“Se todos quisermos, poderemos fazer deste país uma grande nação. Vamos fazê-la”
JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER - HERÓI DA
LIBERDADE DO BRASIL -
PATRONO CÍVICO DA NAÇÃO BRASILEIRA
Autor: Rogério de Alvarenga
Apresentação

ENTREVISTADOR:
Senhoras e senhores!
Com exclusividade nacional, vamos apresentar uma entrevista com o alferes Joaquim
José da Silva Xavier, Tiradentes, nesta cidade de Vila Rica de Ouro Preto,
ex-capital do Estado de Minas Gerais, no mais alto destas montanhas
libertárias, de longos e ousados horizontes. O povo brasileiro reverencia o
alferes Tiradentes como, de fato e de direito, PATRONO CÍVICO DA NAÇÃO BRASILEIRA,
PATRONO DA POLÍCIA MILITAR E CIVIL DO BRASIL E PROTOMÁRTIR DA INDEPENDÊNCIA DO
BRASIL. Estamos, agora, frente a frente, com a figura
majestosa do herói da liberdade desta grande e livre nação brasileira. Eis,
conosco, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier! Boa noite, Alferes Joaquim
José da Silva Xavier!
ALFERES TIRADENTES –
Boa noite!
E - Chegando agora a
Vila Rica?
T - Sim. Chegando
agora.
E - Desculpe-me por
fazer uma pergunta inicial muito forte, mas o senhor, Alferes, é ídolo do
Brasil inteiro e o povo gosta sempre de saber detalhes sobre a vida dos ídolos.
Por isso é que vou fazer algumas perguntas. O senhor foi enforcado no Rio de
Janeiro, em 21 de abril de 1789?
T – Não
propriamente. Fui enforcado nesse dia de abril, mas em 1792 – fiquei três anos
preso, incomunicável, numa prisão estreita, escura e fétida na ilha das Cobras,
no Rio de Janeiro.
E - Mas uma coisa me
deixa curioso: por que pediu licença ao seu carrasco Jerônimo Capitania, para
beijar as suas mãos e os seus pés, na hora do enforcamento?
T – Foi apenas um
ato de humildade. Naquela hora, me curvei, mas não me quebrei. Isso, nunca! Foi
como Jesus Cristo, lavando os pés dos apóstolos.
E – O senhor é
português?
T – Filho de
português. Fiquei órfão de mãe, que era paulista, aos 9 anos e de pai aos 11.
Fiquei só no mundo, como estou até agora. Meus irmãos cuidaram de mim enquanto
puderam. Nasci na fazenda do Pombal, hoje pertencente à Ritápolis, perto de São
João Del Rey. Sou da nação brasileira de Minas Gerais.
E - Mas o alferes é
também um rico minerador de ouro? Em Vila Rica, todos têm uma bateia debaixo do
braço, faiscando...

E - Mas tem as suas
economias?
T - Tenho sim,
algumas economias, Porque, antes de entrar para a Cavalaria, eu trabalhei muito
de mascate, de dentista e, por isso me chamam de Tiradentes. Também eu entendo
de plantas medicinais e receitava para os que me procuravam.
E - Portanto, o
senhor, como militar, é um fiel servidor da soberana rainha de Portugal.
T – Nada mais do que
isso. Sou encarregado das mais ousadas tarefas, para garantir a segurança, a
nobreza e a divindade dos reis e rainhas.
E - Divindade dos
reis e rainhas? Que significa isso?
T – Como dizem.
Entretanto, todos nascemos nus. A natureza não distingue um príncipe de um
mendigo. Se somos iguais perante a natureza, somos iguais perante a lei. Como
disse, estou alferes – nunca consegui uma promoção! Não tenho tempo para
bajular. Sou sempre o escolhido para as missões mais perigosas e não para
promoções. Mesmo assim, não desisto facilmente de um empreendimento.
E – O senhor está
satisfeito com o seu trabalho? Pode ser claro.
T – Sou militar de
carreira, como disse. Se continuo, é porque estou satisfeito.
E - E o poder divino
dos reis?
T – Vivemos tempos
modernos. Há mudanças na França, na América Inglesa, com o povo no poder. Os
reis estão na terra como seres comuns e vêm impingindo o medo e a insegurança
no povo pela teologia, há séculos, usurpando a privacidade de todos. Eles
mesmos, os reis e rainhas, estão agora apavorados, atingindo as raias da
loucura. Dona Maria I, rainha de Portugal, está sabendo o que vem acontecendo
com a bela Maria Antonieta na França e com Luis XVI. Pode ter o fim deles
também, subindo os degraus da forca.
E – O senhor lê
muito. Já leu sobre as leis institucionais dos Estados Unidos e também livros
franceses sobre o Iluminismo. O senhor costuma citar o filósofo Rousseau. Segue
as suas teorias?
T – Liberdade,
igualdade, fraternidade – tese universal!
E – Quais as suas
previsões?
T – Nem posso
prever! Milhares de anos de opressão dos reis sobre o povo ignorante e faminto.
