DE FERNANDO MORAIS E DE PAULO COELHO
Paulo Coelho tornou-se o autor vivo mais traduzido do planeta, pondo a
salvo a literatura brasileira, cujos autores não vão além das quatro linhas,
apesar dos ministérios, das medalhas, dos fardões e dos chás das cinco. Muita
ornamentação, muita esnobação, pouca produção, nenhuma repercussão.
O MAGO – MORAIS, Fernando. Editora Planeta do Brasil: São Paulo, 2008 – Além de editado no Brasil, está sendo publicado em 30 países. São 630 páginas, 30 capítulos, 101 entrevistas, com guia onomástico de 846 referências pessoais.
Não é a primeira vez que Fernando Morais enfrenta uma pedreira dessa natureza. Esse livro foi iniciado em fevereiro de 2005 e concluído em fevereiro de 2008.
Não é, pois, a primeira vez que Fernando Morais,
membro da Academia Marianense de Letras (MG), ocupando a cadeira número 13,
antes ocupada por Tancredo Neves, enfrenta uma barreira dessa magnitude, tendo
pela frente a figura controvertida do escritor Paulo Coelho. Controvertida mas
que, nas duas últimas décadas, tornou-se fenômeno literário da humanidade.
Paulo Coelho, místico, misterioso, fabulista, persignado, cheio de mandalas e
crenças, rodando pelo mundo afora, ergue sua aura aos deuses e pede proteção.
Agora, Paulo Coelho, autor de 22 livros, com vendagem mundial de mais de cem
milhões de cópias, com 455 traduções publicadas em 66 idiomas e 160 países,
excluídas as edições piratas. Paulo Coelho, o autor vivo mais traduzido do
planeta.
Fernando Morais vem contribuindo decisivamente para
fundar a biografia como modelo literário no Brasil, tendo já obras traduzidas em
19 países. Esta é a sua oitava investida no campo dos grandes desafios.
Desta vez, Paulo Coelho foi dissecado nos mais
recônditos esconderijos de seu íntimo, sem dó nem piedade. Assim, pode-se dizer
que um dos grandes méritos da obra seria a honestidade intelectual demonstrada
com o biografado. Não escondeu, não inventou eufemismos, não mistificou e não
crucificou. Nem o biografado nem o leitor.
Quando se disseca uma biografia, a primeira impressão que ressalta é a
de que o biografado vai ser enaltecido até as raias das inverdades. Principalmente
quando ele ainda vive. Neste caso, não. Apresentou um trabalho de fôlego,
árduo, longo, pesado e de grande responsabilidade, principalmente porque o
biografado está vivo e depois de publicada a biografia, pode estar cara a cara
com ele.
É, antes de tudo, à primeira vista, um trabalho
braçal – apesar de intelectual. O bastidor tinha que trabalhar como uma oficina
industrial, com equipe montada para estabelecer contatos, selecionar textos e
fotografias, discutir os rumos da obra, contestar, digitar, contabilizar
despesas, disponibilizar recursos para viagens e entrevistas, bem como outros
procedimentos assemelhados. Para tanto, relacionou em primeiro lugar o seu
amigo Wagner Homem, craque da informática. Depois, seus dois irmãos, Ricardo
Setti e o outro, Reinaldo Morais, em
disponibilidade de tempo integral.
Resta uma pergunta que fica no ar, mas que vale a
pena emitir: Quem é o fenômeno nesta obra? Paulo Coelho ou Fernando Morais? O
autor sempre aproveita um pouco da fama ou do prestígio do biografado,
contaminando-se em suas glórias e vitorias. Juntos, de agora em diante, estarão
constituídos numa dupla Coelho e Morais, enfrentando as falanges dos dragões.
Não há barreiras para eles, alcançando horizontes cada vez mais largos. Paulo
Coelho continua em ação, rodando o mundo, pesquisando, enveredando-se no
misticismo e alardeando mistérios insondáveis. Fernando Morais continua com a
oficina aberta, dando vazão a biografias de vultos memoriais e contribuindo
para fixar o modelo de biografias como formato literário sempre ao paladar dos
leitores. (Agosto 2008)
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