres estavam seminuas, na beira da piscina, tomando sol. Maravilha!! Meu irmão tinha 10 anos e eu ia fazer 11. Ficamos horas sem fim, observando e nos deliciando.
- Oh! Garoto! Joga uma manga pra mim! - gritou uma delas. Uma loura de pernas compridas e bem torneadas.
Aí começou o nosso relacionamento de boa vizinhança. Era manga pra lá e beijinho pra cá. As meninas do bordel encheram uma cesta de frutas. Eu não podia perder a oportunidade e gritei pra uma delas:
- Amanhã eu vou levar um cesto de mangas maduras pra você. Posso ir?
- Vem de tarde, benzinho. Fico esperando você.
Meu irmão menor não ouviu bem o que eu combinava e nem percebeu as minhas mais puras intenções.
Foi assim.  No dia seguinte, fui lá. Os meus irmãos mais velhos já eram fregueses constantes. Para mim, foi a primeira visita. Eu acho que já tinha doze anos. Daí pra frente, eu não queria mais namorar as garotas. Meus olhos tinham outros objetivos mais apurados. Eu não precisava mais de subir nas mangueiras, mas meu irmão menor, toda hora, estava querendo apanhar mais mangas, no alto das árvores. Um dia, já mais sabido, achou que, se subisse no abacateiro, poderia colher outro tipo de fruta e teria uma visão mais ampla.  Minha mãe nunca ficou sabendo disso. Ela apenas dizia que os garotos pequenos eram os mais habilidosos apanhadores de frutas no quintal.
Referência: Alvarenga, Rogério. Em nome do filho. Pag. 27/28, Ed. 3I, Belo Horizonte,Br, 2014.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

BIOTIPOS DA PESQUISA DE SHELDON


WILLIAN H. SHELDON (1989 – 1977) 
Escola biotipológica Americana 
The varieties of human physique (1940) 


É responsável por uma pesquisa, envolvendo somatotipologia que abrange cerca de 5.000 pessoas. Associou os tipos físicos ao temperamento. Definiu três componentes primários no corpo humano que estão presentes em quaisquer indivíduo, vindos como capas embrionárias da fase gástrula: endoderma, mesoderma e ectoderma. A quantificação de cada componente varia de indivíduos, e define a estrutura morfológica e o somatotipo. (Athas of the man – 1954).
Aplica-se uma escala de sete pontos para cada tipo, na variação de 1 a 7. Na ordem de viscerotonia, mesomorfia e extomorfia. Assim, um individuo com viscerononia extrema seria classificado com 7-1-1 (nunca zero) O mesomorfo extremo seria 1-7-1 e o ectomormo seria 1-1-7. O tipo 4-4-4 seria mediano... Já 6-3-2, tem predominância viscerotônica. Com isso, cria-se uma variedade de tipo. Essa classificação pode ser próxima da população mundial masculina, além de outras medidas complementares e aplicação de testes psicológicos de personalidade. Não tem relação com habilidades intelectuais (Obs. A pesquisa utilizou 3 fotos de indivíduos, sem roupa, de frente, de perfil e de costas e houve reação no meio universitário onde foi realizada a pesquisa e a parte feminina teve que ser desprezada, portanto, a pesquisa refere-se a indivíduos masculinos.) 

Os sonetos são criados para homenagear cada biotipo extremo. 

GORDO (viscerotônico 7-1-1 extremo) 

Gordo se ajeita no sofá da sala 
Almofadas, conforto, tradição 
Bom de garfo, só pensa num bom feijão 
Na bondade, só ele mesmo fala. 

Muito emotivo, ele sempre chora 
Abre o coração sem maior pudor 
Para qualquer um, seja lá quem for 
E as mágoas ele afasta na hora. 

Quando os momentos de conflitos chegam 
Quando vê que é perdida a energia 
Busca amigos e todos se congregam. 

Sofre tanto se encontrar nostalgia 
Não quer ficar só se as lágrimas brotam 
Curte bem a viscerotonia 


20 traços de comportamento dos viscerotônicos 

1 Relaxamento de postura e de movimentos 
2 Gosto de comodidade e de conforto 
3 Tempo de reação lento 
4 Prazer na alimentação 
5 Sociabilidade no ato de comer 
6 Prazer na digestão 
7 Tendência às formas cerimoniais e de cortesia 
8 Sociofilia 
9 Amabilidade indiscriminada 
10 Desejo de afeto e de aprovação 
11 Orientado para pessoas 
12 Emotivo e pouco controle emocional 
13 Tolerância 
14 Bom humor, satisfação em conviver 
15 Sono profundo 
16 Solidariedade, bondade, disponibilidade 
17 Extroversão 
18 Relaxamento ao álcool e às drogas 
19 Necessidade de companhia nos momentos conflitivos 
20 Gosto do convívio familiar e de crianças 


O MUSCULOSO (Somatotônico 1-7-1) 

Musculoso bate a cara no muro 
Sem pensar, toma qualquer decisão 
Julga importante a realização 
Faz tudo pelo caminho mais duro. 

A força, a valentia, a aventura 
Os jogos de azar e de disputar 
E tudo que ele faz só quer ganhar 
Rebate e desaforo não atura. 

Quando chega uma louca nostalgia 
Procura alguma coisa pra fazer 
Mexe e remexe gastando energia. 

Vive produzindo e nada perder 
Curte bem a tal somatotonia 
Carrega pedras pra poder viver 


20 traços de comportamento dos somatotônicos 

1 Postura e movimentos rígidos 
2 Gosto pela aventura física 
3 Dotado de energia física 
5 Desejo de dominar e ter poder 
6 Gosto pelo risco e pelo azar 
7 atitudes ousadas 
8 Valor físico para o combate 
9 Agressividade combativa 
10 Insensibilidade psicológica 
11 Claustrofobia 
12 Impulsividade 
13 Descontrole vocal 
14 Indiferença espartana à dor 
15 Barulhento 
16 Aspecto de excessiva maturidade 
17 Extroversão agressiva 
18 Agressividade a coordenações e comandos 
19 Necessidade de ação nos momentos de conflitos 
20 Orientado para atividades juvenis 


O MAGRO (Ectomorfo ou 1-1-7) 

Procura o isolamento na sua toca 
Encontra a paz no silêncio ambiental 
Analista, cria força mental 
Critérios e valores coloca. 