Um dia, vislumbro a igualdade entre os povos, mesmo que seja a longo prazo. O
povo no paraíso!
E -- Mas isso é uma
mudança radical! Acredita nela?
T – Os reis e a
nobreza estão apreensivos, temerosos, impotentes ante as novas ideias pregadas
com sangue nas ruas de Paris.
E – E essas ideias
podem ser fatais ao senhor, pois são perigosas.
T – Os tronos são
obstáculos odientos e usurpadores da plena felicidade do povo. E têm que ser
combatidos!
E – Suas respostas
me deixam também temeroso. Espero que não lhe tragam constrangimento e nem consequências
desagradáveis.
T – Nunca deixei de
falar o que penso em qualquer lugar e com qualquer pessoa que seja. Não tenho
medo e afronto o perigo com desafio e coragem. Digo o que penso, meu ideal, meu
sonho de ver este país tornando-se uma república livre e independente.
T – Não só dos
poetas, mas de militares, empresários, mineradores, religiosos.
E – E os poetas?
T – Dizem a
revolução dos poetas tentando desmerecer o movimento que se avoluma, que cresce
a cada dia pela vontade do povo. Poetas, sim, intelectuais, arautos da
liberdade a qualquer custo! Liberdade de expressão, na divulgação dos
sentimentos do povo escravo.
E – Mas, poetas?
T – É a expressão da
cultura dominante, uma vertente da arte da nossa metrópole Vila Rica, a mais
populosa e rica cidade do mundo nessa época. Reuniam-se na Arcádia, para
discussão de temas culturais, econômicos, financeiros, políticos. Antes de
tudo, para divulgar os acontecimentos do mundo moderno.
E – O que vem a ser
poeta?
T – Ser poeta é ter
a coragem de expressar seus sentimentos mais íntimos, seu ideário de liberdade,
com eloquência e destemor.
E – E os nobres e
fidalgos?
T – Estão em baixa.
Odeiam o povo. Repetem com frequência a expressão maldita: “o povo fede!”
E – Alferes, o senhor,
nas suas conversas, sempre fala em transformar o regime do Brasil numa
república. Refere-se à América Inglesa?
T – Sim! Aos Estados
Unidos da América. Um triunfo completo. Um sistema republicano instaurado em 4
de julho de 1776, e com liberdade.
E – E essa liberdade
que existe na república tem limites?
T – Sim, é lógico
que tem, mas quem determina seu limite são as leis votadas democraticamente e a
liberdade de uma pessoa termina onde começa a de outra.
E – Alferes, o
senhor disse que era designado para ousadas tarefas, e acredito que uma delas
era o comando da patrulha nas estradas.
T – Comandava e
patrulhava o caminho novo. Estrada perigosa, cheia de assaltantes, ladrões nas
emboscadas. Protegia os viajantes e tropeiros, transportando centenas de quilos
de ouro. Levavam tudo para o Rio de Janeiro, centenas e centenas de quilos de
ouro. Pelo tratado de METHUES, dali seguiam o caminho de Londres, império
britânico, em troca de proteção a Portugal que tinha medo da Espanha. Era o
quinto do ouro. A maior parte desse ouro, entretanto, tomava o rumo de São
Paulo, pelas mãos dos exploradores ousados e gananciosos. Centenas de
mineradores paulistas. Levaram tudo que encontravam.
E – Mas o alferes
parece um revoltado!
T – Não posso negar
que não fico revoltado. Chega um novo governador e em três anos vai embora com
as cargas cheias de ouro. Ele e os serviçais. Luto pela liberdade de nossa
terra.
E – E com que idade
o senhor foi enforcado?
T – Aos 45 anos,
solteiro. Deixei uma filha e um filho. Nada mais.
E – Não tinha medo
do que aconteceu com Felipe dos Santos que foi esquartejado em Mariana em 1720?
T – O destino dos
idealistas é a morte, sem túmulo. A liberdade não tem preço, não conhece
limites. Todos vivem aqui, hoje, em cárcere aberto! Não temo os truculentos.
Falo por mim, para as gerações futuras.
E – E Joaquim
Silvério dos Reis?
T – Sempre foi meu
amigo e confidente. Dez anos mais moço que eu. Ele tem muitos alqueires de
terra, duas centenas de escravos, mas deve 220 mil réis à Fazenda Real.
E – Ele participava
do levante?
T – Claro! Ele
queria ficar livre da dívida. Ambicioso demais, aquele baixinho atarracado,
grosso e solteirão.
E – E os bacharéis
que chegam de Coimbra?
T – Iam logo dizendo
que em Minas não há homens. O Silvério é companheiro ousado. Está fazendo
campanha disfarçadamente. Homem de plena confiança.
E – E o novo Brasil?
Como será após a independência?
T – Povo rico,
fábricas abertas, sem mandar, obrigatoriamente, uma parte para Portugal, sem
que ele pague o que qualquer outra nação vai pagar.

T – Algumas, sim.
Outras, não. Falo abertamente de um plano ou sonho. Continuo na minha fé de
ajudar a construir um país novo. Para os medrosos, todas as portas se encontram
fechadas.
