quarta-feira, 31 de julho de 2013

ENTREVISTA – SEMIÓTICA VI

Deve-se respeitar o entrevistado, pois ele é, para o entrevistador, a pessoa mais importante do mundo, naquele momento.

Entrevista é, antes de tudo, uma conversa profissional.
Ela pode ser realizada entre duas pessoas, entrevistador e entrevistado. Pode, também, ser uma entrevista coletiva. Mesmo assim, pressupõe-se um objetivo definido. Por que ou para que a entrevista está sendo realizada? Os motivos da entrevista são definidos entre as partes, antes de ela ser iniciada. Sem isso, sem essa combinação preliminar, terá resultados prejudicados, por assim dizer. Numa reunião bem-sucedida, entrevistador e entrevistado estão entrelaçados por uma linha invisível que os prende durante todo o tempo da entrevista. Trata-se de um transe hipnótico leve. Tanto um como o outro ficam inteiramente concentrados nas perguntas e nas respostas.
Outro fator importante que deve ocorrer para uma entrevista bem-sucedida, é a atitude do entrevistador. Ele é responsável pelo “rapport”, para evitar um possível aviltamento da sensibilidade do entrevistado. Esse “rapport” – palavra de origem francesa que significa uma conversa inicial, informal - antecede a qualquer relacionamento interpessoal. Pode parecer uma conversa inútil. Sim. Pode parecer uma conversa inútil, mas sem ela não configuram a confiança e disponibilidade do entrevistado. Rapport é fundamental na vida, em qualquer situação. Numa entrevista, principalmente. Não é chegar e ir logo ao assunto, sem saber quem é quem. Esse rapport não pode ser longo demais, porque, nesse caso, passa a ser uma conversa infindável e perde-se o objetivo do trabalho, já que a entrevista tem uma finalidade profissional e um objetivo predeterminado. Assim, inicia-se o transe hipnótico. Acomodam-se as partes, acertam-se os tons de voz, esclarecem-se os objetivos e, talvez, até a duração da entrevista.  Iniciada a entrevista propriamente dita, há algumas recomendações para o entrevistador que podem ser ressaltadas. Para o entrevistado não existem maneiras a serem recomendadas, porque ele deve ser espontâneo e será analisado em todas as suas atitudes. Claro que ele deve seguir alguns princípios para obter o sucesso que ele pretende alcançar. Entretanto, nesta oportunidade, o assunto se prende às maneiras adequadas que o entrevistador deve assumir, para obter uma entrevista bem-sucedida.
Algumas recomendações:
RAPPORT – como já foi explicitado, o entrevistador é responsável pelo comando do rapport, conversa inicial, preparatória, mas fora do contexto da entrevista.
TRANSE HIPNÓTICO – Muitos pensam que o entrevistado é que deve incorporar um transe hipnótico leve. Entretanto, o entrevistador deve estar, também, em transe hipnótico completo, estar ligado profundamente ao entrevistado, sem perder qualquer palavra ou gesto desse entrevistado. Deve ficar em plena prontidão.
AS PERGUNTAS – O entrevistador comanda a entrevista e tem as perguntas chaves a serem colocadas para o entrevistado. Deve, portanto, manter um tom de voz adequado ou calibrado com o entrevistado. Seguir o tom de voz do entrevistado. Copiar dele. Manter a mesma posição física que o entrevistado. Procurar espelhar, isto é, procurar fazer os mesmos gestos que ele fizer. Claro que deve fazer perguntas curtas, com palavras que o entrevistado possa entender. O entrevistador já captou o nível social e cultural do entrevistado, durante o rapport. Rapport não é uma ação inútil. Assim, perguntas longas podem ocasionar respostas curtas. Melhor seria se fossem perguntas curtas e para respostas longas.
REAÇÃO DO ENTREVISTADOR – O entrevistador deve estar consciente de que poderá ouvir qualquer tipo de resposta, desde as mais incoerentes e inadequadas, sem se assustar ou manifestar abertamente sua admiração. Acompanhar espelhando o entrevistado. As expressões faciais acompanham o desenrolar da entrevista, sem manifestação exagerada de aprovação ou recriminação. Agora, o entrevistador pode ter um momento de querer contradizer o entrevistado. Nada disso. Não é permitida a opinião do entrevistador. Ele não deve se intrometer na opinião do entrevistado, por mais diferente que seja a resposta da sua opinião. O entrevistador não é dono da verdade, nem tão pouco, precisa demonstrar sua sabedoria e seus conhecimentos. Isso ocorre com frequência. Técnica falha. Mesmo seguindo a lógica: se está perguntando é porque quer saber a opinião ou parecer do outro. Não discutir nada. Não responder pelo entrevistado. Isso é irritante para o entrevistado.
