ASPECTOS DA HISTÓRIA DE BELO HORIZONTE
MINAS GERAIS - BRASIL
Autor: Rogério de Alvarenga
“Olhando para vocês, vi um belo
horizonte!” - exclamou o papa João Paulo II, (1920 – 2005), no dia 1º. de junho
de 1980, na praça Israel Pinheiro, Belo Horizonte, por ocasião da celebração de
missa campal para cerca de um milhão de pessoas. A partir desse dia, o povo
adotou esse local com o cognome de Praça do Papa, tal a emoção que essa
manifestação espontânea e justa emoldurou a autoestima dos belo-horizontinos.
Em retribuição imediata, o povo, em coro
improvisado, respondeu: “Rei!
Rei! Rei! – o Papa é nosso Rei! E assim,
nesse ato memorável, configurou-se um amor à primeira vista.
MENSAGENS VIRTUAIS
DOUTOR JOÃO PINHEIRO DA SILVA
MUITO DIGNO EX-PRESIDENTE DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
Hoje
já é dia 15 novembro de 2011. Estamos comemorando 122 anos de república.
Parabéns para o senhor, um batalhador incansável. Achei por bem enviar-lhe
mensagens virtuais por cartas, colocando-o em sintonia com alguns
acontecimentos ocorridos na cidade de Belo Horizonte, onde o senhor esteve até
os últimos dias de sua vida. Sei e sabemos todos do seu interesse pelo pleno
desenvolvimento, pelo crescimento deste estado que o senhor presidiu.. Desculpe-me
importuná-lo. Desde que o senhor nos deixou, em 25 de outubro de 1908, ficou o
Palácio da Liberdade com o sentimento de perda total. O povo do estado de Minas
Gerais ficou órfão, juntamente com a sua família, seus 12 filhos. Todos ficaram
órfãos, também, da sua ousadia administrativa, da sua visão do grande futuro do
nosso estado e, sobretudo, da sua fraternidade republicana.
Hoje,
resolvi invocar a sua paz, o seu repouso eterno. Tantas coisas aconteceram na
nossa nova cidade-capital, depois de sua partida e outras tantas vêm
acontecendo a cada dia que passa, que eu me lembrei de fazer uma crônica, reportando
para o senhor essas novidades. Sabemos
que a sua atuação como gerente, um grande gerente-governador-presidente, com a sua
larga visão, sempre foi republicano incansável na configuração dos destinos do estado
e, em particular, na confirmação do desenvolvimento da nova capital.
Sabemos
das suas dificuldades encontradas na época como presidente, pois este estado
tinha investido todos os seus recursos na construção da nova capital, na sua construção
e na sua instalação. Também na transferência de todos os funcionários. E esta
cidade-capital iria exigir muito mais em finanças e obstinação, para a
concretização de um plano arrojado e excessivamente ousado para a época. As
pessoas têm que entender que não foi fácil construir esta cidade-capital, num
período estipulado em quatro anos.
E
o senhor, como presidente do estado de Minas Gerais, primeiro presidente do
estado eleito pelo povo, após o governo instalar-se no Palácio da Liberdade, em
1906, substituindo o doutor Crispim Jacques Bias Fortes, (1847 – 1917) teve como
meta fundamental o desenvolvimento, de maneira ampla. Reconheço hoje com
aplausos a sua meta proposta também para a educação, um dos princípios
republicanos, na sua obstinação quanto à criação dos GRUPOS ESCOLARES, dando a
partida para a oficialização do ensino público.
Vou
recolher mais informações sobre essa meta dentro do plano educacional, para
transmitir informações em outras oportunidades. Saiba que a sua meta vingou
mesmo. Os seus Grupos Escolares se espalharam pelo nosso estado. E também as
escolas rurais e as colônias agrícolas, pela implantação de novos métodos e
técnicas para a agricultura e pecuária. O senhor foi obstinado, radical e
entusiasmado. Não podia ser diferente. Seu trabalho foi recompensado e
frutificou. Mas, hoje, tenho algo a
relatar, com a certeza de que será uma surpresa que irá lhe causar uma grande
alegria.