E – Sabe que andam
dizendo que o senhor é louco?
T – Pode ser isso.
Vejo mais do que os outros. Sinto profundamente a exploração selvagem do ouro
de Vila Rica. Sou uma pessoa de múltiplas funções. Já fui tropeiro, cirurgião
dentista, minerador, soldado, médico e engenheiro. Vou construir um trapiche no
cais do porto do Rio de Janeiro e ainda modernizar a captação de água. Conheço
todo o caminho novo, de fio a pavio, e conheço demais a cidade do Rio de
Janeiro.
E – O senhor é mesmo
corajoso!
T – Não precisamos
de governadores gananciosos. Uma voz tem que se levantar dessa multidão de
cordeiros famintos que ama os lobos. Cabeça baixa, chapéu na mão. Pobres e
miseráveis, endividados. E a rainha de Portugal, milionária. Que leve o diabo.
E – Fala isso em
qualquer lugar?
T – Nas pensões por
onde passo, com os tropeiros, com os amigos e com os inimigos, em todos os
lugares onde alguém pode me escutar!
E – E o senhor já
está conhecido em todos os lugares!
T – Conheço menos do
que me conhecem. Até o governador me conhece e eu mesmo não o conheço. Nas ruas
e nas praças, me tiram o chapéu.
E – Chamam-no de
louco!
T – Louco por
liberdade. Os bárbaros portugueses não poupam nada para nos fazer submissos,
com receio de que possamos seguir os nossos próprios passos.
E – E o que
pretende?
T – Uma república
livre e independente, uma bandeira, a libertação dos escravos, uma
universidade.
E – E isso não é a
própria loucura?
T – Pode ser para
alguns. Quem vê o horizonte, vê o caminho a seguir.
E – E se tudo
fracassar?
T – Pelo menos o
primeiro passo estará dado. Cumpre aos seguidores dar o segundo passo. Sem o
primeiro não haverá o segundo. E não haverá o último!
E – O governador
Luis da Cunha Menezes deve estar preparando alguma coisa contra o senhor!

E – Que significa o
quinto?
T – Se você extrai
cem quilos de ouro, automaticamente, vinte quilos são da rainha. Sem dó, nem
piedade. Quem não colhe tem que pagar do mesmo jeito. Dívidas se fazem mesmo
sem pedir emprestado, simplesmente por viver em Vila Rica. Dívidas impagáveis.
E – Não havia
defensores do povo?
T – O ouvidor, Tomás
Antônio Gonzaga, tudo via e ouvia. Mas nada podia fazer porque era seu dever
proteger o reino português.
E – O ouvidor Tomás
Antônio Gonzaga era também um grande poeta?
T – Um grande poeta
que se denominava Dirceu, apaixonado pela Marilia – Maria Doroteia Joaquina de
Seixas. Iam se casar. Ela tinha 17 anos e ele 45.
E – Não se casaram?
T – Não se casaram
porque foi preso oito dias antes do casamento.
E – Que pena não se
casarem!
T – Estavam de
romance há muito tempo. Os parentes dela resistiram muito. Mas, o amor é cego.
Conversavam das janelas com seus lencinhos brancos. Tinham um código. Ela era
uma jovem de beleza simples e natural.
E – Amavam-se à
distância?
T – Isso. Ele fazia
versos e mandava pra ela. Ela bordava os lencinhos brancos para ele.
E – Família
importante a dela?
T - Ela era filha de
um capitão, mas órfã de mãe. Gonzaga deu-lhe o nome suposto de Marília. Para
ele, Dirceu. Então surgiu Marília de Dirceu.
E – Quem era esse
Gonzaga?
T – Português,
bacharel, jurista, figura de maior relevo na Capitania. Poeta. Escreveu Tratado
do Direito Natural.
E – Ele devia ser um
homem muito poderoso!
T – Elegante nas
posturas e no vestir. Sabia até bordar. Na Europa os homens faziam trabalhos
magníficos.
E – E Cláudio Manuel
da Costa
T – Era jurista,
advogado, 60 anos, solteiro. E havia o Inácio José de Alvarenga Peixoto, casado
com Bárbara Heliodora. E tantos outros...Unidos pelo mesmo ideal, todos
sonhando com uma pátria livre. Pobres e ricos!
Militares, religiosos, intelectuais, mineradores, fazendeiros, donos de
estalagem, agrimensores, alfaiates.
E – O senhor e os
outros conspiradores o que decidiram?
T – Um levante.
Tomar o palácio do Governador, sua guarda. Dominar a Capitania em menos de uma hora. Meu plano foi
discutido e aprovado por todos. Eu teria a honra de invadir o palácio do
Governador, prender o Visconde de Barbacena, ou cortar a sua cabeça, se fosse
preciso. Houve ideias contrárias ao corte de sua cabeça. Os religiosos acharam
que não devia. Na hora, eu iria decidir. Seria o primeiro passo. Nada podia
falhar. Eu sozinho iria fazer o mais importante. Uma honra pra mim. Sempre as
missões mais perigosas. O governador seria surpreendido sem tropas, sem
munição, libertos os escravos e o povo livre dos impostos. A pátria livre!
