A visão ou
reconhecimento do próprio corpo é o que revela esta palavra misteriosa que vive
nos porões da fisiologia humana.
Nunca
me vi, como vou saber quem sou eu, diz o Duque, meu cão fila de estimação. Mas
o Cauli, o pequenez encrenqueiro, sabe que o Duque é da sua espécie, apesar de
ter crescido demais.
Assim,
gira a fauna terrestre. Nenhum animal pode dizer que ele é feio ou bonito,
porque ele nunca viu a sua própria cara ou o seu próprio corpo. Como é que o
Duque vai saber que ele é um cão? Mesmo assim, acontece com todos os animais
dessa selva diversificada e abrangente. Agregam-se os animais, por espécies ou
raças, uns aos outros que têm os mesmos interesses e preferências pessoais, se
admiram, se divertem ou se combatem, se
acasalam e formam as suas famílias, ou seus arrastões.
Um
pássaro qualquer, mesmo sem reconhecer a sua identidade, levado do Brasil para a Argélia, encontra lá os seus pares. Eles nunca se viram num espelho e se
identificam com CPF e tudo mais. Falam a mesma língua e se comunicam
livremente, na maior intimidade. Será que eles estão por dentro das
recomendações do grego, Sócrates, (479 – 399) a.C. de “conheça-te a ti mesmo”?
Por
outros caminhos, o ser humano tem espelhos mas dificilmente se conhece. Muitas
vezes se julgam maiores ou menores, mais feios ou bonitos.
Dorian
Grey apunhalou o seu retrato de jovem e de ilustre beleza, de jovem amado por
todos e todas. Não aceitou as transformações que a velhice impôs a seu tipo de
homem admirado. Não aceitou isso. O conhecimento do corpo, do próprio corpo,
causa perplexidade. Eis a verdade do (Gnorízete tó autó), conheça-te a ti
mesmo.
O
espelho não é suficiente e nem eficaz. O que existe, por detrás dessa imagem, a
mente não diz. Eu me vejo assim, mas como os outros me vêem? Há discrepâncias
de percepções que não são contabilizadas. Eu me vejo de uma forma e as pessoas,
em particular, podem me ver de forma diferente do que eu me imagino.
Essa
crueldade de desinformação ainda pode causar maiores danos. Por que motivo o
corpo atrai ou repele interesse de
outros. Como reconhecer os pontos nevrálgicos? E a miss Brasil reconhece o grau
ou nível de atração de seu corpo? Existe uma aura que vagueia sobre a sua
cabeça? Existe um odor, um feromônio envolvendo ou repelindo? Como uma pessoa
pode saber se ela não conhece o seu próprio corpo? Mesmo assim, o corpo fala
mais alto. Mesmo com todos os espelhos da vida, a somatognosia ainda esconde os
seus segredos para si mesma.
Quem sou? Não sou o que gostaria de ser, mas entendo que somente eu posso me fazer feliz. Como sou? Sou forte, meio doce e meio ácido. Em alguns momentos acho que sou fraco. Não quero ser comum e normal. Quero sentir o petricor e cheiro de café passado.Tudo depende de como a gente encara e se impõe.
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