sábado, 22 de junho de 2013

TIPOS DE VOZES - SEMIÓTICA IV


Era uma bela figura, até que falou.
As palavras são emolduradas pelas emoções inconscientes e devem ser escolhidas, cultivadas, domesticadas e até mesmo domadas, tal a sua força e a sua expressividade. Elas representam apenas 7% da comunicação. Parece pouco, mas observe o efeito do sal na alimentação.E as vozes, que transportam as palavras, são responsáveis pelos efeitos e pelos resultados, sobrepondo-se aos seus significados, pelo “aliquid pro aliquo”, isto por aquilo. Numa carta, o filho pede: 
“Papai, mande dinheiro!” – Carta que o pai lê, imaginando a tonalidade da voz do filho e se projeta de acordo com o seu próprio estado de espírito no momento. “olhe a agressividade desse garoto!”
Mas, outro garoto telefona para o avô: 
- “Vô, você tem nota de vinte?” 
– “Agora, não tenho. Por que?” 
– “Estou fazendo coleção.”
– “Ah! Agora, só tenho nota de cinquenta.” 
– “Estou fazendo coleção de cinquenta, também.”
Que tipo de voz teria transcorrido este diálogo?
Muitas pessoas pensam que a voz é algo genético e que não se pode mudar. É uma crença frágil. Tanto as pessoas podem mudar a sua própria voz, como podem usá-las em formas diferentes em cada oportunidade da vida. Uma boa voz é fruto de cultivo, além disso, os ouvintes reagem mais de acordo como as palavras soam do que o que elas procuram expressar.Cada pessoa possui uma voz natural que caracteriza os seus traços individuais. Mesmo assim, pode ser adaptada de forma adequada para os diversos momentos especiais.Para efeito de estudo, pode-se classificar assim os diversos tipos de vozes:  
  • VOZ DE OURO – Utilizada nos discursos exaltados, nas locuções em transmissões esportivas, principalmente. É um tipo de voz eloquente, vibrante, em tom alto, procurando convencimento. Nenhum locutor esportivo deixa de usá-la. Caso contrário, pode significar que o jogo transmitido não merece ser ouvido.
  • VOZ DE PRATA – Voz didática, informativa, usada por professores, por locutores de noticiários de rádio ou televisão. Menos emotiva, mas racional. Clareza e precisão.
  • VOZ DE BRONZE – Voz pesada, agressiva, repressiva, crítica, amaldiçoada. Traduz uma reclamação, uma objeção agressiva. Mesmo que seja usada em tom baixo, ela pode, sorrateiramente, transmitir uma repressão. Os filhos sofrem com as reclamações dos pais. Retornam as objeções e justificativas no mesmo tom. Assim iniciam-se as brigas, as polêmicas, as incompreensões. Muitas pessoas não percebem que estão emitindo esse tipo de voz. O resultado aparece de imediato. Bateu, levou. Guerra é guerra. Muitas pessoas não imaginam, também, que a sua voz seja a causa de tantas dissonâncias nos seus relacionamentos pessoais.
  • VOZ DE VELUDO – Voz de carinho, afetividade, amizade. A voz do neto ao telefone, no exemplo de diálogo. “Vô, você tem nota de vinte?” – Imagine-se um pai que fala para a sua filha de dois anos: “Filhinha, me dá um beijo!” Não poderia usar outro tom de voz. Qualquer outro causaria recusa imediata. Por outro lado, um locutor de televisão que anunciasse: “Quem quer dinheiro, minha gente?” – em tom de voz de veludo, não causaria nenhum efeito. Esta frase teria que ser dita em voz de ouro. Eloquente, vibrante. Assim, cada situação comporta um tipo de voz. A voz de veludo é fruto de educação apurada, de sensibilidade, de carinho. Utilizada por pessoas de trato social refinado. Quem quiser respeito e amizade deve utilizá-la com mais freqüência, para recebê-la de volta, contagiando as pessoas a seu redor. Também não custa nada.
  • VOZ CAVERNOSA – É a voz das grandes tragédias. Ameaçadora, tenebrosa, assustadora. Dos tempos de terror, do medo, da assombração. Algumas pessoas têm este tipo de voz, meio rouca, por formação genética. Voz gutural. Podem ser desenvolvidas aptidões com belos resultados. Como o cantor Leonardo Cohen.
  • VOZ AFÔNICA – Sem som agradável e límpido. Algum distúrbio de formação. Rouquidão nasalação, gagueira. Voz fanhosa. A correção da voz merece tratamento com especialistas, visando a melhoria da comunicação. Há também a hipernasalidade e a denasalidade que podem ter causa orgânica. A língua portuguesa tem característica que mais aproxima da nasalidade do que o espanhol, por exemplo, pelo constante emprego do “nh” e do “ão”. 
Curiosidade: Tente ler em voz alta o texto, como teste de hipernasalidade, tampando o nariz com dois dedos:
- “O gato espreguiçou-se e estirou-se sobre o sofá. Paulo, que saía, ao vê-lo, recordou que precisava deixar-lhe água, pois logo precisava sair e a tigela estava vazia.”
Teste de denasalidade, também com o nariz tampado com dois dedos:
Os homens estão sempre descobrindo luas em torno de planetas, distantes em muitos sistemas planetários.  Mas, muitas luas são descobertas em torno de numerosos planetas.”
Nada existe que não possa ser corrigido.
CALIBRAÇÃO – Cada ambiente exige a escolha imediata de um tipo de voz para ser falada. Imagine um velório. Imagine um estádio de futebol. Imagine uma entrevista com o governador. Calibrar o tom de voz com a situação emergente. Algumas pessoas dizem que usam sempre o mesmo tipo de voz natural em qualquer circunstância. Isso pode ser o que essa pessoa pensa ou deseja, mas a realidade é forçosamente outra. Salve-se quem puder.  

3 comentários:

  1. Trabalho completo, graças a seus posts.. difícil encontrar tudo sintetizado.

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  2. falam q minha voz é de gente ignorante.kkkkkkk Agora vou dizer que sou de bronze

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  3. tenho voz calma que legal minha educação foi apurada, sensível.

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