“quereis a liberdade ou a tirania?” A capital seria São João Del Rey. Vila Rica
seria a sede da universidade. Estaria instaurada a Republica do Brasil. Tomás
Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa estavam elaborando as novas leis
dessa república nascente e livre, aberta para o mundo.
E – Mas nada disso
aconteceu?
T – Não tinha
chegado o dia. Eu estava no Rio de Janeiro, licenciado da Cavalaria, para meu
projeto de trapiche e captação de água potável.
E – E o que houve?
T – O Joaquim
Silvério dos Reis pediu audiência ao Governador Visconde de Barbacena e contou
tudo. Eu não sabia de nada. Delatou. Deu nomes, citou lugares de reuniões e a
tática de execução do plano. Disse que o primeiro a ser morto seria o próprio
Governador Visconde de Barbacena. E falou que eu, o alferes Tiradentes, seria
incumbido de cortar o seu pescoço.
E – O governador
acreditou?
T – Mesmo sem
acreditar, acreditou. Mandou o Silvério escrever tudo e relatar tudo no papel.
Queria um documento. Claro que ele antevia a montagem da Devassa ou formar o
“corpo de delito”!
E – E Joaquim
Silvério dos Reis foi o Judas?
T – Eu me encontrei
com ele dois dias antes. Confabulamos firmemente. E ele escreveu tudo e
entregou ao Visconde de Barbacena. Mesmo assim, continuou no convívio dos
confederados.
E – E o Visconde de
Barbacena?
T – Mandou chamar
depois Joaquim Silvério para ser portador de carta ao Vice-Rei, no Rio de
Janeiro.
E – E a capitania?
T – Estava entregue
a brasileiros. A libertação estava à vista se não fosse a delação do Joaquim
Silvério. Sua Majestade não tinha aqui, em Vila Rica, nem um barril de pólvora.
Tinha que pedir soldados, pedir munição.
E – Que fez o
Visconde de Barbacena?
T – Suspendeu a
derrama. Suspendeu a cobrança de impostos. O povo aplaudiu de imediato. Nossos
confederados ficaram atônitos. Alguma coisa tinha acontecido e ninguém tinha
ficado sabendo. Joaquim Silvério delatou, o Visconde se protegeu, mas ninguém
sabia da traição de Joaquim Silvério. Percebiam qualquer coisa no ar.
Combinaram então negar tudo. Nego tudo. Nego.
E – A suspensão da
derrama foi uma bomba?
T – Uma bomba de
altos significados. Nosso lema: “LIBERTAS QUAE SERA TAMEN” estava suspenso no
ar. Nossa bandeira em triângulos tremulava no ar, mas agora açoitada por fortes
ventos ameaçadores.
E – Mas o senhor
estava no Rio de Janeiro, não estava?
T – Sim... eu estava
trabalhando no meu projeto. Não estava sabendo de nada. Falava com todas as
pessoas divulgando os planos de uma república nova e independente. Falei com os
cariocas e achei-os fracos – por isso sofriam tanto. Disse que queira vê-los
açoitados como negros.
E – Estando no Rio
de Janeiro, não notou nada estranho?
T – Percebi que
estava sendo seguido. Todos tinham medo de falar comigo. Medo de serem
envolvidos em alguma coisa. Sempre covardes e fracos.
E – Estava sendo
seguido?
T – Seguido e
procurado por onde fosse. Precisava de meu passaporte, meu salvo-conduto para
regressar a Vila Rica e não conseguia. Estava sem autorização para viajar.
Precisava viajar e não podia.
E – Que providências
tomou para voltar?
T – Procurei o Vice-Rei,
Luís de Vasconcelos. Sabia que não conseguiria esse passaporte, pelas atitudes
de todos. Sabia também que o levante não
teria êxito sem mim em Vila Rica. Sabia que o fracasso seria a morte, a prisão,
o esquartejamento, o sofrimento, a tortura nas prisões ou o desterro, a perda
dos bens, a destruição das famílias de todos os companheiros. Minha angústia
foi total. E eu não sabia de nada sobre a delação do Joaquim Silvério.
E – Em que dia o alferes
foi preso?
T – No dia 10 de
maio de 1789, uma segunda-feira. Fui conduzido para uma prisão estreita,
escura, nos porões da fortaleza da ilha das Cobras no Rio de Janeiro.
Incomunicável. Sem saber por quê. Imaginava que teria havido algum
acontecimento desagradável em Vila Rica.
E – Aí começaram as
prisões?
T – Claro! Todos os
confederados foram presos. Alguns trazidos para o Rio de Janeiro, acorrentados.
Prisão até para os próprios denunciantes para averiguações. Quem denunciou fora
do tempo, fora do prazo, foi preso imediatamente por cumplicidade. Hoje temos a
carta denúncia de Joaquim Silvério dos Reis transmitida livremente pela
internet. Mas, naquele momento, eu nada sabia.
E – E os
interrogatórios.