QUEBRA DO TRANSE HIPNÓTICO – Como foi dito, o entrevistador está em transe hipnótico e procura manter sua posição junto ao entrevistado, que também incorpora esse transe. Entretanto, se o entrevistador se descuidar, por um motivo pessoal qualquer ou, simplesmente, olhar pelo seu relógio de pulso, o entrevistado decodifica e escapa do transe. Quebra o transe. O entrevistador é o comandante da entrevista e, ao final, comunica que a entrevista está no final. Agradece. Isso é fundamental. Entretanto a quebra do transe, no auge da entrevista é considerada uma falha técnica. Ah! O telefone celular. Claro que uma chamada do telefone celular nem é uma quebra de transe, mas uma ruptura agressiva e decepcionante para o entrevistado. Imperdoável e falta de consideração.
PERGUNTAS COM RESPOSTAS – Há perguntas que possuem respostas implícitas. No caso, não é mais um questionamento e sim a busca de uma concordância. É uma pergunta mal-formulada, baseada na vontade do entrevistador para aceitação de suas concepções. Em princípio, numa entrevista bem-sucedida, o entrevistador não deve demonstrar a sua sabedoria, não deve ter nenhuma ideia fixa sobre o assunto e deve manter-se neutro. Casos há em que o entrevistado rebate a pergunta e, assim, passa a entrevistado do entrevistador. Reversão de procedimentos. Isso ocorre e é um caso de se pensar mais profundamente. O entrevistado envolve o entrevistador. Exemplificação: o médico, Hely Bonini, foi preso no período da ditadura e foi ouvido por um delegado. Pergunta vai, resposta vem. Até que o médico passou a discorrer com relação a um fato da medicina e o delegado distorceu o assunto e quis saber mais. Com pouco tempo, o médico estava perguntando ao entrevistador o que ele estava sentindo e acabou passando a entrevistador, dando uma consulta médica e uma receita para o entrevistador. Eis o fato. Reversão de procedimentos. O entrevistador é o comandante da entrevista. Não pode perder esse comando.
PERGUNTAS REPETIDAS 
– Outra vez? – pensa o entrevistado. Além disso, ele tira a conclusão de que está pregando no deserto e suas palavras estão sendo perdidas. Não está sendo ouvido com atenção. Além disso, pode haver perguntas indiretamente já respondidas. “Moro em Santo Antônio do Rio Abaixo”. Sim... Depois, passado algum tempo, o entrevistador pode perguntar: “Há quanto tempo você reside em Belo Horizonte?” – Demonstrou que o roteiro das perguntas está furado. E seguir um roteiro?
SEGUIR UM ROTEIRO – Quase sempre deve haver um roteiro discreto. Se for um roteiro por escrito, pior. Uma entrevista é única e corre livremente como um regato no seu leito natural, apesar de a entrevista ser sempre comandada. Finalmente, pergunta mal- formulada gera resposta mal-respondida.             
ANOTAÇÕES DURANTE A ENTREVISTA – Nas entrevistas de caráter psicológico ou médico são aceitáveis as anotações. Nas demais, torna-se motivo de desconfiança por parte do entrevistado. Também é motivo de quebra do transe.
ENTREVISTA DE  COMPRA E VENDA – Para a realização de uma transação comercial, verifica-se também um transe hipnótico. Muitas vezes, esse transe pode permanecer por maior tempo, até dias, enquanto se procura uma decisão final. Interessante é que a linha invisível que envolve as partes, esse transe, continua em pleno vigor. O rapport está preservado e pode ser reavivado muito rapidamente. Trata-se da continuação de uma entrevista e que se estende por mais tempo, até a sua conclusão ou fechamento.
OBSERVAÇÃO: Centenas de pessoas reclamam que foram mal-atendidas por recepcionistas incompetentes, por profissionais apressados ou atendentes mal-preparados. Os entrevistados, clientes, são, muitas vezes, invisíveis diante deles. Muitas empresas não percebem que o atendente e o recepcionista abrem ou fecham as portas da organização.   
Uma entrevista bem-sucedida faz amigos e confidentes.


