4ª Carta virtual ao doutor João Pinheiro da Silva (1860 – 1908)
ASPECTOS DA HISTÓRIA DE BELO HORIZONTE,
Capital do estado de MINAS GERAIS, inaugurada em
12 de dezembro de 1897 - BRASIL
Belo
Horizonte, 2 de dezembro de 2011
CARO
E PREZADO JOÃO PINHEIRO!
SAUDAÇÕES
RESPEITOSAS
Os que sempre mudam são os ciganos e os
bandeirantes. O destino deles é viajar. Hoje, também os astronautas.

Mudando
um pouco a convergência dos nossos assuntos, lembrei-me de comentar alguma
coisa que é também do seu conhecimento. É sobre a matriz da Boa Viagem. Aliás,
Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. Ela foi construída pelo povo de Curral
del-Rei, com muita devoção e carinho. Era antes uma capela de taipa, de capim,
tosca. Com o tempo, com as reformas
e adaptações constantes, tornou-se um templo de maiores dimensões,
artisticamente posto para os atos religiosos da população que crescia e se
envolvia em atividades do comércio e da agropecuária. Isso mesmo! A antiga
capela de Nossa Senhora da Boa Viagem trazia consigo uma história bem
fundamentada de um piloto da nau de Dom João V (1689 – 1750) que naufragou nas
cercanias da ilha das Cobras no Rio de Janeiro, em 1709. Era o piloto da nau o
senhor Francisco Homem del-Rei, que conseguiu retirar o nicho com essa imagem
de Nossa Senhora da Boa Morte e guardou
essa imagem, portando-a consigo.Mais tarde, chegando ao povoado de Curral del-Rei, iniciou a construção de uma capela para abrigá-la, tendo essa imagem como guia e padroeira. Tanto tempo passou, tendo a decisão de tornar essa capela em confortável templo de orações. Trabalho continuado e persistente. Assim, a matriz teve a provável conclusão apontada para os anos de 1775/1776. Já não era uma simples capela, mas a matriz da freguesia de Curral del-Rei. Teve pois a sua missão de abrigar as almas religiosas por 135 anos. Agora, chegou a Comissão Construtora da Nova Capital com o objetivo formado quanto à estrutura arquitetônica da Cidade de Minas que não admitia a permanência de edificações em estilo colonial nem barroco. Assim, a matriz foi condenada à demolição, juntamente com todas as outras edificações religiosas existentes.
Na primeira tentativa de demolição, as demais tombaram e a matriz da Nossa Senhora da Boa Viagem permaneceu mais alguns anos, mediante a intervenção popular e da diocese de Mariana. Mesmo assim, estava condenada e a sua parte frontal foi demolida em 1911. Para substituí-la, foi iniciada a construção de catedral, estilo gótico, em 1912. Ainda inacabada, em 1923, ela foi inaugurada, disponibilizando-se para atos religiosos, substituindo a velha matriz.
Outros
templos erigidos na Cidade de Minas, em estilo neogótico foram inaugurados na
década de 20. A igreja de Lourdes (1922), de fino acabamento e sólida
estrutura. Outros já seriam inaugurados como a igreja de São José e a Sagrado
Coração de Jesus. Mas ainda são da década de 20 os monumentos da igreja de São
Sebastião no Barro Preto e Nossa Senhora das Dores, na Floresta (1921).
Não se poderia deixar de informar sobre
a presença do majestoso edifício do Automóvel Clube, estilo neoclássico, com
projeto de Luiz Signorelli, inaugurado em dezembro de 1929 e da sede do Banco
do Brasil, 1926, (Avenida Afonso Pena, ao lado do Café Nice).
Relembrando e confirmando que a
inauguração do monumental Viaduto Santa Teresa, em 1929, tinha como
governador-presidente, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e prefeito da capital
Belo Horizonte, doutor Cristiano Machado.
Doutor João Pinheiro! Quem somos nós
para discutir princípios e metas dessa Comissão Construtora da Nova Capital,
sobre a demolição total e radical da velha freguesia de Curral del-Rei? Eles imaginavam uma cidade inteiramente
moderna, sem nenhum vestígio do estilo colonial barroco de Ouro Preto. Nisso,
nesse particular, foram determinados e realmente surgiu uma cidade com aspectos
angulares do século XX. Foi uma decisão corajosa porque o povoado já contava
quase 200 anos. Limpar a área, devastar o campo e fazer um amplo e belo
horizonte. Foi realmente o que fizeram e obraram muito bem.
Como tinha previsto na minha carta
anterior, o desenvolvimento do ensino público no estado deve tudo e
principalmente à sua iniciativa. Lembra-se da inauguração do Grupo Escolar de
Diamantina? Lembra-se de que dona Júlia Kubitschek, (1873 – 1971) mãe do
ex-presidente Juscelino Kubitschek,
era professora de uma das
pequenas escolas particulares? Lembra-se
de que nas pequenas salas reuniam os alunos de todos os níveis de
desenvolvimento? O professor ou professora ensinava a todos na mesma classe, ou
melhor, havia apenas uma classe. Esse Grupo Escolar de Diamantina foi
inaugurado em 1906, com a sua presença, claro. O filho de dona Júlia, Juscelino
Kubistchek (1902 -1976) também estava presente e contava quatro anos de idade.
Depois, imediatamente, o senhor se dirigiu para a sua cidade natal, Serro, para
a inauguração também do primeiro Grupo Escolar da cidade. Com isso, os
professores seriam remunerados pelo estado e haveria classes separadas para os
alunos em seus diversos níveis. Assim surgiu este termo: Grupo Escolar no
estado de Minas Gerais.
Em Belo Horizonte, outras iniciativas do
mesmo sentido foram realizadas e o Grupo Escolar Barão do Rio Branco teve
montagem especial e o senhor fazia questão de verificar a qualidade até do
mobiliário, além das instalações, de modo geral, para conforto dos alunos e dos
professores.
Imagine que o presidente do estado,
Antonio Carlos Ribeiro de Andrada criou
a Universidade de Minas Gerais e, em 7
de setembro de 1927, reuniu num só bloco os estabelecimentos de ensino superior
do estado. Foi nomeado, como primeiro reitor, o professor Francisco Mendes
Pimentel. Todas as escolas funcionariam nos seus respectivos prédios, tendo a
Universidade como sede provisória o edifício Stecket, à Rua Guajajaras. A
federalização ocorreu em 1949, sendo que a criação da Universidade Federal de
Minas Gerais, UFMG, ocorreu em 1965, como ainda permanece nos dias atuais.
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Faculdade Livre de Direito, implantada em Ouro Preto e transferida para a
capital em 10 de dezembro de 1908.
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Faculdade de Medicina, em 5 de março de 1911.
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Faculdade Livre de Odontologia e Farmácia, criada em 8 de março de 1911.
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Faculdade de Engenharia, em 21 de março de 1911.
Respeitosas saudações.




Amado amigo Rogério, obrigado por nos preencher mais esta lacuna no nosso conhecimento sobre a nossa inestimável BH. Que venham mais e mais homens visionários como Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, doutor Cristiano Machado e doutor João Pinheiro! Go ahead!!!
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