T – Cada dia um dos
confederados era preso, acorrentado e seus bens vendidos em hasta pública. Suas
famílias ficavam na miséria imediata, ou socorridos nas casas dos parentes que
não tinham medo de ser envolvidos.
E – E o Visconde?
T – Com a
documentação em mãos, abriu uma devassa, um inquérito policial com documentos e
declarações por mais contraditórios que fossem. Estava aberta a DEVASSA –
fulminante e implacável.
T – Abriu outro
inquérito no Rio de Janeiro. Uma devassa a mais, aberta no dia 7 de maio de
1789.
E – E na capitania
de Minas Gerais, que aconteceu?
T – Chega a notícia
de duas devassas abertas. Todos os implicados se diziam inocentes. Nem se
dignavam ter ouvido as palavras desse
tal alferes falastrão, louco, inconsequente. O Visconde nunca viu tanto
fingimento. Tantos súditos fiéis à sua Majestade. Todos delatavam. Até o
próprio Gonzaga... mas as nuvens da desgraça cobriam a todos.
E – Mas, e Gonzaga?
Que aconteceu com ele?
T – Foi preso em 21
de maio, mesmo ainda na cama. Era o primeiro detido em Minas. Foi levado para o
Rio de Janeiro em escolta. Em Vila Rica já não havia prisão para tanta gente.
Presos incomunicáveis, sem ver a luz do sol.
E – E Alvarenga
Peixoto?
T – Foi preso em São
João Del Rey. Réus aos montões, perseguidos por patrulhas. Alguns tentaram
fugir. Tudo em vão. Os bens foram imediatamente colocados em hasta pública, sem
julgamento, sem análise de culpa. Até um estrangeiro, Nicolau Jorge foi preso.
E – E o povo?
T – Povo é povo
mesmo. Só aparecia para delatar e procurar ser confidente do governador. O medo
era generalizado. O povo procura se proteger denunciando a torto e direito.
E – Todos culpados?
T – Nem uma palavra
de contestação. Silêncio sobre as brumas. Ninguém ousava protestar.
E – Afinal
abriram-se duas devassas?
T – Sim. Duas
devassas, uma no Rio de Janeiro pelo Vice-Rei,
Luis de Vasconcelos e Souza, e outra em Vila Rica, pelo Visconde de
Barbacena. E as duas se digladiavam, procurando envolver o maior número de
culpados.
E – E havia
culpados?
T – Nunca houve
culpados e nem foi executada nenhuma ação do pretendido levante. Ninguém tinha
nada para se culpar ou de sentir-se culpado. Apenas, os representantes da Coroa
portuguesa queriam mostrar fidelidade e produção. Prendiam, envolviam famílias
no processo, causando a miséria e a desgraça. Nada mais.
E – Ambas as
devassas tinham o mesmo objetivo?
T – Com o mesmo
objetivo de eliminar e massacrar um possível desejo despertado na Colônia em
ver-se livre do jugo português. Ambas, conflitantes e mentirosas.
E – Então os réus
eram inocentes?
T – As devassas se
prolongavam com sacrifício e sofrimento extraordinários dos possíveis réus.
Aprisionados! Prisões fétidas. E, além de tudo, sem saber o motivo pelo qual
estavam presos. Simplesmente porque falaram uma palavra a mais, ou ouviram uma
palavra mais eloquente?
E – E os bens das
pessoas acusadas e presas?
T – Todos os bens
confiscados imediatamente à prisão. Vendidos para financiar as despesas da
devassa. As famílias se arrastavam na miséria total e imediata.
E – E o Joaquim
Silvério dos Reis?

E – Você foi
interrogado quantas vezes?
T – Apenas quatro
vezes, com acareações diversas. Um dia, um desembargador me inquiriu: “disseste
que os cariocas eram patifes, vis, e que teria sido bem feito que levassem um
bacalhau?” Respondi que eles são dormentes e insensíveis ao sofrimento do povo.
Disse ainda que o povo é grande e que eu não estaria em condições de riqueza e
poder para arrastá-lo à conquista de uma quimera.
E – Houve alguma
acareação com Silvério?
T – Sim...eu fui
arrastando as minhas corrente. Queria cumprimentá-lo como amigo, pois não sabia
de sua delação. Depois, senti a amargura da acusação frontal. Pesou-me mais do
que as próprias correntes que eu transportava.
E – Outras
acareações e interrogatórios?
T – Voltaram a me
perguntar sobre o que tinha dito dos cariocas. Depois, qual a verdade sobre a
sublevação de Minas? Nunca dei um nome sequer, nunca falei a palavra “levante”.
Nunca dei uma palavra sequer. Não seria confissão porque não tinha nada a
confessar a ninguém. Principalmente a esses estrangeiros!
E – Soube que seu
amigo Alvarenga Peixoto tinha sido preso também?
T – Tinha uma vaga ideia,
mas sem confirmação. Somente depois fiquei sabendo. Pobre Alvarenga, pobre
Bárbara Heliodora.
E – Encontrou-se
ainda com Alvarenga Peixoto.
T – Numa acareação
em 1791, me parece.
E – E Gonzaga? Que
crime cometeu?
