O ocaso do poder e da glória!!!
Afastem-se de mim malditos fados, amargos e cruéis sonhos alados, que serão
transformados em cinzas ao vento.
Eis a sentença inevitável e universal para os seres
vivos: “ou morrer ou ficar velho”. Não há escapatória. A mocidade pode ser
cantada ou decantada em prosa ou em verso que a guilhotina do tempo cortará
palavras, ações ou intenções.
Festejando a passagem do tempo, aqui estão dois sonetos
em lamentações e constatações dessa ventania do tempo.
O soneto é uma composição poética rígida em seu formato
e imutável na sua estrutura. A síntese é a sua bandeira fundamental. As
palavras ficam enjauladas no seu posto determinado. Assim foi desde os tempos
de Petrarca e Dante Alighiere ou Camões. Mais recentemente, com o português
Antero de Quental e os brasileiros Olavo Bilac, Raimundo Correia, Augusto dos
Anjos. Recentemente, Vinicius de Morais. Os sonetos servem para exprimir paixão
ou erotismo, conceitos filosóficos ou emoções, ou ainda, desabafo e choro de
apaixonados e “cornuti”
Agora, são apresentados estes dois sonetos dedicados à
terceira idade, sem choro nem vela. Eis a constatação da velhice, do antigo
tempo de glória e poder. Retratam, sem retoque, imagens do tempo passado, das
ilusões perdidas, tão cruéis como a própria fragilidade da vida. Os jovens que
se cuidem que o tempo deles chegará,
rápido e trepidante. Amargos e cruéis sonhos alados que serão transformados em
cinzas ao vento. Adeus sonhos alados!!!
LEÃO
VELHO
Leão
velho vai no fim da manada
Estrepes
nos pés, com fome incontida
Ronco
rouco e vista turva embaçada
Juba
emaranhada, força perdida.
O
rei da selva com a extinta coroa
Embalde
enfrenta seguir a jornada
Tenta
pegar a ratazana à toa
E
perde essa luta desesperada.
Os
gordos ratos brincam em festival
Pulando em suas pernas, sorridentes.
Nunca
essa vida foi tão desigual.
Velho
rei desfila, passos silentes
Quando
os lobos aguardam o funeral
E
as hienas em gritos estridentes.
DESPEDIDA
Seus
troféus e tantas poucas medalhas
Conquistas
que foram em duras batalhas.
Nada
foi além de sonho ilusório.
A
vida tornou-se em campos minados
Cada
passo um trovão, uma tempestade
De
tantos erros nasce esta maldade
Descaminhos,
enganos deparados.
Dor
silente corrói internamente
Nada
resta senão que transportar
Para
o corpo tudo que está na mente
E
viva o herói sem poder mergulhar
Nessas
águas turvas eternamente
Mesmo
que esteja a ponto de chorar.
Rogério prezado,
ResponderExcluirum mimo teu par de sonetos. Remetem-me a tempos colegiais, quando, no estudo dos Lusíadas, apareceu a figura do Velho do Restelo, temperando, com prudência a intrepidez dos navegantes lusos.
abs, Paulo Miranda
Sou abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. No mais, vamos tocar o barco dia após dia... E como vc, vamos ter muitas histórias para contar. Continue a escrever esses belíssimos textos.
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