Não pense em bom relacionamento 
Pode parecer que seja nervoso 
Embora traga o coração bondoso 
Tudo percebe e fica ciumento. 

À flor da pele, a sensibilidade 
Ágil no raciocínio imediato 
Gosta de resistir à realidade. 

No seu recanto ele quer de fato 
Ser cerebrotônico de verdade 
Nos seus conflitos fica só e grato. 



20 traços de comportamento do cerebrotônico

1 Postura e movimentos contidos 
2 Respostas tímidas 
3 Reações rápidas 
4 Tendência à intimidade 
5 Supersensibilidade mental 
6 Reserva de sentimentos 
7 Mobilidade dos olhos e do rosto 
8 Sociofobia 
9 Inibição no trato social 
10 Resistência a hábitos e a rotinas 
11 Agorafobia 
12 Atitudes imprevisíveis 
13 Repressão ao ruído, voz baixa 
14 hipersensibilidade à dor 
15 Fadiga crônica, hábitos de sonhos 
16 Modos e aspectos mais juvenis 
17 Introversão 
18 Resistente ao álcool e à droga 
19 Necessidade de solidão nos conflitos 
20 Preocupação com o futuro e etapas posteriores. 

  


sábado, 25 de abril de 2020

GATOS SÓ GOSTAM DE RATOS


GATOS SÓ GOSTAM DE RATOS




Pelo faro, os gatos descobrem ratos
E os ratos dos gatos têm pavor
Surge uma guerra universal de horror
Geneticamente, existem maus tratos.

Não se pode imaginar os motivos
Da mórbida tendência dos felinos
Parece maldição tal destino
Por esses desejos imperativos.

O gatão faz que dorme sossegado
Mas só pensando em sua própria vida.
Seu dono pensa que ele está cansado.

Gato ama, gato trai sem dor sentida
Com desprezo sai, e some calado
Vai e volta sempre sem despedida.

terça-feira, 7 de abril de 2020

SOMATOGNOSIA NA SELVA

Instalou-se um grande espelho na selva, devidamente fixo e armado, em local amplo para a observação do comportamento dos diversos tipos de animais. Mirrors in the jungle, com panorama do comportamento de algumas espécies de animais. 



A percepção do próprio corpo tornou-se um problema do desenvolvimento comportamental entre os animais. Admiração? Fenômeno? Tempos modernos? Eis a questão. Eles se reconheceram rapidamente. 
Os leopardos, diante do espelho, atacam em princípio, depois ficam fascinados e acorrentados ao fenômeno desconhecido. Que bicho é? Não conseguem se afastar. 
Os gorilas procuram estudar esse fenômeno. Os mais fortes e poderosos ameaçam, admiram-se, fazem caretas, se extasiam. É o pânico generalizado. As fêmeas protegem suas crias. E o estresse é estendido à selva. A notícia desse fenômeno se espalha e grandes grupos de gorilas querem ficar sabendo de tudo. 
Do lado de cá, nessa nossa selva, chamada de civilizada, que mensagem pode nos trazer? Humildade em gol, como disse Fio Maravilha, tempos atrás. Ninguém entende ninguém, e todos sabem de tudo... 
A guerra é um fato tão importante que não deve ser entregue somente aos generais. Também a ciência não deve ser entregue somente aos cientistas. 

Que fazer diante do nosso grande espelho?


sexta-feira, 27 de março de 2020

SOMATOGNOSIA? COMO SOU EU?


A visão ou reconhecimento do próprio corpo é o que revela esta palavra misteriosa que vive nos porões da fisiologia humana.


Nunca me vi, como vou saber quem sou eu, diz o Duque, meu cão fila de estimação. Mas o Cauli, o pequenez encrenqueiro, sabe que o Duque é da sua espécie, apesar de ter crescido demais.
Assim, gira a fauna terrestre. Nenhum animal pode dizer que ele é feio ou bonito, porque ele nunca viu a sua própria cara ou o seu próprio corpo. Como é que o Duque vai saber que ele é um cão? Mesmo assim, acontece com todos os animais dessa selva diversificada e abrangente. Agregam-se os animais, por espécies ou raças, uns aos outros que têm os mesmos interesses e preferências pessoais, se admiram, se divertem  ou se combatem, se acasalam e formam as suas famílias, ou seus arrastões.
Um pássaro qualquer, mesmo sem reconhecer a sua identidade, levado do Brasil para a Argélia, encontra lá os seus pares. Eles nunca se viram num espelho e se identificam com CPF e tudo mais. Falam a mesma língua e se comunicam livremente, na maior intimidade. Será que eles estão por dentro das recomendações do grego, Sócrates, (479 – 399) a.C. de “conheça-te a ti mesmo”?
Por outros caminhos, o ser humano tem espelhos mas dificilmente se conhece. Muitas vezes se julgam maiores ou menores, mais feios ou bonitos.
Dorian Grey apunhalou o seu retrato de jovem e de ilustre beleza, de jovem amado por todos e todas. Não aceitou as transformações que a velhice impôs a seu tipo de homem admirado. Não aceitou isso. O conhecimento do corpo, do próprio corpo, causa perplexidade. Eis a verdade do (Gnorízete tó autó), conheça-te a ti mesmo.