T – Ninguém cometeu
crime algum. O pensamento é livre e voa pelo espaço sem comprometimento. Querem
acusar as pessoas pelo simples fato de desejarem uma república para esse novo e
grandioso país? Nas horas vagas, Gonzaga versejava para a sua amada, na sua casa,
no outro lado da rua. Pobre Gonzaga. Nunca teve amizade por mim. Ia fazer as
leis da república. Apenas isso. Crime algum. Um jurista apaixonado,
intelectual.
E – Foi assim, até o
final?
T – Planos,
delações, depoimentos, acusações infundadas. Estou rodeado de zombarias,
insultos, mofa. Uma coroa de espinhos. Um louco! Gênio ardente! Homem sem
nenhum conceito! Rústico, atroado.
E – Louco?
T – Como eu poderia
ser louco se atrás de mim vinham padres, mineradores, empresários, juristas,
poetas, militares e até o meu próprio comandante?
E – E a
“Inconfidência” estava concluída?
T – Claro e totalmente
concluída, documentada pelas mãos dos meus juízes inquiridores que a
arremataram como quiseram. Essa “Devassa” foi construída pelos próprios juízes
e desembargadores estrangeiros. Eles construíram essa “Devassa” que aí está.
Forjaram, mentiram, torturaram até conseguir as formas e os conteúdos
desejados. Fiquei só. Fiquei só, como sempre estive na vida. Ninguém por mim.
Mas, perante o tribunal ainda respondi: “não!”
E – Mas, finalmente
teve que confessar!
T – Não fale essa
palavra confessar! Nada tinha a confessar. Poderia relatar as ocorrências, mas
nunca em forma de confissão policial. Não cometi um deslize sequer que acusasse
a minha consciência, o meu foro íntimo. Tudo em plena convicção em louvor à
minha pátria. Mas o tribunal me pressionou mais uma vez. “Você é o cabeça do
motim da capitania de Minas Gerais! Você é o louco da sedição! Você convocou e
convenceu até estrangeiros! Você é um covarde, alferes traidor de sua
Majestade! Todos os seus companheiros, padres, juristas, militares,
mineradores, empresários são unânimes em confirmar que suas palavras inflamadas
levaram todos à desgraça, ao infortúnio, ao sofrimento sem limites! Confesse,
traidor!” Prosseguiram mais acusando do que perguntando. Na minha vez,
respondi: “projetei, sim, o levante para criar uma pátria livre e rica! Sempre
neguei, mas não foi por covardia. Não queria implicar meus amigos e
companheiros justamente para preservar a integridade de cada um deles. Todos me
ouviam, me incentivavam e me acompanhavam. Tudo neguei por eles! Pelos meus
amigos! Digo, agora, diante destas circunstâncias, com a clareza das minhas
convicções – sim, é verdade que eu premeditava esse levante. É minha a ideia. Planejei
tudo sozinho! Tenho a fronte erguida para os meus ideais de uma pátria livre e
independente do jugo português! E queiram os senhores juízes deste tribunal ou
não, mais hoje, mais amanhã as sementes germinarão e o Brasil será uma das
maiores nações livres do mundo! Livre do jugo de quem quer que seja! Esta é a
minha convicção inabalável. Nunca uma confissão! Não ocultarei a mais leve
coisa da verdade. Faltar a ela seria me desculpar, o que não o faço e nunca
farei!”
E – Ficou sabendo o
nome dos seus juízes no tribunal?

E – Quais os seus
bens que foram sequestrados?
T – Duas canastras
de couro com objetos de uso pessoal, uma sesmaria, três escravos e a minha
cabeça cheia de ideais de república e de liberdade. Livros, uma rede de
algodão.
E – E que fim levou
Joaquim Silvério dos Reis?
T – Esteve
aprisionado durante nove meses, também incomunicável. Nesse período, seus
duzentos escravos se debandaram, suas terras foram invadidas. Sua moral
arrasada. Foi a zero e nenhum morador da região ousava dirigir-lhe a palavra,
quando foi solto. Um gelo total. Foi premiado por pensão vitalícia de 400$000
anuais. A vida foi cruel para ele também. Viveu bastante para ouvir o grito de
independência e nunca mais pôde voltar a ver as montanhas.
E – Mas e o final, a
conclusão dessas devassas paralelas?
T – Os dois
processos se entrecruzavam, divergiam. Houve substituição de juízes e o próprio
Vice-Rei foi substituído por Dom José Luís de Castro, o conde de Resende.
Mudanças nos interrogatórios, dúvidas, incompetências, corrupção, chegando-se a
desentendimento entre os próprios juízes. Ciúmes de bajuladores, forjando
depoimentos, desentendimento e complicação feitos pela ignorância de
portugueses e seus descendentes.
E – E a sentença?