Darei
outras notícias, principalmente sobre o seu projetista, o engenheiro
responsável pela construção, em outra oportunidade. São tantas notícias que nem
sei bem por qual ponto devo começar. Sei, entretanto, que tudo é novidade para
o senhor. Apenas, mais uma informação: esta cidade de Belo Horizonte, neste
início de século XXI, cresceu tanto que entornou, transbordou pela Avenida do
Contorno, que foi projetada para ser o seu limite urbano. Extravasou, extrapolou, expandiu. Inacreditável, dirá o
senhor, não é verdade?
Aqui
me despeço, prometendo dar continuidade a estes relatos amanhã bem cedo, para
poder trazer informações complementares sobre a Cidade de Minas, hoje, Belo
Horizonte.
P.S.
Achei
melhor dar uma pequena informação sobre o engenheiro Emílio Baumgart,
projetista e construtor do Viaduto Santa Teresa. Era Emílio Henrique Baumgart,
(1889 – 1843), natural de Blumenau (SC), filho do imigrante alemão Gustav Baumgart
e de Mathilde Odebrecht, também filha de imigrante alemão. Isso mesmo. Pois o
engenheiro-projetista, devidamente graduado, montou no Rio de Janeiro, no ano
de 1925, o primeiro escritório de engenharia, especializado em estruturas de
concreto armado do Brasil. E teve sucesso como inovador e como competente
profissional. Pois esse Viaduto Santa Teresa, projetado e construído por ele, é obra de arte
que vai romper os séculos pela sua beleza e pela sua rigidez estrutural.
Estive
fazendo um passeio por ele, à tardinha, olhando lá de cima a praça da estação,
a Serraria Souza Pinto, a Avenida dos Andradas, o Parque Municipal, a Avenida
Assis Chateaubriand e me perdi no tempo e nas lembranças mais profundas do meu
ser. Lembrei-me que nele se fazia o footing nas belas tardes fagueiras. As moças
desciam do bairro da Floresta e de Santa Teresa para um passeio, um desfile de
ida e volta, ao longo do viaduto, vendo os rapazes que se punham a admirar cada
uma delas. O sol ia se pondo, as luzes elétricas se acendiam e a modernidade
chegava num estalar de dedos. Tempos gloriosos vividos nessa jovem cidade, inaugurada
em 12 de dezembro de 1897, bela e realmente moderna. Penso até que o seu
projetista Aarão Reis (1853 – 1936) teve
algum mérito ao decidir a demolição, sem dó nem piedade, dos casebres de Curral
del-Rei, para surgir das cinzas uma cidade realmente nova.

Saudações respeitosas do seu amigo,
Belo Horizonte, 16 de novembro de 2011
DOUTOR
JOÃO PINHEIRO DA SILVA
RESPEITOSAS
SAUDAÇÕES
Cumprimento-o,
mais uma vez, nesta manhã de sol, de ventos suaves como são as brisas das
montanhas.
Lembrei-me
de comentar com o senhor sobre o primeiro habitante civilizado destas plagas:
JOÃO LEITE DA SILVA ORTIZ. Ele chegou a
esta região em 1701, vindo não sei de qual região do estado de São Paulo, para
fazer não sei o quê. Claro está que ele procurava ouro. O certo é que esse
bandeirante aconchegou-se às serras das Congonhas, hoje, serra do Curral e aqui
permaneceu durante quase trinta anos.
Os
bandeirantes são andarilhos por excelência, mas João Leite da Silva Ortiz achou graça neste
local e resolveu permanecer e explorar a região. Assim, seus amigos e
companheiros de bandeira procuraram produzir alguma coisa de subsistência,
dentro dos padrões mais primitivos de sobrevivência: plantar, colher e comer. Não
encontrou ouro na região e resolveu
aprofundar sua expedição para o interior do estado de Goiás. Mais tarde, chegou
a notícia que ele tinha falecido em 1730, na cidade do Recife.
Imagine-se
que há 310 anos, neste local, foi iniciada a construção do povoado de Curral del-Rei,
que progrediu rudimentarmente também na criação de gado, vindo da Bahia, na plantação
de cereais e, posteriormente, até de algodão. Em Contagem das Abóboras, nas
proximidades de Curral del-Rei, havia o posto de fiscalização para cobrança de
impostos e registro do gado, de modo que corria muito dinheiro na praça. Edificaram-se casas muito simples, mas
adequadas para as condições sociais e econômicas dos seus moradores da época. Posteriormente,
Aarão Reis, o construtor da Nova Capital, como o senhor sabe, chamou essas
construções de “choupanas”. O povoado cresceu e desenvolveu. Chegou a serem
instaladas fábricas de tecidos em Sabará. Até mesmo iniciativas de fundição de
ferro e bronze. A usina ficava nas imediações da lagoa Maria Dias, atualmente
entre a avenida
Paraná e rua dos Carijós.