O espelho não é suficiente e nem eficaz. O que existe, por detrás dessa imagem, a mente não diz. Eu me vejo assim, mas como os outros me vêem? Há discrepâncias de percepções que não são contabilizadas. Eu me vejo de uma forma e as pessoas, em particular, podem me ver de forma diferente do que eu me imagino.
Essa crueldade de desinformação ainda pode causar maiores danos. Por que motivo o corpo atrai  ou repele interesse de outros. Como reconhecer os pontos nevrálgicos? E a miss Brasil reconhece o grau ou nível de atração de seu corpo? Existe uma aura que vagueia sobre a sua cabeça? Existe um odor, um feromônio envolvendo ou repelindo? Como uma pessoa pode saber se ela não conhece o seu próprio corpo? Mesmo assim, o corpo fala mais alto. Mesmo com todos os espelhos da vida, a somatognosia ainda esconde os seus segredos para si mesma.


domingo, 8 de março de 2020

AUDIOLIVRO JK - BRASÍLIA


Coletânea com 3 audiolivros sobre JK e a Construção de Brasília 


Um dos presidentes mais populares da história do Brasil. Escolhido como o primeiro e maior estadista brasileiro do século XX. Juscelino foi, sem dúvida, uma personalidade de alto nível de habilidade no tratamento interpessoal e desenvolvimentista por natureza. Nunca teve como meta o reconhecimento de sua obra. Sua vida foi uma missão. Cumpriu-a. Era um ser humano que sentia e respirava o respeito e a amizade, acima de tudo. Era preciso ousar, e JK ousou ao anunciar seu programa de governo – 50 anos de progresso em 5 anos de realizações, com pleno respeito às instituições democráticas.


Vídeo 1 = Porque Construí Brasília - 44:40min
Vídeo 2 = Como Construí Brasília - 50:13min
Vídeo 3 = Inauguração de Brasília - 42:27min






terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

JK RELATA SUA MORTE

Jornal da Tarde -O estado de São Paulo- agos/1976

Um dos presidentes mais populares da história do Brasil morreu misteriosamente num acidente, quando lutava pela redemocratização do país. Dúvidas surgidas naquela tarde nunca foram esclarecidas. Poderia tratar-se não de acidente, mas de atentado?


Eis um relato virtual do ex-presidente Juscelino Kubitschk de Oliveira, sobre os acontecimentos de sua própria morte. 

No dia 22 de agosto de 1976, uma tarde de domingo, eu viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro em companhia do meu amigo e motorista, Geraldo Ribeiro quando, no quilômetro 165 da via Dutra, fui vítima de um acidente, com uma fechada de um ônibus da empresa da Viação Cometa. Isso obrigou o Geraldo a sair da pista e colidir com uma carreta que vinha em sentido contrário. Foi um acidente fatal para mim e para o Geraldo, com morte imediata. Nada mais sei. 
Estive em São Paulo na casa da revista Manchete, a convite do meu amigo Adolfo Bloch. Foi ele um amigo até os meus últimos momentos. Faltavam 20 dias para eu completar 74 anos de idade. 
Fui exposto nas mesas de um bar para constatação geral. O corpo do motorista Geraldo foi colocado num caixão de alumínio e lacrado. Parecia já preparado. Depois, meu corpo foi transportado para o Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro. Em seguida, fui removido para o saguão do Edifício Manchete. Sarah e as nossas filhas Márcia e Maristela chegaram ao amanhecer. Os meus amigos começaram a chegar, logo após. O povo já cantava a canção “Peixe Vivo”. Ao meio-dia de 23 de agosto, o cortejo seguiu a pé até ao Aeroporto Santos-Dumont. O meu caixão estava coberto com a bandeira do Brasil. Fui transportado nos ombros do povo do Rio de Janeiro, num percurso que durou mais de uma hora. Ao chegar ao aeroporto, o povo aplaudia emocionado. 

Despedida de JK nos braços do povo - foto: arquivo CB

Finalmente, segui para Brasília! Às 16 horas o BOING PP – VLT da VARIG chegava a Brasília. O povo, emudecido, viu abrirem-se as portas do avião. Silêncio total de 30.000 pessoas que aguardavam no aeroporto.  Aguardando o corpo, estava uma “Kombi”, junto ao BOING, coberta com a bandeira do Brasil. As portas do avião se abriram e apareceu um funcionário da empresa. Fez o sinal-da-cruz.  Meu corpo foi colocado na “kombi” por Ulisses Guimarães e outros amigos diletos. O povo aplaudia sem cessar e sem saber se chorava ou se cantava o “Peixe-Vivo”, desde as 13 horas. Grupos se reuniam, informalmente, em corais emocionantes. O cortejo seguiu lento! 4.000 automóveis! Fila interminável até à Catedral Metropolitana de Brasília, a 20 km de distância! 40 jovens motociclistas, com blusões pretos portavam faixas. O esquife entrou na Catedral, carregado pelo povo. A Catedral era flores e candangos! Eles construíram e agora entraram! Por mais estranho que pareça, estavam felizes por estar perto de mim! Havia centenas e centenas de coroas! Estavam bonitas, no começo. Depois, esses amigos candangos, que não tinham dinheiro para comprar flores, foram arrancando as mais bonitas e jogando sobre o meu caixão. Os cordões de isolamento eram enormes! Uma senhora disse para um militar: “os senhores estão isolando o quê? Tem alguma coisa aqui para ser isolada? Nós viemos buscar o nosso presidente no maior respeito que ele merece! Já não chega esse isolamento de tantos esses anos? Vamos! Tirem essa corda que eu vou passar!” Os taxistas não cobravam as corridas e abaixaram os taxímetros Não cobravam de nenhum passageiro! A missa foi celebrada pelo Arcebispo dom José Newton, pelo Núncio Apostólico Dom Carmine Rocco e mais 25 padres, iniciando às 17h15. Quase não houve missa. Ela foi várias vezes, interrompida por palmas, hinos, lamentações e choro! Do lado de fora, o povo se comprimia com gritos de JK! JK! JK! Sarah pronunciou algumas palavras, recebidas entusiasticamente pelo povo. Pedia calma e prudência! O povo atendeu por alguns momentos, mas, logo depois, era revivida a situação de desespero geral. 