T – Os
interrogatórios terminaram. Sai a relação dos condenados e suas sentenças em 18
de abril 1792 – Eram trinta e quatro réus, sendo que três deles faleceram
durante o julgamento, inclusive o jurista Cláudio Manuel da Costa, supostamente
por suicídio. Esses réus tiveram direito à defesa. Foi determinado um advogado
para estudar o processo e emitir a defesa. Ele analisou os supostos crimes de
cada um dos réus. Reconhece a culpa de alguns e a inocência de muitos e pede à
sua Majestade, humildemente, o perdão de suas loucuras e insânias. Muito bem,
advogado de defesa!
E – Mas o senhor
ainda não falou na sentença.
T – A sentença foi
longa e triste. Foram trazidos todos os réus para a sala do Oratório da cadeia.
Quando se reuniram quase não mais se reconheceram. Barbados, grisalhos, olhos
deslumbrados pela luz, vestidos em panos de algodão, aproximaram-se uns dos
outros. E as pesadas correntes tiniam ao tentarem se abraçar. E falavam
incontrolavelmente como se estivessem sedentos de conversa.
T – Levaram dezoito
horas lavrando a sentença, terminando às duas horas da madrugada. O próprio
Vice-Rei, Conde de Resende, fez questão de acompanhar o desfecho, sem arredar o
pé. Onze religiosos do convento Santo Antônio foram imediatamente chamados,
pois nenhum condenado à morte podia ouvir a sentença sem estar assistido por um
religioso. Assim, receberia os últimos suspiros do infeliz, conduzindo à vida
eterna, até alcançar o novo julgamento por Deus, Nosso Senhor.
E – E a sentença
continua demorando a sair!
T – Imagine a
ansiedade de todos esses supostos réus! Pois bem! Às duas horas da madrugada do
dia 19 de abril de 1792, entrou na cadeia um séquito de oficiais da justiça,
alguns juízes, onze religiosos e, com a entrada do escrivão, todos se calaram.
Foi um instante supremo e decisivo. Então, com aparente calma, o desembargador
Luís Alves da Rocha, desdobrando o maço de laudas escritas, dava a entender que
uma fria decisão, intencionalmente meditada, iria brotar dos seus lábios. Eu
mesmo estava com meu colar de correntes de ferro ao pescoço, aguardando o
desfecho num dos cantos da sala. O desembargador leu o preâmbulo e fez
considerações gerais sobre o movimento como o mais horroroso dos crimes. Ergui
a cabeça quando ele leu o meu nome: “mostra-se que entre os chefes e cabeça da
conjuração, o primeiro que suscitou as ideias de república foi o réu Joaquim
José da Silva Xavier, por alcunha Tiradentes, da Cavalaria Paga da Capitania de
Minas Gerais e que concebeu o abominável intento de conduzir os povos daquela capitania
a uma rebelião.” Naquele momento, tive consciência do crime de que eu era
acusado. Até então, não sabia por que motivo tinha sido encarcerado, tinha
sofrido tantos interrogatórios e acareações.
E – E saiu,
finalmente, a sentença?
T – Finalmente, sim.
“Fica condenado o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha Tiradentes, a
ser conduzido com baraço e pregão pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela
morra de morte natural para sempre e que depois de morto lhe seja cortada a
cabeça e levada a Vila Rica onde, em lugar mais público, seja pregada em um
poste alto até que o tempo a consuma. Ainda, seu corpo deverá ser dividido em
quartos e pregados em postes pelo caminho de Minas. Declaram o réu infame e
seus filhos e netos, tendo-os e os seus bens aplicam para o fisco e Câmara
Real. A casa que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca
mais no chão se edifique e, não sendo própria, será avaliada e paga a seu dono
pelos bens confiscados e, no mesmo chão, levantará um padrão, pelo qual se
conserve em memória a infâmia deste abominável réu.” Neste momento, eu tinha o
olhar perdido no espaço.
E – E os demais
réus?
T – Todos condenados
ao enforcamento. Menos cinco que seriam deportados para a África. E Cláudio
Manuel da Costa, que morreu na prisão, teria a memória infamada, assim como
filhos e netos e os bens confiscados.
E – Desespero geral?
T – Sim... Desespero
geral. O dia amanhecia com jatos de luz penetrando pelas frestas das pesadas
portas e pelas grades do presídio. Deitamos nas camas que foram preparadas para
os condenados, carregando os pesados colares de correntes de ferro. O mundo
desabou. A tênue esperança, se existiu um dia, desapareceu para sempre. Todos
condenados à forca. Nada mais.
E – E o advogado de
defesa?
T – Advogado de
defesa? Que fazer? Pediu que a pena fosse comutada em cárcere perpétuo,
inclusive a de Tiradentes. Mas o desânimo havia turvado o espírito. A sentença
parecia ter vindo sem perspectiva de mais defesa alguma.
E – Que fazer?
T – Aproximava-se
velozmente o instante supremo. Os onze condenados à forca eram assistidos por
onze frades que os confessavam e os animavam. Como se despertassem de um
pesadelo, entreolharam-se aqueles olhos vermelhos de angústia e de pranto. Mas,
alguns ainda tinham esperança de comutação da pena. Foram momentos de muita
ansiedade. Recursos do advogado de defesa. A forca armada na praça pública
aguardava apenas a sentença final. A praça totalmente cercada. O público estava
realmente triste com o espetáculo que iria assistir.