Mas,
em continuidade, construiu a Fazenda do Cercado. Era a sua sede administrativa,
sua residência. Ela ficou. Informo ao senhor que essa bela fazenda é o único
vestígio arquitetônico da sua passagem por
esta região. Encontra-se primorosamente conservada e transformada como museu. É
um retrato vivo da história da Cidade de Minas, ou melhor, do povoado de Curral
del-Rei. Esse museu é uma relíquia que aos tempos confirmará a nossa origem. Outra
coisa que gostaria de comentar com o senhor seria a atuação dos opositores à
mudança da capital de Ouro Preto para outro lugar qualquer que fosse, mesmo
ainda não definido. Como o senhor sabe, para toda ideia que surja e que
implique em mudança, existem opositores, sempre bem armados de argumentos
fortes. Os ouro-pretanos se armaram de argumentos, reunindo forças contrárias à
mudança, forças políticas desafiadoras. Arregaçaram-se as mangas da camisa e saíram
em defesa da permanência da capital em Ouro Preto, cidade muito amada.
Na
verdade, um dos fortes argumentos criados
pela oposição era a constatação de que grande número dos moradores do
povoado de Curral del-Rei, local escolhido para a construção da capital, sofria
de bócio. Seria o clima, ou a água da região? Não havia estudos comprobatórios.
Pois não é que havia mesmo na região alguma coisa que parecia uma epidemia de
papudos, isto é, de pessoas que tinham um tipo de deformação física denominada
de bócio? Diziam que era causado pelo clima. Talvez que o ar ou a água da
região contaminava os moradores, e coisa e tal. Por outro lado, havia outras regiões, além desta do Vale
do rio das Velhas, que pleiteavam a instalação da nova capital. Formaram-se os
grupos que defendiam essas regiões. Eram grupos de mudancistas. Pleiteavam
mudanças para a sua região. Uma dessas facções de mudancistas, uma delas, a
mais forte, era a região próxima a São João del-Rei, que relembrava o
imaginário do inconfidentes. Assim, nas
decisões finais, tendo como grande defensor Augusto de Lima (1859 – 1934),
Curral del-Rei venceu por dois votos apenas, considerando-se a sua localização
como um ponto equidistante de todas as regiões do estado. Não seria totalmente
equidistante, mas o ponto geográfico que facilitaria a comunicação com todas as
regiões do estado. Argumento muito forte, não é verdade?
Afonso
Pena (1847 – 1909) não perdeu tempo. Criou logo a Comissão Construtora da Nova
Capital (CCNC) pela Lei n.3, art. 2º., adicional à Constituição do estado, em 7
de dezembro de 1893. Confiou a
coordenação ao engenheiro Aarão Reis (1853 – 1936). Prazo para a construção da
nova capital? Quatro anos. Quando essa Comissão Construtora da Nova Capital
arranchou no povoado de Curral del-Rei, encontrou uma região com moradores
tradicionais por assim dizer, habitada desde 1701. Propriedades urbanas e
rurais. Havia na época, no povoado, 172 casas residenciais, 4.000 habitantes, 8
ruas, 16 pontos comerciais, 31 fazendas, 1 farmácia, 2 pontos de escolas, 2
largos ou praças. Vários engenhos. Era um povoado já com mais de cem anos de
existência. Houve a decisão do chefe da Comissão Construtora: destruir tudo
para começar tudo de novo. Eis a questão. Prejuízos generalizados. A quem
recorrer? Acontece que grande extensão
de terras da região já pertencia ao estado. Os moradores passaram, então, a serem
admitidos como operários da Comissão Construtora, numa forma de suavizar
prejuízos. Na ocasião, havia 6.000 operários na construção da Nova Capital. E grandes
problemas para a gerência das obras. Aarão Reis não resistiu até o final da
obra e pediu exoneração. Foi substituído pelo engenheiro Francisco Bicalho que
gerenciou a obra até o dia de sua inauguração, dentro do prazo estabelecido. Imagine
senhor presidente do estado, como era o regime de trabalho da época, após a
abolição da escravatura. Alimentação para esses trabalhadores, habitação,
saúde, nesse planalto vazio de recursos? Com muito sofrimento humano,
sofrimento incalculável, como sempre, nesse curto espaço de tempo, a cidade
floresceu. Veja que Brasília foi construída em três anos e oito meses.
