Você
decide! Decide? Quando vai decidir? Dom Quixote decidia na hora. Hamlet está
esperando há quase quinhentos anos.
O tempo passa sibilando pelas
frestas das janelas como o vento e os tufões. E vai embora, desaparece. Enquanto
isso, as pessoas continuam pensando... pensando ou conversando.
E com quem uma pessoa qualquer mais
conversa em sua vida? – Consigo mesma. É um bate-papo silencioso, infindável,
dominador, irresistível.
Assim, surge o “diálogo interno” que
estimula ou inibe ações. São aquelas “vozinhas” silenciosas e sorrateiras que
enredam o pensamento de qualquer um. E arrastam tudo para o tempo perdido.
- Vou comprar uma bicicleta hoje! –
Muito bom! Preciso mesmo fazer exercícios físicos. Gosto de dar um passeio pelas
praças. Gosto de sentir o vento passando pelo meu rosto. Mas...mas... pode ser
perigoso com esse trânsito complicado. Um acidente? Quebrar uma perna?
Hospital? Ficar numa cadeira de rodas a vida inteira? Onde vou poder rodar com
essa bicicleta, com segurança? Meu dinheiro, neste mês, vai dar? Nem sei. Nem
sei. Vou comprar? Não vou comprar? Eis a questão.
Eis a dúvida que chega avassaladora!
E, internamente, domina o raciocínio e as emoções. Questionamentos surgem, com
vantagens e desvantagens. É importante questionar. Tudo muito justo e
necessário, mas há um limite.
E por aí vai esse monólogo interno,
que mais parece um diálogo. Compra não compra? Triste sorte, triste sina dar
ouvidos a essas “vozinhas”, isto é, ao diálogo interno.
Quem vencerá? Ninguém! Todos serão,
em princípio, perdedores, se não houver uma voz forte, tonitruante, ousada,
peremptória, capaz de tomar uma decisão e acabar com essa falação perturbadora.
Cessa tudo! Já está decido! Vou comprar
uma bicicleta!
De outra forma, no dia seguinte,
ressurge a questão da bicicleta. E por aí vai. Pensando, conversando,
dialogando. Até quando?
Há pessoas, que decidem tudo muito
rapidamente. Até com precipitação. Elas possuem um diálogo interno pequeno,
fraco mas, sobretudo, rápido.
Há pessoas, por outra vertente, que
pensam muito, pensam demais, porque têm como característica um diálogo interno
forte, dominador mas, sobretudo, lento.
Na literatura, há constatações de
procedimentos de pessoas assim divergentes.
Imagine-se Dom Quixote: numa ocasião,
ele ouve um grande barulho, tumulto, bater de latas. “É inimigo, vou atacar” –
conclui, antes de analisar, para obter plena certeza sobre o fato e começa a
atirar, a esmo, na direção dessa algazarra. Aí, entra o seu fiel escudeiro,
Sancho Pansa, e o adverte: “Calma, Dom Quixote! Isso é uma banda de música que
está vindo tocar na festa do seu aniversário!” E, ao final, Dom Quixote
lamenta: “Infelizmente, já matei três!”
É isso que dá. Decisão precipitada.
Diálogo interno fraco. Pouco pensamento, muita ação. Tudo rápido demais.
De outra forma, Hamlet, personagem
de Shakespeare, mantém preservada no seu pensamento, uma grande dúvida. Seu
pai, rei da Dinamarca, fora assassinado. Ele, jovem filho primogênito,
subiria ao trono em substituição, pelas vias normais. Entretanto, seu tio, que
estaria envolvido no crime, decidiu casar-se com a rainha viúva, mãe de Hamlet,
logo a seguir. Assim, consequentemente, Hamlet perderia a sua vez, pois o seu
tio assumiria esse trono. Que decisão ou providência deveria Hamlet tomar, em
defesa de seus direitos? Teria que fazer alguma coisa. Teria que abrir um
processo contra o tio, mandar aprisioná-lo se preciso fosse, pois tinha poder
para isso. De outra forma, jamais seria rei da Dinamarca. Eis então a questão:
agir ou não agir? “To be or not to be! There is
the question!” E
o jovem príncipe tinha diálogo interno forte, dominador. Lento demais.
Continuou a luta interna, dialogando consigo mesmo. Há quase quinhentos anos e
nada aconteceu de melhor para ele. Continua esperando? Eis a questão. Nunca foi
rei da Dinamarca.
Assim, diante de uma situação
qualquer, a pessoa tem 50% de possibilidade de acerto e 50% de erro. Se não
tomar nenhuma decisão, terá 100% de erro. Se a pessoa tomar uma decisão, mesmo
que não seja acertada, ainda assim, poderá ter condições de retificar.
Quem decide gerencia. Uma pessoa,
com características de gerente, tem de decidir. Um bom gerente deve ter
raciocínio rápido e visão guestáltica, global. E plena percepção da decisão a
tomar. E decidir! E tem que acertar. Para isso ele existe. Dúvidas? Jamais! Sem
erro!
Depois disso, assumir o que decidiu.
Não adianta mais ficar lastimando pelo resultado. Chorar pra quê? Ninguém gosta
de ver um gerente chorar.
E nada de “talvez!”
Conta-se que um vendedor rodou a
praça em São Paulo e à tarde, retornando, informou: - consegui dois “sim” e dez
“não”. Em BH, de outra feita, rodou também a praça e quando chegou à tarde,
exclamou: - consegui 12 “talvez!” Eis a questão.
Assim, o compositor cubano, Osvaldo
Farrés, (1902 – 1985) lançou ao mundo o seu bolero inesquecível, “Quizás,
Quizás, Quizás!” - (talvez)
-Siempre
que te pregunto/ que, quándo, cómo y dónde/ Tú siempre me respondes/ Quizás,
quizás, quizás.
Y asy
pasan los dias/ Y yo, desesperando/ y tú, tú contestando/ Quizás, quizás,
quizás.
Estás
perdiendo el tiempo/ pensando, pensando/ Por lo que más tu quieras/?Hasta
quando? Hasta quando?
Y asi
pasan los dias/ Y yo, desesperando/ Y tu, tu contestando/ Quizás, quizás,
quizás.
Complementando esse
possível diálogo interno, verificam-se, muitas vezes, opiniões muito
divergentes, como se fossem nascidas de uma reunião de grande porte ou de uma
assembleia interna. Cumpre juntar todas as propostas surgidas e num contexto
quase ecológico de um acordo geral e chegar a uma decisão. A decisão é o alvo.
Sem ela, até os grandes negócios vão por água abaixo.
Belo texto, se encaixou perfeitamente para mim! Obrigado e parabéns!
ResponderExcluirComo sempre, texto questionador e esclarecedor. Continue a nos brindar com sua perspicácia literária. Abraço.
ResponderExcluirDecidir é pensar um pouco e sacar a açõa
ResponderExcluirser ou não ser!
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