Grupo de motociclista acompanha o cortejo de JK - foto: Fernando Bizerra

Um grupo de índios xavantes de Mato Grosso conseguiu chegar até perto do caixão, colocado bem debaixo dos anjos de Ceschiatti. Um candango, de alma pura, perguntou? “Ele vai ser enterrado?” Fazia sentido essa pergunta? Eram seis horas da tarde quando o meu caixão foi retirado da Catedral. Seria colocado num carro vermelho estacionado. Aí, o povo, os candangos não permitiram e me carregaram nos ombros calejados. O caminho é longo! Vários quilômetros! Mas, em pleno transe, ninguém pensava nisso. Alucinação. Tinha o meu destino: “deitar-me para dormir em paz!” O percurso foi longo e sofrido. Finalmente, de madrugada, na hora das serestas, cheguei ao CAMPO DA ESPERANÇA. Fui sepultado ao lado do meu amigo Bernardo Sayão e a 150 metros do Candango Desconhecido, já horas altas dessa madrugada, no raiar do dia 24 de agosto, sempre carregado pelo povo que não sabia se cantava ou se chorava ou se fazia as duas coisas ao mesmo tempo. Foi isso. Foi assim que me contaram em cartas. Nada mais, penso agora. Ninguém transmitiu pela televisão essas cenas, por falta de coragem ou por imposição, dita legal. 

Aglomeração de milhares de pessoas  na Esplanada para se despedir do ex-presidente JK , o pai de Brasília-  foto: Arquivo CB

Agradeço de coração, mais uma vez, esta derradeira oportunidade de falar ao meu povo! Agora, simplesmente faço parte da história. As minhas palavras revelam muito pouco de tantos acontecimentos da fase da amargura da minha vida. As gerações futuras hão de prosseguir estudos e pesquisas para elucidar fatos que passaram encobertos. Sou grato ao meu povo. Tudo que fiz teve a marca da minha alegria e da festa de minha vida. O sofrimento foi temporário. Fica indelével a mensagem que escrevi quando visitava o planalto central pela primeira vez e impressa, depois, em placa, no Palácio da Alvorada: 

DESTE PLANALTO CENTRAL, 
DESTA SOLIDÃO QUE EM BREVE SE TRANSFORMARÁ 
NO CÉREBRO DAS ALTAS DECISÕES NACIONAIS, 
LANÇO OS OLHOS, 
MAIS UMA VEZ, 
SOBRE O AMANHÃ DO MEU PAÍS 
E ANTEVEJO ESTA ALVORADA, 
COM FÉ INQUEBRANTÁVEL 
E UMA CONFIANÇA SEM LIMITES 
NO SEU GRANDE DESTINO. (JK) 


DECRETO DE CASSAÇÃO DO MANDATO E DOS DIREITOS POLÍTICOS D SENADOR JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA 
Fonte: Diário Oficial, Seção I, Parte I, 8 de junho de 1964. 

Ministério da Justiça e Negócios Interiores 

DECRETO DE 8 DE JUNHO DE 1964 

O presidente da República, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo parágrafo único do artigo 10 do Ato Institucional de 9 de abril de 1964 e tendo em vista a indicação do Conselho de Segurança Nacional, resolve Cassar o mandato legislativo e suspender os direitos políticos por dez anos do senador Juscelino Kubitschek de Oliveira. 

Brasília, 8 de junho de 1964; 143º da Independência e 75º da República. 

H. Castello Branco 
Milton Soares Campos 



BIBLIOGRAFIA
BOJUNCA, Cláudio, O artista do imossível, Objetiva, RJ, 2001
JARDIM, Serafim, JK onde está a verdade?, ed. Vozes, Petrópolis, 2a. edição, RJ, 1999
COUTO, Ronaldo Costa, Brasília Kubitschek de Oliveira, ed. Record, RJ, 2001
KUBITSCHK, Juscelino, Por que construí Brasília, Bloch Editores, RJ, 1975
KUBITSCEK, Juscelino, Meu caminho para Brasília vol III – 50 anos em 5, Bloch Editores, , RJ, 1975
OLIVEIRA, Carlos Alberto Teixeira de, Cinqüenta anos de progresso em cinco anos de governo, ed. Mercado Comum, Belo Horizonte, 2006
NEVES, Aécio, Juscelino a oportunidade e a virtude, in Cinqüenta anos de progresso em cinco anos de governo, Mercado Comum, pág. 217-228, Belo Horizonte, 2006
BAGGIO, Marco Aurélio, Juscelino Kubitschek sua excelência, editora B, Belo Horizonte, 2005
NETO, João Pinheiro, Juscelino um caso de amor, Mauad editora, RJ, 1994
VAZ, Allisson Mascarenhas, Israel, uma vida para a história, Cia Vale do Rio Doce, RJ, 1996



sábado, 22 de fevereiro de 2020

JUSCELINO KUBITSCHEK - O ESTADISTA DO SÉCULO XX

Tornou-se incontestável pela história contemporânea o reconhecimento de que JK representa, com segurança e unanimidade, o título de cidadão do século, no Brasil.


A confirmação foi feita pela revista, Isto é, de dezembro de 1999, mediante opinião de 30 personalidades da vida pública brasileira, tendo sido editada no número 1574, em separado. O júri indicou 30 nomes e foram classificados 20 deles. Jk foi escolhido como o primeiro e maior estadista do século. Não há especificação da metodologia utilizada, mas ficaram também classificados, por ordem de escolha, Getúlio Vargas, em segundo lugar, Ulisses Guimarães, em terceiro e Tancredo Neves em quarto. Seguem-se, por ordem de escolha, as seguintes personalidades: Luiz Carlos Prestes, Betinho, Marechal Cândido Rondon, Barão do Rio Branco, Jânio Quadros, João Goulart, Fernando Henrique Cardoso, Miguel Arraes, Leonel Brizola, Castelo Branco, Teotônio Vilela, Brig. Eduardo Gomes, Luiz Inácio Lula da Silva, Oswaldo Aranha, Campos Sales e Rodrigues Alves.
Juscelino foi, sem dúvida, uma personalidade de alto nível de habilidade no tratamento interpessoal e desenvolvimentista por natureza. Disse ele, uma vez, que “não tenho vocação para obras pequenas”. Um episódio, muito simples, pode confirmar esta característica do estadista. Quando era governador do estado de Minas Gerais, foi convidado pelo secretário de Estado da Agricultura para um evento onde se distribuiriam 40 mil enxadas. JK, ao fazer um comentário, disse ao secretário: “Pensei que fossem distribuir 40 mil tratores”.
E quando era prefeito de Belo Horizonte, na década de 40, contratou mais de mil carroceiros, com seus respectivos burros, para abrir as avenidas Amazonas e Antônio Carlos. Projetou essas avenidas com 50m de largura. Agora, 50 anos depois, num grande esforço, o governo estadual conseguiu o alargamento da av. Antônio Carlos para 25m de largura. Eis a visão de futuro.