Meu
pensamento vagueia pelos idos de 1890, tempos que o senhor teve oportunidade de
presenciar, de participar e de comandar. Fui longe demais nesse passeio no
tempo e peço desculpas se não tiver sido totalmente exato nestas informações. Voltarei
ao assunto, mas ainda vou tentar identificar a questão da mudança. Mudar por
mudar - sempre para subir mais um degrau no aperfeiçoamento humano. O que move
a humanidade é o inconformismo. O presidente
Afonso Pena (1847 – 1909), então presidente Conselho do estado, decidiu que
seria construída uma nova capital, pois Ouro Preto não tinha mais condições de
suportar as dimensões de capital do estado. Daí por diante, o sol nunca brilhou
tão intensamente na ardente mensagem de coragem para o povo mineiro. Não havia
mais passagem de volta. Assim, Augusto de Lima já tinha sugerido o local, em 1891.
A
primeira mensagem foi enviada ao Congresso Estadual em 17 de abril de 1891,
propondo a mudança. Os ouro-pretanos achavam impossível esse empreendimento. Mas, onde seria mesmo plantada essa nova
capital? Havia várias indicações bem fortes para definição do local,
principalmente a várzea do Marçal, vizinha a São João Del-Rei. A região do vale
do rio das Velhas, na decisão final, venceu e foi publicada a mensagem do
Congresso Legislativo a Lei de mudança da capital. O senhor conviveu com esse dilema, com esse
grande problema. Uma decisão política, mas, antes de tudo, centrada em estudos
técnicos para a plena viabilidade. E esta região, no povoado denominado Curral del-Rei,
por apenas uma pequena margem de vantagens técnicas foi considerada a região
escolhida pelo destino para ser a Belo Horizonte, não é verdade? O senhor sabe que nessa época não
havia tratores e, consequentemente, os trabalhadores tiveram que empregar
esforços mais do que dobrados. Houve grande movimentação de terra, abrindo
ruas, avenidas e praças. Havia trabalhadores estrangeiros especializados na
construção dos palácios administrativos. Imagine que os engenheiros e
arquitetos projetaram esses palácios monumentais, com toda a papelada em
plantas com detalhes técnicos, dentro dos padrões de uma arquitetura avançada,
num estilo condizente com a filosofia e gosto da época, estilo neoclássico,
meio art-nouveau. E tinham ainda que projetar as plantas das conexões
hidráulicas e elétricas. Novidade para o mundo moderno. Água encanada. Eletricidade.
Criar e equalizar um estilo arquitetônico em contraste total ao colonial e
barroco. Nada que traduzisse influência de Ouro Preto. Tudo novo e moderno.
Entusiasmo e petulância.
A
nova república, instalada em 1889, impunha avanço tecnológico para elevar a
qualidade de vida, sempre procurando um grau a mais, um degrau avançado no
desenvolvimento humano, da ordem e do progresso. Uma república, uma recente
república, numa visão positivista, inspirada e configurada nos ideais dos
governantes da época, atraídos pela filosofia de Augusto Comte (1798 – 1857). Afonso Pena era presidente do estado, entre o
período de 1892 a 1894. Lembramos que Afonso Pena foi o primeiro
governador/presidente do estado eleito por voto direto. Imprimia-se agilidade memorável nas decisões e
na efetivação dessas decisões. Empolgação total. Assim, para confrontar essas
mudanças, vou fazer algumas referências à capacidade de adaptação do povo
mineiro. Tantas mudanças ocorreram muito rapidamente, que não havia tempo nem
para pensar duas vezes. Logo depois da saída de Afonso Pena do governo do
estado, foi substituído por Crispim Jacques Bias Fortes (1847 – 1917). E o
presidente Bias Fortes administrou o impossível, na opinião dos céticos. Uma
cidade saída do papel e em quatro anos resplandecia
ao alvorecer do século XX. Como isso foi conseguido? Mudanças, já. Doutor João
Pinheiro, não achava que tal iniciativa era grande demais para um estado,
sozinho, enfrentar e chegar vitorioso no novo século? Sei e sabemos todos que o
senhor não tinha apego a tradições inúteis. O século XX estava batendo às
portas. Mudanças!