E – Degredo
perpétuo?
T -- Os juízes
estavam inflexíveis. Degredo perpétuo? Menos mal. Os condenados gemiam pelas
paredes, agonizando lentamente, sempre fazendo tinir os ferros das correntes.
Por toda parte, havia sentinelas com as armas apontadas.
E – Finalmente, a
comutação da pena?
T – Quando tudo
estava perdido, quando os espíritos pareciam conformados com o próprio terror,
entra novamente o escrivão. Os recursos tinham sido rejeitados, um a um. E, no
entanto, o desembargador que, de maneira velada, tinha compactuado da ansiedade
geral, trazia um ar feliz. Abriu os autos e, lentamente, leu: “em observância à
carta da dita Senhora, mandam que execute inteiramente a pena da sentença no
infame réu Joaquim José da Silva Xavier por ser o único que na forma da carta
se faz indigno da Real Piedade da dita Senhora rainha de Portugal. Quanto aos
demais réus, a quem deve aproveitar a clemência real hão por comutada a pena de
morte na de degredo perpétuo”.
E – E o ouvidor
Tomás Antônio Gonzaga?
T – Foi condenado ao
degredo perpétuo.
E – O senhor foi o
único condenado à morte. Que houve então?

E – E o alferes
Tiradentes ficou novamente só, diante da morte?
T – Enquanto todos
festejavam aos gritos de euforia, eu estava a um canto, realmente só. Nenhum
abraço, nenhuma palavra. Assim permaneci calado, até que pudesse felicitar um a
um pela graça que tinham conseguido. Virei-me para o padre confessor e
disse-lhe: “felizmente, não levo ninguém comigo! Dez vidas eu daria se as
tivesse, para salvar as deles! Eu sou a causa da perdição desses homens, mas
felizmente não levarei ninguém comigo”.
E – Finalmente o dia
21 de abril de 1792!
T – Após o
enforcamento em praça pública, meu carrasco foi autorizado a decepar a minha
cabeça a machado, no próprio local do enforcamento. Em quatro partes
subdividiram meu corpo. Após salgar fartamente cada parte do meu corpo, elas
deveriam ser hasteadas em postes altos para a mais escandalosa temeridade
contra a Real Soberania.
E – E a sua cabeça
foi hasteada em Vila Rica, em local de grande movimento, em solenidade cívica,
sendo convocadas as autoridades e o povo para a comemoração?
T – Assim foi feito.
Mas, conforme determinação da sentença, minha cabeça deveria permanecer por
tempo suficiente para se deteriorar no mastro desse poste. Entretanto, alguém,
na calada da noite, afrontou as autoridades da Capitania e levou-a consigo para
um jazigo eterno. Não desdenho a minha sorte. Meu salvador morreu também assim,
nu, por meus pecados.
E – Impossível é
para nós brasileiros livres, agora, neste momento, deixar de sentir um forte
impulso de admiração e respeito pela sua ousadia e pelo seu destemor.
Agradecemos a sua presença para esta entrevista, Alferes Joaquim José da Silva
Xavier, Tiradentes. Gostaríamos, ainda, de ouvir as suas palavras finais.
T – Foi uma
oportunidade feliz poder retornar e sentir a minha pátria e meu povo livres. Dez vidas eu daria, em mil pedaços
poderiam subdividir meu corpo para plantar a semente da liberdade e para vê-la
germinar vigorosamente em meu país, com uma república livre e independente, com
os escravos libertados e uma universidade criada em Vila Rica. Nunca me
arrependi do falei ou do que fiz. Este louco e falastrão nunca teve um crime a
confessar e nunca se curvou diante dos portugueses estrangeiros. Ele teve
apenas a ousadia de responder simplesmente “NÃO!”
E – Uma lembrança
finalmente trazemos para o senhor, neste nosso encontro. Uma de suas velhas
canastras.
(O alferes abre a
canastra e retira a bandeira de Minas Gerais. Sacode-a e coloca-a no ombro
esquerdo. Depois, tira a bandeira do Brasil, sacode-a no ar e coloca-a no ombro
direito. Em seguida, abre os braços, como se quebrasse algemas, permanecendo
nessa posição, com a cabeça erguida. Ouve-se o hino da independência, cantado
por uma só voz. Depois, um coro de multidão).
Bibliografia
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Washington Peluso Albino de. Ensaios sobre o ciclo do ouro. Belo Horizonte: UFMG, 1978
MENEZES, Adalberto Guimarães. Parque Histórico
Nacional Tiradentes. Belo Horizonte: Gráfica e Editora Del Rey, 2011
grande ícone da historia do Brasil e de \Minas, infelizmente esquecido pela maioria.
ResponderExcluirAntônio.
Ameeei, me salvou!
ResponderExcluirNossa, muito bom mesmo! Estava precisando de uma entrevista dessa.
ResponderExcluirMuito legal.. usei no meu trabalho de escola, a prof pedir algo diferente,
ResponderExcluirmontamos uma apresentação tip esquete ficou muito legal
ResponderExcluirmuito bom
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