Av. Amazonas com destaque da Praça Raul Soares- BH anos 40. fonte curraldelrei.blogspot

JK sabia ouvir. E ouviu o jovem Tuniquinho, em Jataí, no estado de Goiás, quando fazia um discurso político em 1955. Tuniquinho perguntou: “É possível seguir a Constituição do país, transferindo a Capital da República para o planalto central? O senhor prometeria fazer isso?” JK tomou um susto e num átimo de decisão, não teve alternativa e prometeu e cumpriu. Para a inauguração de Brasília, Tuniquinho não foi esquecido.
Juscelino conhecia os operários, construtores de Brasília, os candangos, pelo nome. Conversava e aplaudia cada um deles.
Juscelino chorou a morte do engenheiro Bernardo Sayao, bravo sertanista, fiel pioneiro, ex-vice-governador do estado de Goiás, encarregado da construção da estrada Belém/Brasília, tolhido por ocasião da derrubada de uma árvore.
Mais tarde, JK teve a permissão de comparecer ao velório de sua irmã, Naná, única e amada irmã, quando estava em exílio político e não poderia voltar ao país, sem ser preso. Chegou, o mais camuflado possível, para que ninguém o reconhecesse. Era impossível. Por onde passava, recebia abraços e cumprimentos de tantos que o admiravam. Com dificuldade, chegou ao lado da irmã, falecida. Meditou e conseguiu um minuto de silêncio. Houve um momento de silêncio total, de respeito ao ambiente. JK meditou a sua vida, seu sofrimento, sua amargura. Pensou na sua vida de criança pobre ao lado da irmã e não suportou. Teve uma primeira lágrima caída. Depois outra. Enfim, não suportou e teve um choro convulsivo que não terminava. Por fim, chorou mesmo tudo que tinha que chorar. Foi um desabafo.
Cumpria a sua missão de vida. Fazia a sua parte. Nunca teve como meta o reconhecimento de sua obra. Sua vida foi uma missão. Cumpriu-a. Era um ser humano que sentia e respirava o respeito e a amizade, acima de tudo.



terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A FONÉTICA LUSO BRASILEIRA

Toda gramática tem por objeto cuidar da morfologia, da sintaxe e da fonética, na normalização de um idioma. Assim a fonética é uma das vertentes do estudo da gramática 




A FONÉTICA 

Trata-se de ponto fundamental de um idioma. A fala constitui o meio de comunicação entre as pessoas de uma região ou país. A língua escrita obedece a normas rígidas no arranjo das palavras para formar um pensamento. O vocabulário é a base. E a fonética? 
A fonética, isto é, a fala, é um idioma vivo, transferível por contaminação. Mutável e adaptável. Sem lei. Assim o foi na transformação do latim em línguas românicas. Cada uma delas com suas características especiais, mas resguardando-se a origem ou propriamente a sua paternidade. Daí, do Latim Vulgar, latim do povo, latim mal-falado, latim diversificado, surgiram o português, o francês , o italiano, o espanhol, o, catalão, o galego, o provençal e o romeno. São chamadas de línguas latinas. 

E o que acontece com o idioma português? 

Estruturalmente está firme nas reformas ortográficas e na preservação da sintaxe. O vocabulário sobrevive. A fonética caminha num barco sem timoneiro. Para onde?  Em qualquer idioma, a fonética é a disciplina que analisa como produzir e perceber os sons criados pelo sistema vocálico.  É o estudo da fala. Envolve: 
A acústica, que estuda as características físicas dos sons que compõem a fala, a fonética auditiva, o estudo dos processos que são realizados por quem recebe e interpreta a onda sonora. 
A fonética é representada pelo Alfabeto Fonético Internacional(AFI), um sistema de notação baseado no alfabeto latino. A ideia, por trás da criação do AFI, é a de se definir símbolos fonéticos que possam ser compartilhados por mais de um idioma, simplificando o aprendizado de línguas. 
Os caminhos da Língua Portuguesa falada são vários. Observe-se que não se fala como escreve e nem escreve como se fala. O povo cria as suas maneiras próprias de falar o seu idioma, e a cultura local interfere nesse caminho. 
O português falado no Brasil, com 210 milhões de habitantes, carrega a língua portuguesa, sem dúvida. Hoje, o português falado em Portugal difere em várias regiões do Brasil. Em princípio, no Brasil, preservam-se as vogais nas articulações, com aproximação à língua italiana na formação dos fonemas ou sons. A interjeição “Ah” tem um só fonema. “Ca/za” tem dois fonemas. 
  •  O brasileiro gosta de vogais. Portugal valoriza as consoantes, aproximando-se mais da língua francesa. (esperança ou sprança). Procura-se eliminar as vogais. 
  • Na filologia, de outra forma, no final de todas as palavras, a vogal “E” tem som de I. Pense em termos como: alface, doce, alegre e até nomes próprios como Liliane. 
  • Da mesma forma, no final das palavras, a letra “O” é pronunciada como “u”, (contu); Monteiro (Monteiru); século (séculu), mas permanece quando são acentuadas: (Maceió, avô e avó.) 
  • A letra “L” assume também divergências. Nos dialetos ou regionalismos, assume vários sons diferentes, como (carnavau, Brasiu, carma ou caima, calma. (Influência do Nhengatu, língua do tronco Tupi). 
  • A letra “R” vem com suas características. No fim das palavras pode aparecer com sonato caipira ou gutural ou desaparecer, como corrê, brincá.
  • A letra “S” pode soar como x ou z (casa) 
  • A letra “X” é a mais versátil. (exame, blindex, enxame, exportação, táxi) 
E a nasalização? O Nhengatu era um idioma fortemente nasalizado. O brasileiro recebeu essa herança.A nasalização é a vocalização que sai do nariz, principalmente com as letras “M e N”. irmã, manhã. Outro caso em que a nasalização é uma parte importante da pronúncia das palavras é quando elas levam o acento til (~), (manhã, irmã) .