Agora me despeço, respeitosamente.
Belo Horizonte, 17 de novembro de 2011
EXCELENTÍSSIMO
SENHOR
JOÃO
PINHEIRO DA SILVA
Hoje,
os mudancistas progressistas estiveram pairando sobre o imaginário dos
mineiros. Mudar a capital foi um ato de coragem. Mas, nesta vida não há
escapatória. Mudar é uma lei do universo. No dia que uma pessoa nasce, casa-se com a mudança. Pode não ter sido um
casamento formal, mas irá passar o resto da vida juntos.
A
velha capital, Ouro Preto, teve que adaptar-se para não desaparecer. Sofreu o
baque da depressão total, reagiu e hoje é transformada em cidade monumento. O
desenvolvimento causa desequilíbrio. Quem quer que seja que provar do
desenvolvimento, sentirá na pele a necessidade de se adaptar às novas
emergências. Assim, em 1830, um cavalo apostou uma corrida com a locomotiva e
perdeu. Pela primeira vez no mundo, um ser humano viajava mais rápido que um
cavalo e, em 1906, Santos-Dumont levantou um aparelho mais pesado que o ar,
transportando uma pessoa. Hoje, um avião a jato transporta centenas de
passageiros confortavelmente, a preços disponíveis para todas as classes
sociais e econômicas.
Doutor
João Pinheiro, veja a diferença de tecnologia entre o rei Salomão e Dom Pedro
I. Estiveram separados por mais de 3.000 anos, mas ambos viveram em condições
semelhantes. Nenhum teve o sistema de água encanada, aquecimento ou
refrigeração e iluminação. Dominavam pelo poder escravo. E o sistema de
transporte e comunicação? Tudo feito pelo cavalo. Muito pouca coisa aconteceu
entre a vida de um e do outro. Pois bem, veja as transformações que ocorreram
no mundo, nestes últimos 141 anos? Não ficou pedra sobre pedra.
Para
finalizar, veja que, se uma pessoa disser que está fazendo uma determinada
coisa da mesma maneira que costumava fazer, ele estará, provavelmente, fazendo-a
por um método ultrapassado. Alguém estará fazendo melhor. Veja, pois, no alto desses anos de 2011,
os mudancistas da nova capital tinham razão. Imagine se estivéssemos subindo e
descendo as velhas ladeiras de Ouro Preto, ainda hoje. Imagine, agora, o
senhor, no alto do século 21, se a capital do Brasil ainda rondasse praias e
favelas. Mudança é uma constante ameaça. Se alguém deseja permanecer no seu
negócio por alguns anos a mais, é melhor que esteja disposto a fazer mudanças
propositalmente.
Peço
me desculpar por essas divagações. Achei-as oportunas porque o senhor derrubou
princípios e crenças, inovou, criou, estimulou. Devemos nós, eu sei e sabemos
todos, que sua compulsão pela educação deu frutos e hoje, apesar de o estado de
Minas Gerais contar apenas 300 anos, consegue, em muitas frentes de trabalho e
de conhecimento, superar ou acompanhar outros estados com 500 anos de vida
civilizada. Esta divagação tornou-se
importante para reconhecer a capacidade de decisão dos nossos governantes mineiros
do final do século XIX. Assim justifico.
Por
hoje, me despeço. Devo continuar ainda em outras cartas.
Saudações respeitosas.
Saudações neste dia 18 de novembro de 2011
MEU
CARO GOVERNADOR/PRESIDENTE,
JOÃO
PINHEIRO

Informo
que hoje a educação fundamental no estado e mesmo no país está em fase de
expectativa por mudanças. Veja bem! Qual
é a base da revolução da China? A educação. A verdadeira salvação da
humanidade! Cumpre despertar as autoridades! Como o senhor disse: “Não há
democracia sem educação.” E a educação no Brasil está em crise.