terça-feira, 16 de julho de 2013

O SUCESSO NA COMUNICAÇÂO INTERPESSOAL – SEMIÓTICA V


As palavras que as pessoas escolhem moldam o seu destino. Sem conhecer a força das palavras é impossível reconhecer as pessoas.

As verdades são muitas. Cada um tem a sua. As palavras expressam verdades e constroem o intercâmbio constante de ideias, princípios e valores. Conversar é preciso. O respeito às verdades de cada um, também é preciso. Assim, cada pessoa pode obter mais resultado nas suas convicções, garantindo e confirmando amizades e respeito. Não existem leis para isso, mas recomendações não fazem mal a ninguém.
ENTUSIASMO – Os gregos chamam o entusiasmo como o “deus interior”. Ele é responsável pelo êxito de qualquer atividade e torna-se capaz de superar todas as adversidades.
O entusiasmo é uma espécie de combustível da expressão verbal.
Garante o sucesso de muitas pessoas que, possuindo atributos apenas razoáveis para a arte de comunicar, compensam suas fraquezas pela determinação animadora que emerge do seu interior, sempre contagiando a todos, pela força com que defendem as suas ideias.
É preciso apresentar cada mensagem como se estivesse carregando uma bandeira no campo de batalha. Vibrar a cada afirmação, envolver-se.
SÍNTESE – Dizer tudo que for preciso, somente o que for preciso, nada mais do que for preciso. É uma tarefa difícil que precisa ser perseguida com obstinação. A prolixidade é um fator de desgaste. A repetição é enfadonha e revela falta de recursos intelectuais. Perceber o bom retorno das suas mensagens para não exceder no reforço das argumentações. Muitas vezes é preciso tocar a campainha interna para alertar que chegou  o momento de parar.
RITMO – O ritmo é a musicalidade da fala e a colocação mais ou menos das vogais, a pronúncia correta das palavras, a acentuação, a alternância da altura da voz, a velocidade da articulação. É preciso aperfeiçoar o ritmo da fala dentro do estilo de cada um, aproveitando a energia, o timbre, a sonoridade da voz. Ninguém deve copiar ninguém, mas uma boa locução deve ser assimilada como modelo, para adaptação do seu próprio ritmo.
O conjunto harmonioso da pronúncia das palavras provoca reações imediatas. O ritmo faz parte do estudo da voz. Assim, a voz determina a própria personalidade de quem fala – alegre, triste, nervosa, apressada, segura, tímida, etc. A primeira impressão destes comportamentos é transmitida pela voz. O aparelho fonador, embora exista para fabricação da fala, é uma adaptação do organismo e qualquer alteração de ordem física ou emocional será revelada pela voz. Para que a voz adquira a qualidade desejada é preciso respirar adequadamente.
Pode existir falta de sincronismo fonorrespiratório que vem a prejudicar sensivelmente a fabricação da voz. Algumas pessoas falam quando ainda estão inspirando ou continuam a falar quando o ar já terminou.
A DICÇÃO -  Quanto à dicção, que é a pronúncia dos sons das palavras, nota-se que a sua deficiência é quase sempre provocadora de  problemas de negligência ou de fatores sócio-culturais. É costume quase generalizado de omitir o “r” e o “s” nos finais das palavras, como por exemplo: “levá”, “trazê”,  em vez de “levar” e “trazer”, assim como “fizemo” no lugar de “fizemos” e no plural dos adjetivos ou substantivos, como “as lagoa”, “os pato”. Além de não flexionar adequadamente os verbos: “os home chegaro”. Omite-se comumente o “i” intermediário, como “intero”, “janero”, no lugar de “inteiro”  e “janeiro”. Há outros erros de dicção provocados por regionalismos, como a troca do “l” pelo “u”, como “Brasiu”, “carnavau” e “r”, como “Cráudio”. Além disso, o regionalismo influencia fortemente a pronúncia do “r” intermediário, como “forte”, “tarde”. Essas alterações incorretas de pronúncia caracterizam geralmente a origem social e regional da pessoa que fala. Cada povo com a sua língua.
EXPRESSIVIDADE – Além desses aspectos é bom alertar para a expressividade dedicada às palavras dentro da frase. Cada palavra possui uma ou mais sílabas mais importante e que podem ser ressaltadas, sendo pronunciadas com mais destaque, segundo interesse pessoal. A mensagem pode adquirir outra conotação. Surge a ênfase em palavras cujo interesse deve ser valorizado. Exemplos:
- Ontem, eu fui à escola de automóvel com meu irmão.      
1ª. ONTEM, eu fui à escola de automóvel com meu irmão.
2ª. Ontem, eu fui À ESCOLA de automóvel com meu irmão.
3ª. Ontem, eu fui à escola DE AUTOMÓVEL com meu irmão.
4ª. Ontem, eu fui à escola de automóvel COM MEU IRMÃO.