Tente ler em voz alta os textos abaixo, como teste de hiper nasalidade; tampando o nariz com dois dedos: 

“Os homens estão sempre descobrindo luas em torno de planetas, distantes em muitos sistemas planetários. Mas, muitas luas são descobertas em torno de numerosos planetas".

“O gato espreguiçou-se e estirou-se sobre o sofá. Paulo, que saía, ao vê-lo, recordou que precisava deixar-lhe água, pois logo precisava sair e a tigela estava vazia.” 


Variação linguística – A língua em movimento 

É um fenômeno que acontece com a língua e pode ser compreendida por intermédio das variações históricas e regionais.  Em um mesmo país, com um único idioma oficial, a língua pode sofrer diversas alterações, feitas por seus falantes. Como não é um sistema fechado e imutável, a língua portuguesa ganha diferentes nuances. (Obs. O Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho Melo (1699 – 1782), em 1758, por decreto, oficializou obrigatória a Língua Portuguêsa nas colônias). Proibiu o Nhengatu. 
No português que é falado nas unidades da Federação ou cidade ou núcleo habitacional surgem as línguas especiais de profissionais e as gírias, alem dos dialetos. Cada dia a língua brasileira e a portuguesa, foneticamente vão se diversificando. Claro que um idioma une um povo, mas as variações podem ser consideráveis e justificadas de acordo com a comunidade na qual se manifesta. 
As variações acontecem porque o princípio fundamental da língua é a comunicação oral, então é compreensível que seus falantes façam rearranjos de acordo com suas necessidades comunicativas, porque são os verdadeiros donos da língua. Os diferentes falares devem ser considerados como variações, e não como erros. Se se tratarem como erro estas variações, incorre-se no preconceito lingüístico, associado ao status das pessoas. O português falado em algumas cidades do interior do Brasil pode ganhar estigma pejorativo de incorreto ou inculto, mas, na verdade, essas diferenças enriquecem esse patrimônio cultural, que é a própria língua portuguesa 

Samba do Arnesto
Adoniran Barbosa 

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais
Nós não semos tatu!
No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever. 

Há, na letra da música, um exemplo interessante sobre a variação linguística. E se cada pessoa decidisse escrever como fala? Um novo idioma seria inventado, alterando a gramática e todo o sistema linguístico, determinado pelas regras, que cairiam por terra. Mas a fonética tem pouca ação dentro das gramáticas normativas da língua. Contudo, o que o compositor Adoniran Barbosa fez pode ser chamado de “licença poética”, já que ele transportou para a modalidade escrita a variação linguística presente na modalidade oral. As variações linguísticas acontecem porque são livres e vivas, crescem e florescem. O meio sociocultural fala mais alto. A gramática faz vistas grossas. 

Moda da Pinga 
Inezita Barroso 

Co'a marvada pinga é que eu me atrapaio / Eu entro na venda e já dô meu taio 
Pego no copo e dali num saio / Ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio 
Só pra carregá é queu dô trabaio, oi lá! 
Venho da cidade, já venho cantando / Trago um garrafão que venho chupando 
Venho pros caminho, venho trupicando /Chifrando os barranco, venho cambeteando 
E no lugar que eu caio já fico roncando, oi lá! 
O marido me disse, ele me falô / Largue de bebê, peço pro favor 
Prosa de home nunca dei valor / Bebo com o sor quente pra esfriá o calô 
Se bebo de noite é pra fazer suadô, oi lá! 
Cada vez que eu caio, caio deferente / Meaço pra trás e caio pra frente 
Caio devagar, caio de repente / Vou de currupio, vou deretamente 
Mas sendo de pinga eu caio contente, oi lá! 
Pego o garrafão é já balanceio / Que é pra mode vê se tá mesmo cheio 
Num bebo de vez por que acho feio / No primeiro gorpe chego inté no meio 
No segundo trago é que eu desvazeio, oi lá! 
Eu bebo da pinga porque gosto dela / Eu bebo da branca, bebo da amarela
Bebo no copo, bebo na tigela / Bebo temperada com cravo e canela 
Seja quarqué tempo vai pinga na goela, oi lá! 
Eu fui numa festa no rio Tietê / Eu lá fui chegando no amanhecê 
Já me deram pinga pra mim bebê / Já me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê, oi lá! 
Eu bebi demais e fiquei mamada / Eu caí no chão e fiquei deitada 
Aí eu fui pra casa de braço dado / Ai de braço dado é com dois sordado 
Ai, muito obrigado! 


A moda da mula preta
Luiz Gonzaga 

Eu tenho uma preta com sete palmo de altura 
A mula é descanelada / Tem uma linda figura, ai, ai, ai 
Tira fogo na calçada / No rampão da ferradura, ai, ai, ai
Com uma morena delicada / Na garupa faz figura, ai, ai, ai
A mula fica enjoada / Pisa só de ancadura (bis) 
O ensino da criação / Veja quanto que regula, ai, ai, ai,
O defeito do mulão / Eu sei que ninguém calcula, ai, ai, ai,
Moça feia e marmajão / Na garupa, a mula pula, ai, ai, ai, 
Eu fui passear na cidade / Só numa volta que eu dei, ai, ai, ai,
A mula deixou saudade / No lugar onde passei, ai, ai, ai, 
Pro mulão de qualidade / Quatro conto eu injeitei, ai, ai, ai,
Pra dizer mesmo a verdade / Nem sastifação eu dei, ai, ai. 
Fui dizendo boa tarde, pra minha casa voltei/ ai,ai,ai

Assim, as divergências regionais campeiam. Chega-se a pensar que há um outro idioma parecido com a língua portuguesa falada em Portugal. Mesmo a língua culta, falada no Brasil, tem suas características muito acentuadas. Hoje pode-se dizer que, foneticamente, há grandes diferenças entre Brasil e Portugal. Daí, para onde vai essa diversidade fonética da língua portuguesa? A população de Portugal, em 2019, é de 10.190.160 habitantes. O Brasil conta com vinte vezes mais a população de Portugal. 