Pressente-se
a necessidade de transformação de métodos de ensino, para o enfrentamento dos
desafios da teconologia. Visão 360 graus. Como acompanhar o avanço surpreendentemente
rápido dessa tecnologia em todos os campos do conhecimento? Tudo mudou nestes
últimos anos. E o que mudou ontem? E o
que está sendo mudado hoje? Esperemos um novo João Pinheiro da Silva? Ou
esperemos um novo Antônio Carlos Ribeiro de Andrada? Até quando?
Aqui
me despeço por hoje. Avancei um pouco nestas observações. Peço me desculpar
pela ousadia.
Respeitosas saudações
Belo Horizonte, 2 de dezembro de 2011
CARO
E PREZADO JOÃO PINHEIRO!
SAUDAÇÕES
RESPEITOSAS
Os que sempre mudam são os ciganos e os bandeirantes. O destino deles
é viajar. Hoje, também os astronautas.
Mudando um pouco
a convergência dos nossos assuntos, lembrei-me de comentar alguma coisa que é
também do seu conhecimento. É sobre a matriz da Boa Viagem. Aliás, Matriz de
Nossa Senhora da Boa Viagem. Ela foi construída pelo povo de Curral del-Rei,
com muita devoção e carinho. Era antes uma capela de taipa, de capim, tosca. Com
o tempo, com as reformas e adaptações constantes, tornou-se um templo de maiores
dimensões, artisticamente posto para os atos religiosos da população que
crescia e se envolvia em atividades do comércio e da agropecuária. Isso mesmo!
A antiga capela de Nossa Senhora da Boa Viagem trazia consigo uma história bem
fundamentada de um piloto da nau de Dom João V (1689 – 1750) que naufragou nas
cercanias da ilha das Cobras no Rio de Janeiro, em 1709. Era o piloto da nau o
senhor Francisco Homem del-Rei, que conseguiu retirar o nicho com essa imagem
de Nossa Senhora da Boa Morte e guardou
essa imagem, portando-a consigo. Mais
tarde, chegando ao povoado de Curral del-Rei, iniciou a construção de uma
capela para abrigá-la, tendo essa imagem como guia e padroeira. Tanto tempo passou, tendo a decisão de tornar
essa capela em confortável templo de orações. Trabalho continuado e
persistente. Assim, a matriz teve a provável conclusão apontada para os anos de
1775/1776. Já não era uma simples capela, mas a matriz da freguesia de Curral
del-Rei. Teve pois a sua missão de abrigar as almas religiosas por 135 anos.
Agora, chegou a Comissão Construtora da Nova Capital com o objetivo formado
quanto à estrutura arquitetônica da Cidade de Minas que não admitia a
permanência de edificações em estilo colonial nem barroco. Assim, a matriz foi condenada à demolição, juntamente
com todas as outras edificações religiosas existentes. Na primeira tentativa de
demolição, as demais tombaram e a matriz da Nossa Senhora da Boa Viagem
permaneceu mais alguns anos, mediante a intervenção popular e da diocese de
Mariana. Mesmo assim, estava condenada e a sua parte frontal foi demolida em 1911. Para
substituí-la, foi iniciada a construção de catedral, estilo gótico, em 1912.
Ainda inacabada, em 1923, ela foi inaugurada, disponibilizando-se para atos
religiosos, substituindo a velha matriz.
Era
pensamento firmado da Comissão Construtora da Nova Capital não deixar vestígios
de Curral del-Rei, numa obstinação compulsiva contra o estilo colonial barroco.
Com isso, nada configura esse povoado erguido por João Leite da Silva Ortiz, a
não ser a fazenda do Leitão, ou fazenda do Cercado. Cruel reminiscência para as
decisões da CCNC. Poderiam ainda não se perdoar por esse esquecimento, por esse
lapso, deixando de pé essa gloriosa edificação memorial. Hoje tornou-se o monumental Museu Histórico
Abílio Barreto, com centenas de documentos que confirmam o passado do velho
povoado.