VOCABULÁRIO – O vocabulário corporifica e traduz as idéias. Pode ser deficiente e não conseguir transmitir o pensamento corretamente ou, talvez, não encontre as palavras adequadas. O vocabulário deve ser o mais vasto possível, embora melhor do que se ter um vocabulário riquíssimo é saber usar o vocabulário que se tem. O vocabulário ideal não é riquíssimo, sofisticado, como se tivesse sido pesquisado nas profundezas do dicionário e, muito menos, pobre e vulgar. O vocabulário rico é útil para se compreender tudo aquilo que as pessoas falam ou escrevem, mas, nem sempre deve ser usado na expressão verbal, pois as pessoas não estão interessadas em palavras difíceis.
Como é que as pessoas poderiam ficar concentradas na mensagem se tiverem de preocupar com o significado de cada uma das palavras?

EXPRESSÕES EVITÁVEIS – Algumas expressões de uso comum podem ser evitadas na conversação em família ou entre amigos. Há expressões não recomendáveis, para as discordâncias normais que podem surgir. Trata-se da 

DISCORDÂNCIA FRONTAL -  Em princípio, uma discordância pode surgir a qualquer momento de uma conversa, mas não há necessidade de ser rechaçada com veemência imediata. Estas expressões podem ser evitadas socialmente: “discordo”, “discordo totalmente”, “sou contrário”, “você está errado”, “você está por fora”, “você está desatualizado”, “não”.
Mesmo que haja discordâncias, existem outros ângulos de visão para os mesmos fatos, ou para a mesma questão. Existem também outras expressões menos agressivas para demonstrar pontos de vista divergentes. Concordar com tudo também é difícil, pois as verdades são muitas e cada um tem a sua. A polêmica reforça as teses. Salve-se quem puder. As palavras são usadas para rir ou para chorar. Para ferir ou para curar. Para trazer esperança ou para trazer desolação.

Qualquer tolo pode fazer a sua regra de vida e se guiar por ela!
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