Referências 
Boone,David R. Sua voz está traindo você.Ed. Artes médicas sul ltda.Porto Alegre, RS, 1991. 
MEDEIROS, Adelardo.  A Língua Portuguesa. Disponível em: http://www.linguaportuguesa.ufrn.br/pt
Rocha Lima. Gramática normativa na Língua Portuguesa. Briguiet & Cia. Editores, RJ 1957.
Said Ali – Gramática Histórica da Lingua Portuguesa.
Serafim da silva Neto, Fontes do Latim vulgar

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

O TRANSE HIPNÓTICO LEVE



O transe hipnótico leve anda solto pelos campos e pelas praças. Todo cidadão ou cidadã tem em mãos esse poderoso instrumento de comunicação e, muitas vezes, obtém sucesso garantido. 


Milton Erickson, (1901 – 1980), revitalizou e desmistificou a hipnose de modo suficientemente abrangente, disponível para a humanidade, sem os mistérios e preconceitos atemorizantes. 
Na prática, existem transes hipnóticos leves, médios e profundos. Cada qual tem as suas características e aplicações, principalmente terapêuticas. Dispõe-se de técnicas especiais que devem ser conduzidas por pessoas com formação adequada. 
Entretanto, o transe hipnótico leve está disponível para qualquer pessoa. Observe um atendente de um consultório médico que recepciona um cliente. Ele ou ela, nesse momento, após um rapport breve, concentra toda atenção nesse cliente, para preencher o formulário previsto para a função. Nesse momento, estabelece-se uma linha de relacionamento hipnótico, entre o atendente e o cliente. Ambos ficam em transe. Transe bilateral, sendo que o cliente já vem preparado para isso. A partir desse momento, passa a existir uma linha invisível entre eles. Nada pode partir essa linha, nesse momento, sem causar um rompimento imediato do transe. Terminada a operação, o cliente fica livre, mas a linha invisível ainda os prende. 
Ele, o cliente, pode se afastar enquanto aguarda o atendimento médico.. Não poderá se ausentar sem pedir licença ao atendente que detém a linha invisível. 


Quebra de transe 
Durante a operação, os participantes devem evitar a quebra do transe. Basta olhar o relógio, desviar o olhar, atender telefone, ouvir e atender a uma pergunta feita por terceiros. Parte-se a linha de imediato. Um recomeço nunca será igual. Um trabalho profissional de alta competência, evidencia-se, automaticamente, um transe hipnótico leve. Numa entrevista de qualquer natureza, pressupõe-se de imediato a existência de transe bilateral. Tanto o entrevistado quanto o entrevistador estarão envolvidos e concentrados. Qualquer interrupção causará a quebra do transe.  Num processo de compra e venda, o transe participa imediatamente. Na concentração de interesses, as partes se integram, cada uma com os seus objetivos. Um vendedor atento não quebra transe. Além disso, qualquer relação interpessoal pressupõe um transe. Quem estiver mais preparado obtém o sucesso desejado. 

Quanto dura um transe
Um transe pode ser fechado em segundos ou durar por anos. Num negócio de compra e venda de maiores proporções, os participantes podem manter a negociação por um tempo indeterminado, segundo o interesse das partes. A linha imaginária pode sobreviver, até mesmo sem uma decisão final. Passado um tempo, mesmo longo, o cliente retorna para reiniciar um negócio. O rapport é refeito de imediato. 

Como se inicia um transe 
Um transe inicia pela porta do cliente. O cliente traz o tema. Isto quer dizer que não se deve sugerir um tema para iniciar um transe. Ele tem que ser trazido pelo cliente. 

Existe um local adequado para iniciar um transe? 
O local é a própria vida. Onde estiverem as partes, na praça Sete, num ônibus, numa viagem, numa pescaria. As condições externas não interferem desde que as partes estejam de acordo. Pode ser um transe mais longo ou partido em pedaços, isto é, iniciado, terminado e recomeçado. Num restaurante, pode-se observar quais as pessoas que estão em transe, em sintonia, pela simples inclinação do corpo, procurando ouvir a outra com atenção. Caso haja afastamento, com inclinação para outro lado, constata-se a dispersão de interesses. No primeiro caso, estão em transe, no segundo, um procura e o outro não corresponde, e no terceiro, nenhum dos dois está em transe. 
Um grupo de várias pessoas pode estar em transe absoluto sem que haja uma ordem para isso. Nem comando. Imagine-se a concentração de interesses do público num campo de futebol. Não se perde um lance. Além disso, tudo é gravado nas retinas com emoção visualizada e memorizada. 
Por fim, há referência de um médico que estava operando um cliente. Nesse momento, houve uma tempestade e ocorreram distúrbios na clínica. Parte dela foi atingida por um raio e a água invadiu a sala. Quando esse médico terminou a operação, assustou-se com o ambiente pelo ocorrido, pois ele não tinha percebido nenhum distúrbio, enquanto operava. 
Na educação familiar ensina-se ouvir integralmente as pessoas, com toda a atenção possível. Eis mais um transe natural. Os bons profissionais seguem espontaneamente os preceitos do transe leve.


sábado, 11 de janeiro de 2020

VOCÊ DECIDE! DECIDE?


Encruzilhadas? Fincar a bandeira e verificar para que lado sopra o vento?  Este é o rumo certo? Eis a questão. Todo dia, a toda hora, fincar uma bandeira? Não há escapatória! As pessoas são julgadas pelo que fazem e pelo que não fazem! 