Outros
templos erigidos na Cidade de Minas, em estilo eogótico foram inaugurados na
década de 20. A igreja de Lourdes (1922), de fino acabamento e sólida
estrutura. Outros já seriam inaugurados como a igreja de São José e a Sagrado
Coração de Jesus. Mas ainda são da década de 20 os monumentos da igreja de São
Sebastião no Barro Preto e Nossa Senhora das Dores, na Floresta (1921). Não se poderia deixar de informar sobre a
presença do majestoso edifício do Automóvel Clube, estilo neoclássico, com
projeto de Luiz Signorelli, inaugurado em dezembro de 1929 e da sede do Banco
do Brasil, 1926, (Avenida Afonso Pena, ao lado do Café Nice). Relembrando e
confirmando que a inauguração do monumental Viaduto Santa Teresa, em 1929,
tinha como governador-presidente, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e prefeito
da capital Belo Horizonte, doutor Cristiano Machado.
Doutor
João Pinheiro! Quem somos nós para discutir princípios e metas dessa Comissão Construtora
da Nova Capital, sobre a demolição total e radical da velha freguesia de Curral
del-Rei? Eles imaginavam uma cidade
inteiramente moderna, sem nenhum vestígio do estilo colonial barroco de Ouro
Preto. Nisso, nesse particular, foram determinados e realmente surgiu uma
cidade com aspectos angulares do século XX. Foi uma decisão corajosa porque o
povoado já contava quase 200 anos. Limpar a área, devastar o campo e fazer um amplo
e belo horizonte. Foi realmente o que fizeram e obraram muito bem.
Por
hoje, me despeço.
RESPEITOSAS
SAUDAÇÕES
Belo Horizonte, 6 de dezembro de 2011
PREZADO
JOÃO PINHEIRO!
RESPEITOSAS
SAUDAÇÕES
Como
tinha previsto na minha carta anterior, o desenvolvimento do ensino público no
estado deve tudo e principalmente à sua iniciativa. Lembra-se da inauguração do
Grupo Escolar de Diamantina? Lembra-se de que dona Júlia Kubistchek (1873 –
1971) era uma professora de uma das pequenas escolas particulares? Lembra-se de que nas pequenas salas reuniam os
alunos de todos os níveis de desenvolvimento? O professor ou professora ensinava
a todos na mesma classe, ou melhor, havia apenas uma classe. Esse Grupo Escolar
de Diamantina foi inaugurado em 1906, com a sua presença, claro. O filho de
dona Júlia, Juscelino Kubistchek (1902 -1976) também estava presente e contava quatro
anos de idade. Depois, imediatamente o senhor se dirigiu para a sua cidade
natal, Serro, para a inauguração também do primeiro Grupo Escolar da cidade.
Com isso, os professores seriam remunerados pelo estado e haveria classes
separadas para os alunos em seus diversos níveis. Assim surgiu este termo:
Grupo Escolar no estado de Minas Gerais. Em
Belo Horizonte, outras iniciativas do mesmo sentido foram realizadas e o Grupo
Escolar Barão do Rio Branco teve montagem especial e o senhor fazia questão de
verificar a qualidade até do mobiliário, além das instalações, de modo geral,
para conforto dos alunos e dos professores.
Imagine
que o presidente do estado, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada criou a Universidade de Minas Gerais e, em 7 de setembro de 1927, reuniu
num só bloco os estabelecimentos de ensino superior do estado. Foi nomeado,
como primeiro reitor, o professor Francisco Mendes Pimentel. Todas as escolas
funcionariam nos seus respectivos prédios, tendo a Universidade como sede
provisória o edifício Stecket, à rua Guajajaras. A federalização ocorreu em
1949, sendo que a sismatização da Universidade Federal de Minas Gerais ocorreu
em 1965, como ainda permanece nos dias atuais.
Foram
criadas no início do século XX, as seguintes faculdades:
- Faculdade Livre de Direito,
implantada em Ouro Preto e transferida para a capital em 10 de dezembro de 1908
- Faculdade de Medicina, em 5 de março
de 1911
- Faculdade Livre de Odontologia e
Farmácia, criada em 8 de março de 1911
- Faculdade de Engenharia, em 21 de
março de 1911
Respeitosas saudações, com um forte
abraço.
Belo Horizonte, 11 de dezembro de 2011
EXCELENTÍSSIMO
EX-PRESIDENTE DO ESTADO
DOUTOR
JOÃO PINHEIRO DA SILVA
Achei oportuno,
hoje, revendo o mapa da literatura do século XX, com relação aos autores que
compõem o imaginário do povo do nosso estado, fazer um relato sobre alguns deles.
Tivemos muitos autores bem situados pela crítica e pela opinião pública.

O primeiro,
envolvido pela medicina, pela psiquiatria, na luta pela vida, nos anseios de
viver a vida afetiva com intensidade. A filosofia, construída na adolescência
fez um poeta, um articulista. O outro, um escritor de bem com a vida, com humor
contagiante, pesquisador do comportamento humano, simples como água cristalina!
Para quem escrevia? Qual era o seu público? Para o povo. Não escrevia somente
para a classe intelectualizada e culta. Produziu arroubas de palavras. E os
leitores sempre chegavam à última pagina de cada um de seus livros.Já o
terceiro cavaleiro foi envolvido na administração pública, em cargos de
relevância diplomática e se projetou como jornalista em órgãos da imprensa
nacional. Articulista, imprimiu um pensamento eivado de tradições de sua cidade
natal. Por fim, este último
cavaleiro, diziam com irreverência que era dado à galhofa. Verdade? Claro que
sim. Dizia verdades contundentes em frases curtas, encaixadas nas brechas
oportunas da vida política e social. “Minas está onde sempre esteve!” Ou “em
cima do muro!” Ainda, atribuída a ele: “O mineiro só é solidário no câncer!”!
Por isso, Nélson Rodrigues dizia que era necessário ter um taquígrafo atrás
dele para anotar as suas imprevisíveis e oportunas locuções. Estes quatro
mineiros fizeram época e dominavam o cenário literário do Brasil, nas décadas
de quarenta a oitenta. Chegaram à vida e se foram dela em tempos semelhantes.
Entretanto, cumpre-nos preservar a passagem deles por este planeta Terra. Não é
justo?
Prezado
Presidente do estado! Devemos especial atenção a Fernando Sabino, nascido no
bairro dos Funcionários, que conseguiu dobrar a serra para o mar com seu
romance Encontro Marcado. Curtia uma angústia com seus amigos, nos bares e nas
praças da nossa bela capital. Com ele, isto é, com esse romance, vivenciado em
Belo Horizonte, Fernando Sabino atingiu as alturas literárias, pela
simplicidade e pela sinceridade de uma possível autobiografia. É a descrição de
uma adolescência aburguesada e deslumbrada, superando tendências machistas de
transpor o arco do Viaduto Santa Teresa e de fazer malabarismos na praça da
Liberdade. Namoricos com a filha de um misterioso político emolduram o
romantismo enrustido no período de sua adolescência. O Encontro Marcado marcou
realmente um ponto significativo da vida literária nacional.
Agora me despeço com um fraternal
abraço.
Belo Horizonte, 12 de dezembro de 2011
PREZADO
AMIGO JOÃO PINHEIRO
Esta
é a minha última carta. Aqui me despeço, sempre muito respeitosamente. Estamos
comemorando hoje, dia 12 de dezembro, os 114 anos da nossa cidade: Belo
Horizonte. Jovem, majestosa, altaneira. Tantos poetas já se encantaram com ela,
a partir de Mário de Andrade que, numa visita, chamou-a de “cidade jardim”, “cidade
vergel”. Não é feriado municipal. Uma injustiça! É uma cidade que não comemora
o seu aniversário. Muitas razões, nenhuma verdadeira.
Ronda-nos,
ainda, o poeta Emílio Moura (1902 – 1971), natural de Dores do Indaiá, mas que
aqui tem seus pés fincados, e seu cérebro rondando as coisas de Minas Gerais,
pelo seu sentimento de fino trato e sua introspecção própria de um montanhês. Confirma-se
o seu talento poético: “Sozinho, sozinho, perdido na bruma/ há vozes aflitas
que sobem, que sobem,/ mas, sob a rajada ainda há barcos com velas/ e há faróis
que ninguém sabe de que terras são.” (Interrogação). Ou ainda: “Viver não dói.
O que dói/ é a vida que se não vive/ Tanto mais bela sonhada,/ quanto mais
triste perdida.”/
Senhor
Presidente, João Pinheiro! Procurei me
fixar na sua proposta republicana, na sua imagem pessoal, tanto quanto pude.
Obrigado! Adeus!
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