Pensar eis a questão. Pensar tem um limite de tempo. Pensou demais, dançou. Sem pensar, seria pior ainda. 
Hamlet, filho de Hamlet, rei da Dinamarca, continua pensando, depois de 500 anos. To be or not to be? That is the question. O pai, Hamlet, foi assassinado e o filho, por sequência imperial, deveria assumir o trono e tornar-se rei da Dinamarca. Shakespeare foi cruel e colocou a dúvida na balança, atormentando o destino do jovem Hamlet. Seu tio Cláudio casa-se com a viúva sua mãe e adeus trono. O tímido jovem Hamlet jamais tomaria uma decisão de mandar eliminar seu tio e causar desgosto a sua mãe. A dúvida, o medo, a indecisão! Fazer ou não fazer? Até quando? 
Por outra vertente, Dom Quixote tomava decisão rápida e, muitas vezes, inconsequente. Ao pressentir a chegada de um grupo em alta algazarra, tomou a decisão tão rápida como de um coelho em fuga. Sacou de sua arma e desferiu tiros em qualquer direção. Sancho Pança, seu fiel escudeiro, o advertiu: É uma banda que vem tocar no seu aniversário! Santo Deus, já matei três. Eis a consequência. Ou a inconsequência de não pensar antes de agir. 


Conta-se que um vendedor chegou a uma cidade para vender o seu produto. Rodou a praça o dia inteiro e à noite, exclamou: consegui dois “sim” e 10 “não”. No dia seguinte, em outra cidade, também percorreu a praça e, à noite, exclamou: consegui 12 “talvez”. 
Uma decisão acertada é tarefa de um bom gerente e uma decisão errada pode ser corrigida e obter 50 por cento de aproveitamento. Se não tomar nenhuma, terá 100% de erro. Pode ser correto? 
Mesmo assim, errar não é humano, diz a velha sabedoria chinesa. Um paraquedas que não abre por defeito, um cirurgião que amputa a perda errada do paciente, o remédio de se pingar no olho. Os erros não são justificáveis. Um jovem, acusado de pedofilia, foi julgado e condenado a cinco anos de prisão. Ao final, surge o verdadeiro culpado. Vale pedir esculpas? 
Uma decisão pesa sobre os ombros de qualquer um. Quem pode oferecer um ensinamento para cada caso? Uma responsabilidade como de bater um pênalti. 
Finalmente, apenas uma observação surgida, em pesquisas, diz que as pessoas, no final da vida, lamentam mais as coisas que deixaram de fazer do que aquelas que realmente fizeram.




quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

SUPREMO TRIBUNAL CEREBRAL

Os seres vivos possuem, internamente, um Supremo Tribunal Cerebral, gerenciado por um juiz plenipotenciário.  Agindo nesse Tribunal há ainda, um número grande, mas indefinido, de advogados, que atuam em todas as situações da vida. Um batalhão de advogados que são sempre a favor. Um batalhão de advogados que são sempre contra.



Esses advogados pululam livremente no cérebro, em plena e constante atividade, muitas vezes num arrastão organizado, mas em tempo integral. Digladiam ferozmente, por qualquer causa, por menor que seja. Vence o mais forte e sua posição permanece. 
Nessa disputa interna, esses advogados acabam por chegar ecologicamente, a uma sentença. A sentença assim construída, é passada ao juiz supremo, que autoriza a sua execução, qualquer que seja ela. Será a decisão dos seus competentes advogados internos. Será uma sentença justa e correta internamente. 
Dessa forma, o juiz plenipotenciário fica satisfeito com a sentença proferida pelo seu tribunal cerebral interno. Aplaude o trabalho dos seus advogados e fica convicto de que é a decisão proferida pela sentença é, para ele também, justa e correta, nessa situação. 
Dessa forma ainda, confirma-se que “todo comportamento é positivo e que é fruto de uma decisão interna de seu STC que é o único confiável e é altamente competente e justiceira.”
Na confirmação desse tribunal cerebral, não há crime ou pecado. Tudo passa pela decisão interna, julgada acertada. Não se cometem erros e sim uma decisão ao gosto e paladar desse juiz plenipotenciário. Hitler, pelo seu tribunal interno, não cometeu nenhum deslize. Truman disse que a bomba atômica caiu do céu. Tudo ressignificando causas e efeitos do comportamento. Há pessoas dizendo que são as mais honestas do mundo, porque seus atos e comportamentos são justos e corretos pelo seu tribunal cerebral interno. 
Discute-se a força e competência desses advogados internos. Seus valores são formados por componentes biológicos, culturais e sociais, vindos até mesmo do leite materno, compondo o seu arquivo de informações de seus limites e abrangências. Matar, roubar, assaltar, agredir, estuprar, assim como amar, perdoar etc são componentes do seu termômetro construído para cada ação a ser julgada. Roubar e matar para suprir a fome é justificável? 
Resta verificar esse possível STC na fauna, com animais de qualquer espécie, por mais imperceptível que essa decisão possa parecer. Funcionam, principalmente, no caso de fuga e enfrentamento. Um coelho toma decisões de fuga por ato imediato, por medo, enquanto um leão escolhe sua vítima e aguarda estrategicamente a hora certa de atacar. Um animal qualquer confronta o tamanho do outro e o seu poderio, em relação a si mesmo e toma a decisão da fuga ou do enfrentamento, embora ele nunca tenha visto a sua figura física, o seu porte, num espelho qualquer. Os animais têm a percepção do seu corpo por uma questão de visão aproximada. Não conhece a somatognosia. A fome e o alimento são decididos mediante possíveis perigos. Um pássaro cai no alçapão depois de decisão muito elaborada, até que seu tribunal decida pela busca do alimento ali mostrado. Venceram os advogados internos por uma decisão fatal. Era a melhor decisão para aquele momento. Ninguém bebe cicuta em vão. Tudo parte de uma decisão de seu tribunal. 

Referências 
Apostilas do curso de Master em PNL do professor Walter di Biasi 
Zeig, joffrey K. seminários didáticos com Milton H. Erickson. Livraria editora promotora de eventos. Campinas SP, 1995 
Debates sobre o tema Tomada de decisão.

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